''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Revisando 2009!!!

Revisando 2009

Este ano foi um de muito trabalho, “muito mesmo”, com o advento da gripe H1N1 precisei trabalhar aos sábados para repor o adiamento das aulas, e tanto para mim como para meus colegas de magistério foi muito cansativo. Trabalhar sem uma liderança confiável nos deixa à deriva, o segredo é não perder o espírito de equipe. Me lancei a novos desafios e creio que me sai bem.
Na questão cultural eu me superei, nunca assisti a tantos filmes e deles me veio a ideia de criar este blog com minhas “Impressões” e de críticos de filmes, livros, crônicas e tudo o que fosse de meu interesse. Vi filmes maravilhosos, e os tentei resumir numa lista de 10 escolhidos, difícil escolha, vários que me tocaram ficaram de fora, peças teatrais emocionantes e livros maravilhosos.

Esse ano tive muitas alegrias e decepções com pessoas próximas, mas nossa missão é perdoar e seguir em frente. (Como errar é humano... eu perdôo mas não esqueço...contraditório isso...rs) Agreguei à minha vida pessoas maravilhosas e outras que se afastaram naturalmente (seleção natural).
Minhas razões de viver (meus filhos Anderson, Ananda e Holly....) me proporcionaram alegrias, ansiedades, momentos de fúria (acho que todos os pais de adolescentes tem esse momento....)e prazer.
Devido ao trabalho (é mais fácil colocar a culpa nele), acho que não fui a amiga que fui em 2008, não nos encontramos tanto quanto gostaria ou necessitaríamos, a mais frequente foi a Sy com nossos almoços “fast-food” na correria entre uma escola e outra, não pude apoiar minha amiga Becky quando perdeu sua querida Winnie, não conversei o suficiente com a Ana, vi a Andreia uma vez somente numa tarde que não conseguimos ver a Sophie Calle, não troquei ideias suficientes com a Mirian e nem fizemos nossos cursos na Casa do Saber, minhas amigas Cássya e Mazinha que conseguimos nos encontrar para um almoço somente uma vez, Lilian e Fátima que não puderam comparecer ao almoço e portanto não nos vimos esse ano, quantos “nãos...” em 2010 quero muitos “sims”... 

E uma falta gravíssima minha, duas amigas queridas que estiveram esse ano grávidas, tiveram seus bebês lindíssimo (o Arthur) e Isabela e eu não participei nem de sua gravidez (da Verô) e nem fiz uma visita aos quatro. Falta essa que será corrigida nos primeiros dias de 2010!!
Quero tirar a palavra saudade da minha rotina, quero ver todas as minhas amigas queridas muitas vezes esse ano, a palavra saudade vai permanecer somente para uma pessoa especial (minha mãe...).
“Apesar” da intensa carga horária, quero ser “mais” mãe, “mais” amiga, “mais” mulher, “mais” namorada, “mais” amada,“mais” amante, “mais” tia, “mais” professora, “mais” aluna, “mais” filosofa, “mais” Tânia!!! 
Tive momentos "gafe" também... quando fui ao shopping e não notei que estava com sapatos trocados... e ele não poderia deixar passar.. esses celulares com câmeras registram nos ótimos momentos e também nos constrangedores... e aí está o resultado....rs (ainda postarei sobre isso...rs)

Não quero fazer projetos, pois para mim geralmente eles não funcionam... comigo é na hora, é “na louca”, como a viagem pra Buenos Aires, pretendo viajar em 2010 (não sei ainda para onde...) Uma decisão é que nunca mais viajarei sozinha, é muito solitário, muito triste você não ter alguém para dividir a alegria de estar vendo determinada coisa, passar sua impressão sobre tal lugar, e na hora das fotos? Ou você se contenta com paisagens (sem você), ou depende da gentileza das pessoas para que possa estar nelas...
Imagine você na França tirando a foto da torre Eiffel, quem irá acreditar se você nem aparece na foto!!! Rsss

