''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

sábado, 29 de agosto de 2009

"A Onda" e as tentações do nazismo


O pequeno fascista que existe em nós


História mostra que há em todo mundo a sombra do pensamento totalitário.


O caso tem base real, pois aconteceu nos Estados Unidos, mas seu desenvolvimento é pura ficção. Uma escola quer mostrar aos alunos as vantagens e desvantagens de determinadas formas de governo e concepções políticas. Um professor de cabeça arejada deseja pegar a turma que iria explorar os pressupostos do anarquismo. Mas a direção da escola o manda dar aulas de autoritarismo. E lá vai ele, com a melhor das intenções e o pressuposto didático de que a maneira correta de combater uma posição indesejável é mostrar quais são as consequências. O propósito é levar um ideário até seu limite.
Partindo desse princípio, o diretor
Dennis Gansel trabalha, de maneira sutil, com as sementes de autoritarismo que existem na cabeça de cada um. Essa disposição pode ser vista como universal. Mas assume forma dramática no país onde se passa a história, a Alemanha, por conta do seu passado recente. Há um preâmbulo necessário. os jovens já não podem nem ouvir falar em nazismo ou Hitler. "Não temos nada com o passado." A despeito disso, a proposta do professor Rainer Wenger é mostrar como ninguém está totalmente vacinado contra idéias totalitárias e como elas criam, como atitude psicológica em indivíduos e grupos e como forma política.
Assim, a natural tendência à associação pode levar a uma radical separação entre quem pertence e quem não pertence ao grupo. A idolatria ao líder e o estabelecimento de limites entre o "fora" e ao "dentro", com a consequente intolerãncia em relação a quem é diferente e não adere ao grupo. Intolerância que pode, no limite, assumir todas as formas possíveis de violência. Isso acontece nas torcidas de futebol, grupos rivais de adolescentes, agrem
iações políticas. No limite, deu no nazismo e no fascismo.
Embora faça um filme de tese, Gansel trabalha com sutileza, sem forçar a barra. Mesmo porqu
e sua fábula moral é a de uma espécie de aprendiz de feiticeiro. Alguém que manipula coisas perigosas, não sabe a hora de parar e chega a fins indesejáveis. O desfecho é ampliado em relação ao que aconteceu na vida real. Dramaticamente, mostra que a democracia e a aceitação da diferença são bens sempre precários, nunca de fato conquistados. A sombra do pensamento autoritário está sempre presente, no fundo de cada um de nós. Basta olhar para o dia a dia e se convencer disso.
Luiz Zanin Oricchio. (O Estado de SP)

O filme “A onda” tem início com o professor de história Rainer Wenger explicando aos seus alunos a atmosfera da Alemanha, em 1930, a ascensão e o genocídio nazista. Os questionamentos dos alunos levam o professor a realizar uma arriscada experiência pedagógica que consiste em reproduzir na sala de aula alguns clichês do nazismo: usariam o slogan “Poder, Disciplina e Superioridade”, um símbolo gráfico para representar “A onda”, etc.
O professor Wenger se declara o líder do movimento da “onda”, exorta a disciplina e faz valer o poder superior do grupo sobre os indivíduos. Os estudantes o obedecem cegamente. A tímida recusa de um aluno o obriga a conviver com ameaças e exclusão do grupo. A escola inteira é envolvida no fanatismo d’A onda, até que um casal de alunos mais consciente alerta ao professor ter perdido o controle da experiência pedagógica que passou ao domínio da realidade cotidiana da comunidade escolar.
O desfecho do filme é dado pelo professor ao desmascarar a ideologia totalitária que sustenta o movimento d’A onda , denuncia aos estudantes o sumiço dos sujeitos críticos diante de poder carismático de um líder e do fanatismo por uma causa.
Embora o filme seja uma metáfora de como surgiu o nazi-fascismo e o poder de seus rituais, pode conscientizar os estudantes sobre o poder doutrinário dos movimentos ideológicos políticos ou religiosos. O uso de slogans, palavras de ordem e a adoração a um suposto “grande líder” se repetem na história da humanidade: aconteceu na Alemanha nazista, na Itália fascista, e também no chamado ‘socialismo real’ da União Soviética, principalmente no período stalinista, na China com a “revolução cultural” promovida por Mao Tsé Tung, na Argentina com Perón, etc. Ainda, recentemente, líderes neo-populistas da América Latina, valendo-se de um discurso tosco anti-americano, conseguem enganar uma parte da esquerda resistente a aprender com a história.
Postei em 27/07 com o tema a Sociologia do Fungo, onde em dois filmes (O leitor e O Homem Bom) há uma tentativa de mostrar o lado humano do adepto ao nazismo. Que às vezes cometem erros não por opção mas por acreditar que está fazendo o certo seguir ou mesmo por uma ideologia. As cenas do quadro são do original de 1981.


Um comentário:

  1. Oi Tânia, assisti esse filme a muito tempo. Gostei muito na época, vou assistir essa nova versão pra ver se é tão boa.
    Muito bom seu blog.
    Bjs

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