''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O erro de Foucault











A revolução do Irã e seu fascínio pelo martírio foram importantes no "último Foucault"
Você sabia que o pensador da nova esquerda Michel Foucault foi um forte simpatizante da revolução fanática iraniana de 1979? Sim, foi sim, apesar de seu séquito na academia gostar de esconder esse "erro de Foucault" a sete chaves.
Fico impressionado quando intelectuais defendem o Irã dizendo que o Estado xiita não é um horror.
O guru Foucault ainda teve a desculpa de que, quando teve seu "orgasmo xiita", após suas visitas ao Irã por duas vezes em 1978, e ao aiatolá Khomeini exilado em Paris também em 1978, ainda não dava tempo para ver no que ia dar aquilo.
Desculpa esfarrapada de qualquer jeito. Como o "gênio" contra os "aparelhos da repressão" não sentiu o cheiro de carne queimada no Irã de então? Acho que ele errou porque no fundo amava o "Eros xiita".
Mas como bem disse meu colega J. P. Coutinho em sua coluna alguns dias atrás nesta Folha, citando por sua vez um colunista de língua inglesa, às vezes é melhor dar o destino de um país na mão do primeiro nome que acharmos na lista telefônica do que nas mãos do corpo docente de algum departamento de ciências humanas. E por quê?
Porque muitos dos nossos colegas acadêmicos são uns irresponsáveis que ficam fazendo a cabeça de seus alunos no sentido de acreditarem cegamente nas bobagens que autores (como Foucault) escrevem em suas alcovas.
No recente caso da USP, como em tantos outros, o fenômeno se repete. O modo como muito desses "estudantes" (muitos deles nem são estudantes de fato, são profissionais de bagunçar o cotidiano da universidade e mais nada) agem, nos faz pensar no tipo de fé "foucaultiana" numa "espiritualidade política contra as tecnologias da repressão".
E onde Foucault encontrou sua inspiração para esse nome chique para fanatismo chamado "espiritualidade política"?
Leiam o excelente volume "Foucault e a Revolução Iraniana", de Janet Afary e Kevin B. Anderson, publicado pela É Realizações, e vocês verão como a revolução xiita do Irã e seu fascínio pelo martírio e pela irracionalidade foram importantes no "último Foucault".
As ciências humanas (das quais faço parte) se caracterizam por sua quase inutilidade prática e, portanto, quase impossibilidade de verificação de resultados.
Esse vazio de critérios de aplicação garante outro tipo de vazio: o vazio de responsabilidade pelo que é passado aos alunos.
Muitos docentes simplesmente "lavam o cérebro" dos alunos usando os "dois caras" que leram no doutorado e que assumem ter descoberto o que é o homem, o mundo, e como reformá-los. Duvide de todo professor que quer reformar o mundo a partir de seu doutorado.
Não é por acaso que alunos e docentes de ciências humanas aderem tão facilmente a manifestações vazias, como a recente da USP, ou a quaisquer outras, como a dos desocupados de Wall Street ou de São Paulo.
Essa crítica ao vazio prático das ciências humanas já foi feita mesmo por sociólogos peso pesado, em momentos distintos, como Edmund Burke, Robert Nisbet e Norbert Elias.
Essa crítica não quer dizer que devemos acabar com as ciências humanas, mas sim que devemos ficar atentos a equívocos causados por essa sua peculiar carência: sua inutilidade prática e, por isso mesmo, como decorrência dessa, um tipo específico de cegueira teórica. Nesse caso, refiro-me ao seu constante equívoco quanto à realidade.
Trocando em miúdos: as ciências humanas e seus "atores sociais" viajam na maionese em meio a seus delírios em sala de aula, tecendo julgamentos (que julgam científicos e racionais) sem nenhuma responsabilidade.
Proponho que da próxima vez que "os indignados sem causa" ocuparem a faculdade de filosofia da USP (ou "FeFeLeCHe", nome horrível!) que sejam trancados lá até que descubram que não são donos do mundo e que a USP (sou um egresso da faculdade de filosofia da USP) não é o quintal de seus delírios.
Agem com a USP não muito diferente da falsa aristocracia política de Brasília: "sequestram" o público a serviço de seus pequenos interesses.
No caso desses "xiitas das ciências humanas", seus pequenos delírios de grande "espiritualidade política".
ponde.folha@uol.com.br

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A revolução dos "bichos grilos" mimados da USP

A revolução dos “bichos grilos” mimados da USP

 José Nêumanne
 O Estado de São Paulo

É proibido fumar maconha na nave da Sé, na rua, nas boates e no câmpus da Universidade