Por isso não quero fazer projeções, quero viver 2010 intensamente, quero aproveitar os doze meses em toda sua plenitude!!
Um grande beijo aos amigos que me acompanharam em 2009 nessa nova aventura que foi o “Impressões”, obrigada aos que sei que lêem mas não comentam, aos que comentam via email e aos que deixam aqui registrados suas opiniões.
Que venha 2010! .....

sábado, 26 de dezembro de 2009

A partida


     Um dos 10 melhores filmes deste ano(na minha modesta opinião).Ganhador do Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" A partida é uma película linda e sensível, rica em simbologia e o respeito às tradições. Um exemplo disso é  a sequência em que o protagonista Daigo Kobayashi, estando às margens de um rio, nos arredores de Yamagata, sua terra natal, observa a persistência dos salmões em nadar contra a corrente até chegar ao encontro com a morte.
     A direção do filme é primorosa, como na cena em que usa a imagem de Daigo tocando o seu violoncelo dos tempos de criança sobreposta à dos campos que circundam a sua região, para simbolizar a tormentosa dúvida em que vive o personagem sobre o possível paradeiro do pai, cuja lembrança, ao decorrer do tempo, sob vários aspectos, por mais que negue, passou a atormentá-lo.
     Para envolver mais o espectador na evolução do tema, difícil,de caráter lúgubre, o diretor soube dosar a narrativa com algumas situações cômicas.
     O filme se inicia em Tóquio, onde Daigo integra uma orquestra sinfônica em dificuldade, que acaba por ser dissolvida. Sem ter como pagar as dívidas, o músico vende o violoncelo e, tendo a concordância da mulher Mika, decide retornar à sua cidade para morar na própria casa, vazia desde que sua mãe morrera, há algum tempo, sem que ele pudesse estar presente aos funerais. E lá consegue um inusitado emprego: torna-se um “nokanshi”, uma espécie de coveiro especial, mestre em lavar e vestir cadáveres. Essa função advém de uma antiga tradição japonesa, de deixar o morto limpo, belo e bem tratado para seu último momento, função antes exercida pelas famílias dos mortos, mas já meio esquecida e agora por conta de profissionais. Com esse emprego, Daigo consegue o dinheiro que estava precisando, mas esconde seu emprego da mulher e amigos, pois tal função é vista como algo vergonhoso e, no início, até ele assim a vê, como algo desprezível, o toque com o dejeto mortal.
     Daigo moldou a sua personalidade pela do pai, Toshiki Kobayashi , que o incentivou, desde criança, a tocar violoncelo e a dar atenção às tradições japonesas, como a da compreensão de mensagens das pedras-cartas. Seus sonhos, porém, foram sempre alimentados pelo lado da música. Quando Kobayashi abandonou a família, a mãe de Daigo teve de montar um pequeno negócio para custear as despesas domésticas e educá-lo.

     É interessante observar como essa mudança na vida do protagonista engloba vários aspectos. É uma volta para a cidade natal, mas, além disso, uma volta para o passado, para o contato com pessoas de outrora e com traumas de outrora – o relacionamento mal resolvido com o pai ressurge de forma decisiva. Essa volta também é uma representação quanto à nova função de Daigo: em um Japão cada vez mais “moderno” e ocidentalizado, ele passa a lidar com uma antiga tradição tipicamente nipônica. Também, paradoxalmente, é uma época de novidade para Daigo, de lidar com a frustração no trabalho, de se adaptar, de refletir sobre sua vida e seu passado, mas também sobre a vida e a morte.







terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O cadáver verde

Luiz Felipe Pondé


Quanto mais rápido entendermos que nosso cadáver é "lixo", melhor, diz o idiota



O QUE a arte tem a ver com o concílio climático de Copenhague? Ao que parece, há algo de ridículo na relação. Vejamos.
Mas, antes, um reparo. Nunca soube desenhar nem uma casinha sequer. Sou um zero à esquerda em arte figurativa. Essa minha incapacidade se transformou num critério (às avessas) para minha avaliação não profissional das artes plásticas: quando olho para um quadro e percebo que conseguiria fazer igual, assumo que aquilo não é arte, mas sim oportunismo estético.
Sim, sei que não sou especialista em história da arte, mas suspeito que muita gente que não sabe desenhar ou pintar nada usa bem a tal "desconstrução das artes plásticas" de gente como Picasso ou Kandinsky para dizer que faz "arte conceitual", mas que, no fundo, se pedirem a ele pra desenhar uma casinha, desenhará uma casinha tão horrível quanto a minha.
Exemplo? Lembro-me bem de uma bienal na qual uma grande tela branca constava como importante exemplo de arte contemporânea. Um "manual de instruções" acompanhava a peça a fim de explicar a nós, "mortais", porque aquilo era arte. Papo-furado.
Mas, e daí? A coisa fica pior quando o artista se faz militante político. E aí chegamos à relação entre arte e Copenhague. E como quase todo artista quer ser mais famoso do que é, uma militanciazinha qualquer ajuda a aparecer. E aí as causas abundam porque o mundo é precário mesmo. Não sei se foi Oscar Wilde quem disse, mas alguém disse que toda poesia sincera é ruim. Faço uso dessas sábias palavras para dizer que toda arte política sincera é péssima.
E por quê? Porque o artista-ativista quer mesmo é aparecer.
Recentemente, lendo a Ilustrada (15/12), topei com uma intrigante matéria sobre o concílio bizantino de Copenhague e a participação de artistas-ativistas (em jejum) contra o aquecimento global. Vale esclarecer para o leitor desavisado que "concílios bizantinos", afora o fato que, em muitos concílios, se discutiu coisa séria acerca dos fundamentos do cristianismo, passaram para a história como símbolos de discussões intermináveis sobre "o sexo dos anjos" e o impacto em nossa vida terrena e eterna caso os anjos tivessem ou não sexo.
Também discutiam, podemos deduzir, se havia apenas anjos ou também anjas, e se gemiam no orgasmo. Se fosse hoje em dia, discutir-se-ia também se há anjos gays e anjas lésbicas.
Repito, sou um herege, não acredito que nós, humanos, aqueçamos o planeta. Mas, em breve, estaremos enterrados em impostos e fiscais por conta dessa nova fé e pagando "carbonos" pra respirar.
Pior: se a coisa pegar (e tudo que significa mais controle pega porque vivemos em épocas totalitárias), teremos fiscais ecológicos em nossos enterros, além, é claro, do "ecocadáver". E aí chegamos aos artistas-ativistas a favor de cadáveres verdes.
O que vem a ser um "ecocadáver" ou um cadáver verde? Um "ecocadáver" é um cadáver que, em vez de ser enterrado ou cremado, deverá ser "congelado em nitrogênio líquido, pulverizado em bilhões de partículas e reintegrado ao solo numa nuvem de poeira orgânica".
O método teria sido desenvolvido por uma sueca. Tá vendo, cara leitora irritada, quando digo que o mundo vai começar a acabar pela Escandinávia? O tédio desses caras nos matará a todos... E se os cientistas-sacerdotes da nova fé descobrirem que será melhor para combater o aquecimento global comermos essas partículas orgânicas? Essa gente entediada costuma comer tudo em que aparece na bula a palavra "orgânico".
Sempre pode ficar pior: para a alegria desses artistas em jejum, essa ecopreocupação com os enterros demonstraria nosso avanço em relação ao "conceito" de restos mortais! Quanto mais rápido entendermos que nossos cadáveres são "lixo" poluente, melhor, diz o idiota ativista.
E assim caminha a humanidade. Nem nossos cadáveres estarão a salvo do tédio e da mania de controle. Na democracia, a opressão é invisível e a repressão cai sobre o detalhe. Tudo bem que Nelson Rodrigues já avisava que os idiotas iriam herdar a Terra, mas será que ele imaginou que nem nossos cadáveres ficariam em paz em seu repouso no pó? Nem o pó será livre.
Não, a civilização não é um bem evidente quando se torna excessiva em suas normas. Logo viveremos na paz dos idiotas, e eles gargalharão. Os comedores de rúcula terão enfim vencido a batalha pelo fim do mundo. Sei lá, só posso imaginar que essa gente está de jejum é de sexo.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A prole do Conde Dracul