A Universidade de São Paulo (USP) é a maior instituição de ensino superior do Brasil. Com 11 câmpus e 89 mil alunos matriculados, dos quais 50 mil na Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, figura também entre os mais reconhecidos centros de excelência em pesquisa científica e produção de pensamento filosófico do subcontinente latino-americano. No entanto, nenhum de seus mais respeitáveis mestres de Matemática será capaz de explicar de que tipo de legitimidade foram ungidos os 73 vândalos que ocuparam dois prédios – um da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e outro da Reitoria – para merecerem do reitor anistia “administrativa” pelos danos cometidos contra o patrimônio, de propriedade da cidadania brasileira, que sustenta suas atividades de aprendizado. Nem sequer o grego Aristóteles, preceptor de Alexandre, o Grande, encontraria alguma lógica na concessão dada a, digamos, 600 estudantes para decidirem sobre a permanência de jovens turbulentos e estranhos ao expediente nos dois prédios, a pretexto de protestarem contra a presença da Polícia Milita (PM) no câmpus, que consideram “território sagrado” e inviolável..
Quem se depara com a informação de que os invasores dos prédios só admitiam negociar com a Reitoria se os policiais fossem afastados da Cidade Universitária pode ter a falsa ideia de que, de repente, num pesadelo inimaginável, tivéssemos voltado à ditadura, que reprimia a liberdade acadêmica. Nada disso! Entre janeiro e abril deste ano, os roubos no câmpus aumentaram 13 vezes e os atos de violência – entre os quais estupros e sequestros relâmpagos – cresceram 300%. Em maio, um estudante de Economia foi morto num assalto. O sangue dele foi a gota que fez o cálice transbordar e a direção da USP assinar um convênio com a PM para que soldados fizessem o papel que vinha sendo desempenhado por 130 agentes de segurança patrimonial, que, em dois turnos, vigiavam dezenas de prédios e vários estacionamentos e garantiam a segurança de 100 mil pessoas que circulam todo dia pelas ruas da sede da USP. Em quatro meses de policiamento, os furtos de veículos caíram 92,3%; os sequestros relâmpagos, 87,5%; os roubos, 66,7%; e os delitos de lesão corporal, 77,8%.
Tudo corria muito bem até o dia em que policiais militares que patrulhavam as ruas amplas e arborizadas do aprazível local abordaram três alunos que fumavam maconha no prédio da História e da Geografia. Quando tentaram levá-los para o 91.º Distrito Policial (DP) para registrar a ocorrência, os agentes da lei foram atacados por uma horda de cerca de 200 estudantes. Do entrevero resultaram policiais feridos e seis viaturas apedrejadas. Minorias radicais que controlam diretórios acadêmicos e sindicatos de servidores e professores  usaram o incidente como pretexto para um violento protesto contra a presença da polícia “repressora” em “seu” câmpus. Os rebeldes ocuparam um prédio da FFLCH, transformado em QG de sua guerra contra a “neorrepressão”.


A congregação da faculdade cujo prédio foi invadido apoiou a invasão e a reivindicação dos amotinados. Mas, numa demonstração de que, felizmente, é possível estudantes aprenderem certo, mesmo quando seus mestres ensinam errado, a maioria dos alunos aprovou, em duas assembleias, a imediata desocupação dos prédios e o policiamento das ruas. A decisão era de uma sensatez cristalina. Afinal, as únicas prejudicadas com a presença de policiamento no local foram as quadrilhas instaladas nas favelas que cercam a sede da universidade, os quais tiveram reduzidos seus lucros no furto de bens, na sevícia de pessoas e na venda de drogas. A serviço dessas quadrilhas – da mesma forma que as Farc, na Colômbia, se tornaram a guarda pretoriana dos traficantes de cocaína e o crime organizado no México se aliou ao terrorismo internacional patrocinado pelo Irã –, os grupelhos esquerdistas desprezaram a decisão democrática dos colegas, ocuparam a Reitoria e exigiram a retirada da polícia para negociar a retirada.
Ao invadirem os prédios, mascarados, os ativistas da revolução dos filhinhos dos papais da USP mostraram que não tinham vergonha de se comportar como os assaltantes de diligências no Velho Oeste americano. E que contavam com a possibilidade de não ser identificados na hora de terem de pagar por seus crimes. Ao aceitar sua exigência de que os anistiaria desses delitos, o reitor João Grandino Rodas agiu com a pusilanimidade com que habitualmente os administradores universitários enfrentam esses delinquentes.

Desde que a escolha dos reitores passou a ser feita pelo voto de alunos, funcionários e professores, a politicagem vem sendo a moeda de troca que tem permitido esse tipo de baderna, nociva ao livre aprendizado e à pesquisa que a sociedade paga caro para manter em instituições como a USP. Felizmente, contudo, a autoridade policial não precisa dos votos dos baderneiros e fez o que devia ser feito: numa operação espetacular e exemplar, retomou os prédios dos invasores e os levou em ônibus para a delegacia, da qual cada “bicho grilo” mimado só saiu depois de pagar fiança de R$ 545, valor razoável para as famílias de privilegiados de elite que não frequentam aulas que poderiam estar sendo ministradas a filhos de pobres, que pagam as contas da USP e não têm chance de frequentar seus cursos caros e disputados.
O câmpus de qualquer instituição acadêmica é sagrado para a transmissão do saber, não para o consumo de drogas. É proibido fumar maconha na nave da Sé, na rua, em boates e na Cidade Universitária. Os “bichos grilos” mimados que se disseram “torturados” por terem sido levados de ônibus – e não nos carrões dos pais – para a delegacia devem ser fichados como bandidos comuns e expulsos da universidade para outros que querem e precisam estudar recebam a educação que eles desprezam.
Jornalista, escritor e editorialista do Jornal da Tarde
(Publicado na Pág. A02 do Estado de S. Paulo de quarta-feira 9 de novembro de 2011)