Curiosa a persistente popularidade de vampiros entre os jovens. Livros e filmes de vampiros estão entre os mais lidos e vistos pelo público adolescente. Nenhuma explicação sociológica para o fenômeno parece ser mais convincente do que a simples constatação de que vampiro é sexy. Talvez, numa era em que a sexualidade fica cada vez mais precoce e tudo já foi feito, a dentada no pescoço seja vista como a suprema experiência sexual. Ou então – lá vai sociologia – na falta de qualquer coisa em suas vidas que tenha mais de dois ou três anos de tradição, os jovens tenham adotado um dos mais tradicionais terrores da humanidade para ter algum tipo de passado, mesmo fictício. Os vampiros dos livros e filmes são moços na moda, mas pertencem a uma linhagem que vem das sombras da Idade Média. É uma grife milenar.
     A origem histórica de Drácula, o protótipo de todos os vampiros, é o Conde Dracul, um senhor feudal da Transilvânia conhecido por sua crueldade (seu apelido era “O empalador”, manja só). O primeiro vampiro literário foi criado pelo médico John Polidori, que passava o verão de 1816 à beira do lago de Genebra junto com os poetas Lord Byron e Percy Shelley e a namorada deste, Mary Shelley. No mesmo verão famoso Mary Shelley inventou outro monstro, a criatura do dr. Frankenstein. A invenção da Mary Shelley foi um sucesso, mas o vampiro de Polidori foi esquecido, até Brian Stoker criar o seu Drácula. Para o crítico marxista italiano Franco Moretti, os dois monstros  nascidos em Genebra simbolizam horrores opostos. Um, a criatura do dr. Frankenstein, feito de partes de camponeses mortos, dos dejetos do feudalismo, representa uma nova forma de vida. Uma classe sem precedentes, com um poder desconhecido, que chega para aterrorizar a burguesia. Drácula representa a classe senhorial, uma aristocracia feudal em decomposição na qual só restaram os vícios – e o gosto por sugar o sangue dos aldeões. Os dois resumem os temores que dominavam o século XIX, e de um jeito ou de outro ainda dominam o mundo. Existem monstros do Dr. Frankenstein mais ameaçadores do que os milhões de miseráveis sem perspectiva da Terra à espera de uma faísca que os levante? Existem sugadores de sangue mais renitentes do que os do capital financeiro internacional?
     Claro que nada disto tem a ver com os vampiros da moda, hoje. Ouvi dizer que a próxima tendência entre os jovens será a de dentes caninos postiços. Em algum lugar o Conde Drácula deve estar sorrindo, satisfeito com a sua prole.

               Veríssimo

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Budista Light


Luiz Felipe Pondé

O ateísmo é uma conclusão óbvia, não há nenhuma grande inteligência nisso


     O "ASSUNTO Deus" é complicado. Em jantares inteligentes, é mais fácil você confessar que faz sexo com dobermans, prova de que seu gosto ultrapassou formas sexuais conservadoras. Mas, se falar sobre Deus, há risco grave de que não te convidem mais. E aí nunca mais aquela cozinha vietnamita. Melhor se dizer um budista light.
     Mas a mania que muito religioso tem de achar que tudo na vida se deve a Deus (ou similares) é um saco! Isso fala mais de sua preguiça e medo do que de Deus.
     Entendo o bode dos ateus com essa gente. Para mim, essa conversa é semelhante ao papo de que você tem câncer porque não resolveu adequadamente seus conteúdos emocionais. Ora bolas, isso quer dizer que, se todo mundo um dia for feliz, ninguém vai ter câncer? Ou que, pior, além de ter câncer, você é um babaca responsável pelo câncer porque não fez terapia? Conheço gente que se diz ateia (e com isso se acha mais inteligente, como de costume) e acredita nessa baboseira de que o amor cura câncer.
     Mas, desculpe-me, ateísmo é coisa banal. Quando eu tinha oito anos era ateu. O ateísmo é óbvio (por isso comecei a desconfiar dele), diante do lamentável estado da vida: somos uma raça abandonada (Horkheimer). Ateísmo não choca mais ninguém (pelo menos quem já leu uns três livros sérios na vida), porque ateus já são vendidos às dúzias em liquidações. E mais: ser ou não ateu não diz nada acerca de como a pessoa se comporta com os outros (ao contrário do que muitos ateus e não ateus pensam). Existem canalhas de ambos os lados do muro.
     Deus, como se diz em filosofia, "é uma variável sem controle epistemológico", isto é, não se testa Deus em um laboratório.
     Mas, antes, uma pequena heresia.
     Mais chocante hoje é alguém confessar que não crê no aquecimento global, pelo menos na versão que aconteceu nesse espetacular concílio bizantino em Copenhague, reunindo toda a gente legal do mundo.
     Confesso minha fraqueza: sou um herege, não acredito que meu pequeno carro aqueça o planeta, mas já estou pagando mais imposto por isso e tenho certeza de que outros virão. Acho essa história uma mistura de ego inflado (disputamos com o Sol para ver quem aquece mais?) e tédio (que tal salvar o planeta? A vida está tão chata na Dinamarca!). Meu cachorro anda triste? Deve ser o aquecimento global.
     Sei que dizem que é fato científico, mas, para mim, que sou um medieval, só acredito na ciência quando vem no formato de resultados de exames do Fleury ou do Delboni, e não quando tem a ONU no meio e gente ganhando milhares de euros salvando o planeta.
     Para mim, Copenhague foi aquele tipo de concílio onde se discutia se a roupa de Jesus era dele ou não. Temperamentos autoritários gozaram de tesão em Copenhague.
     E o ateísmo? A constatação de que o mundo é péssimo e, por isso, Deus não deve existir é razoável. A primeira vez que isso me ocorreu foi quando descobri que existiam colegas mais felizes do que eu na escola, e aí eu julguei o mundo injusto. Se Deus, como todo mundo me dizia, era bom, por que eu não era o cara mais forte do mundo? Decidi que Deus não existia. Ou não era bom. O ateísmo é uma conclusão óbvia, não há nenhuma grande inteligência nisso. Qualquer golfinho consegue ser ateu.
     Anos mais tarde, fosse eu uma dessas pessoas legais que creem no marketing do bem, concluiria que o mais justo seria que todos fossem igualmente felizes, e aí Deus teria sido democrático. Graças a Deus nunca passei pelo ridículo de pensar assim. Quanto a Deus ser mau, concluí que melhor seria mesmo considerar o universo indiferente e cego e mecanicamente cruel. Naquele dia, tornei-me um trágico (antes de ler Nietzsche ou Darwin).
     Poucos ateus não são descendentes de uma criança infeliz e revoltada (e, veja, 110% das crianças, esses pequenos lindos monstros malvados, são infelizes porque sempre existem crianças mais felizes do que você). A prova disso é que ateus gostam de falar mal da igreja (nunca superaram aquela freira azeda), de Deus (esse malvado que não me fez mais forte), ou do pai judeu (que me obrigou a só namorar judias).Ou acham que, se formos todos ateus, o mundo será melhor. Se você é assim e tem orgulho de ser ateu, você é um rancoroso.
     Quando se deixa de acreditar em Deus, passa-se a acreditar em qualquer besteira (Chesterton): na Natureza, na História, na Ciência, na Dinamarca, em Si Mesmo. Essa última crença, eu acho, é a pior de todas. Coisa de gente cafona.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Quero voltar a confiar

Recebi esse texto a algum tempo de uma amiga, (consta como sendo do Jabor mas já li uma entrevista em que ele diz que nem tudo o que se lê na internet e é atribuído a ele não é de sua autoria),  somente hoje com tempo abri o email, adorei o texto, diz exatamente não somente o que  penso, mas a maioria das pessoas sentem nostalgia de tempos vividos com respeito, paz, tranquilidade... É claro que muitas coisas melhoraram, evoluiram, mas, e a essência do ser? do viver?...
Claro que ainda tenho esperança de que a vida seja diferente, não utópica; mas, ao menos, mais humana.
Espero que gostem do texto... postei uma música do  grupo Creedence que me remete a tempos felizes de minha infância... decerto a de vocês também... Beijos!! Tânia



Quero voltar a Confiar(Arnaldo Jabor)

Fui criado com princípios morais comuns: quando eu era pequeno, mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos ou mais velhos, mais afeto. Inimaginável responder de forma mal educada aos mais velhos, professores ou autoridades… Confiávamos nos adultos porque todos eram pais, mães ou familiares das crianças da nossa rua, do bairro, ou da cidade…

Tínhamos medo apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de terror… Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo que perdemos. Por tudo o que Meus netos um dia enfrentarão. Pelo medo no olhar das crianças, dos jovens, dos velhos e dos adultos.

Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos. Não levar vantagem em tudo significa ser idiota. Pagar dívidas em dia é ser tonto… Anistia para corruptos e sonegadores… O que aconteceu conosco? Professores maltratados nas salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas janelas e portas. Que valores são esses? Automóveis que valem mais que abraços, Filhas querendo uma cirurgia como presente por passar de ano. Celulares nas mochilas de crianças.

O que vais querer em troca de um abraço? A diversão vale mais que um diploma. Uma tela gigante vale mais que uma boa conversa. Mais vale uma maquiagem que um sorvete. Mais vale parecer do que ser… Quando foi que tudo desapareceu ou se tornou ridículo? Quero arrancar as grades da minha janela para poder tocar as flores! Quero me sentar na varanda e dormir com a porta aberta nas noites de verão! Quero a honestidade como motivo de orgulho. Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olhar olho-no-olho.

Quero a vergonha na cara e a solidariedade. Quero a esperança, a alegria, a confiança!Abaixo o “TER”, viva o “SER” E definitivamente bela, como cada amanhecer. E viva o retorno da verdadeira vida, simples como a chuva, limpa como o céu de primavera, leve como a brisa da manhã! Quero ter de volta o meu mundo simples e comum.

Vamos voltar a ser “gente” Onde existam amor, solidariedade e fraternidade como bases. A indignação diante da falta de ética, de moral, de respeito... Construir um mundo melhor, mais justo, mais humano, onde as pessoas respeitem as pessoas. Utopia? Quem sabe?... Precisamos tentar… Quem sabe começando a encaminhar ou transmitindo essa mensagem… Nossos filhos merecem e nossos netos certamente nos agradecerão! 


PS: Como comentei no inicio do texto desconhecia a autoria e constava como sendo do Jabor, segundo comentário que recebi (consta abaixo) o texto chama-se Reflexões de autoria de Sara Maria Binatti dos Anjos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Não foi por querer

     Levados às últimas consequências, quase todos os eventos desagradáveis ou mesmo trágicos podem ser atrubuídos a erro humano, o famoso "errar é humano". Se assim fosse, teríamos que perdoar muitas quedas de avião, engavetamentos fatais e, por que não?, também a morte de criancinhas esquecidas em carros... Tudo ocorre sem querer. Mas as consequências não deixam de existir.
     Por que se erra tanto? Qual é a origem de tantos eros gravos e por que esses comportamentos vão ficando cada vez mais frequentes? Quase sempre não é de propósito mesmo, pois tantas vezes o próprio autor se aleija ou morre em circunstâncias que não me parecem obrigatoriamente comportamentos autodestrutivos ou suicidas.
     Atribui-se a estresse, quebra de rotina, excesso de informações - tudo isso atabalhoando nossa mente e atenção. Isso tudo é verdade. O fato é que o número de erros nesse mundo moderno vem se avolumando e o rol das explicações explica pouco. A tragédia do Rodoanel, os desconfortos trazidos pelo apagão não são provavelmente consequência de uma única desatenção. Com certeza, resultam da somatória de um sem número de pequenas quebras de rotina na vida de cada envolvido. Mas como viver sem rotina? Cotidiano sem rotina é impossível. Cuidar do organismo, por exemplo, é feito de uma série de ações. cuja ordem de entrada em cena depende de cada um. Mas não somos máquina.
     Por que uma mãe amantíssima esquece seu bebê no carro só porque a ordem de suas tarefas diárias foi alterada? Porque estava no automático, e não no alerta. O mesmo vale para o motorista em velocidade na estrada. Cada vez mais distantes de nós mesmos, podemos não perceber às 8h10 da manhã que esquecemos de deixar o bebê às 7h10 na creche. É a distância entre a mente e as sensações que vai ficando cada vez maior e que nos afasta de nós mesmos, tornando-nos meros respondentes apenas aos estímulos presentes na hora da ação. Uma criança que não chora não chama a nossa atenção. E a mãe que estava no trabalho, quão presente está, se ele for monótono?
     Os educadores, pedagogos e psicólogos educacionais precisam cada vez mais focar esse ser só, isolado, sua rotina e a presença disso tudo no fluxo de vida. É precisdo desenvolver exercícios para evitar esses desligamentos, tantas vezes fatais. Se fomos capazes de criar condições e comportamentos próprios à devoção, ao contato com o nirvana, à observação das estrelas, por que não criá-los para adaptar o homem que somos todos nós para viver nesse novo mundo - em que a quantidade de informações, estresse, velocidade, ausências de poder criam tanta tragêdia?
     Por que nós não desenvolvemos recursos educacionais para evitar distrações fatais? Quando o mundo muda, temos que achar outros jeitos. Parar o mundo não dá.
     É preciso educar um homem capaz de eficiência neste mundo, nosso mundo, sem que nos transformemos em máquinas automáticas.
Anna Veronica Mautner.

Para voltar a crer

     Luiz Fernando Veríssimo

Não faltam motivos para descrer da Humanidade. Vamos combinar que fizemos coisas extraordinárias, mas nossa passagem pela Terra não está sendo, exatamente, um sucesso. Para cada catedral erguida bomboardeamos três, para cada civilização vicejante liquidamos quatro, a cada gesto de grandeza correspondem cinco ou seis de baixeja, para cada Gandhi produzimos sete tiranos, Para cada Patrícia Pilar dezessete energúmenos. Inventamos vacinas para salvar a vida de milhões ao mesmo tempo que matamos outros milhões pelo contágio e a fome. Criamos telefones portáteis que funcionam como gravadores, computadores - e às vezes até telefones-, mas ainda temos problema com a coriza nasal. Nosso dia a dia é cheio de pequenas calhordices, dos outros e nossas. Rareiam as razões para confiar no vizinho ao nosso lado, o que dirá do político lá longe, cuja verdadeira natureza muitas vezes só vamos conhecer pela câmera escondida. Somos decididamente uma espécie inconfiável, traiçoeira e mesquinha. E estamos envenenando o planeta, num suicídio lento do qual ninguém escapará. E tudo isso sem falar no racismo, no terrorismo e no Big Brother Brasil.
     Eu tinha desistido de esperar pela nossa regeneração. Ela não viria pela religião, que se transformou em apenas outro ramo de negócios. Nem viria pela revolução, mesmo que se pagasse para o povo ocupar as barricadas. Eu achava que a espécie não tinha jeito, não tinha volta, não tinha salvação. Meu desencanto era total. Só o abandonaria diante de uma prova irregutável de altruísmo e caráter que redimisse a Humanidade. Uma prova de tal tamnho e tal significado que anularia meu ceticismo terminal e restauraria minha esperança no futuro. E esta prova virá neste domingo, se o Grêmio derrotar o Flamengo no Maracanã.

(Aqui peço licença a Verissímo em não terminar seu texto que só irá claro glofiricar o Grêmio, irei é claro "puxar a sardinha" para o meu lado do fogo....
Se o Palmeiras (leia-se Marcos) derrotar o Botafogo, terá somente que torcer contra o Flamengo, Internacional e  para o São Paulo não golear. (coisa fácil nesse na altura do campeonato para conquistar o título...). Tânia.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Arsênico

Luiz Felipe Pondé.

Muitos escravos livres e com dinheiro se apressavam em comprar seus escravos



DEVO ESTAR atravessando um período masoquista. Depois da experiência "2012 retardados", que partilhei com você, caro leitor, na semana passada, no final do feriadão da Consciência Negra assisti na TV a cabo a outro lixo, "O Dia em que a Terra Parou", com Keanu Reeves no papel de um ET. Ele é, claro, melhor do que nós, humanos bárbaros.
Para salvar a Terra, ele deve matar 6 bilhões de pessoas. Mas por quê? Porque nós estamos destruindo o planeta, por isso, devemos morrer para salvar as baleias, as baratas e os sacis. O Keanu-ET é uma espécie de "fundamentalista verde intergaláctico" que, por "ser bonzinho", prefere os percevejos aos humanos.
O ET verde só desiste de nos matar "em nome do bem dos siris" quando provamos pra ele que "yes, we can change" (sim, nós podemos mudar) -mantra obamista. O incrível é que tem gente que acha isso legal: nós somos maus, mas os insetos são dignos de redenção cósmica. Está vendo, caro leitor? A cada minuto nasce um retardado entre nós.
Falando em Consciência Negra, sempre achei essa história do "santo Zumbi" mal contada. O fato é que as mesmas pessoas que criticam as vidas de santos católicos em nome da "verdade histórica" caem na mesma armadilha, produzindo hagiografias (vida de santos) ao sabor de suas próprias manias políticas, como no caso de Zumbi, Lamarca, Che Guevara. Quer saber? Prefiro os santos católicos.
Ouvi dizer que Zumbi tinha seus escravos em meio a sua "Nova Atlântida". Incrível! Já sabia, por fonte segura, que muitos escravos, quando ficavam livres e tinham dinheiro, apressavam-se em comprar também seus escravos. Danadinhos...
Não que eu seja contra o feriado da Consciência Negra, muito pelo contrário, "minha religião" é a favor do maior número possível de feriados, pouco importa em nome da consciência de quem for. Não sou esse tipo de pessoa que discursa contra feriados para fingir que é produtiva. Pelo contrário, quanto mais dias nacionais da preguiça, melhor.
Mas eu dizia que o feriadão não foi de todo perdido para minha pobre alma filosófica. Entre outras coisas boas, li o "LTI - A Linguagem do Terceiro Reich", de Victor Klemperer, (Contraponto). Magnífico, deveria ser lido por toda essa gente com pendores fascistas que anda à solta por aí. Termos como "construção de um novo homem", "nova consciência", "autoestima nacional", "nova cultura", "a força jovem" e "novo futuro" são de raiz fascista. Ouvi e li muitos deles por ocasião da Consciência Negra.
Entre tantas coisas importantes, uma que me chamou atenção foi o fato de que, segundo Klemperer, a linguagem do Terceiro Reich era pobre no que se refere a descrições da natureza humana.
Sei que tem gente que tem alergia a essa expressão, "natureza humana", mas tomem alguma medicação quando ouvi-la, como eu faço quando ouço coisas que me aborrecem por aí, como "construção social de novas subjetividades".
Dentro de sua mania de "redefinir" os significados das palavras, os nazistas descreviam a natureza humana apenas dentro do modelo que lhes era interessante: força, solidariedade coletiva, pureza, saúde, eficácia, fidelidade ao grupo. O efeito desse processo (comparado a doses homeopáticas de arsênico para o espírito do povo alemão da época) era o estreitamento da visão da natureza humana, visando a exclusão das contradições que nos caracterizam. São essas contradições que os retardados não suportam.
Incrivelmente, diz Klemperer, a Alemanha não parecia ter muitos recursos mentais para resistir à concordância em massa com esse empobrecimento da linguagem.
A pergunta é: teríamos nós hoje? A tendência da linguagem a se tornar pobre é sempre presente quando nos lançamos em campanhas que visam a construção social de comportamentos, pouco importa o sistema de governo, porque uma língua empobrecida é uma língua envenenada. O que nos enriquece são nossas contradições, nossos erros. Por isso, sempre serei contra qualquer tentativa de construir um "novo homem"; prefiro o "velho homem" e suas misérias.
Quer um exemplo de contradição? Se Zumbi, depois de sofrer o horror da escravidão e de ter conseguido fugir desse horror, tiver comprado escravos para seu uso, aí sim, ele é um nosso igual, com o mesmo rosto. O nosso rosto. Sombrio, às vezes corajoso, às vezes cruel, sempre imperfeito.

domingo, 29 de novembro de 2009

A noiva Síria



A Noiva Síria
The Syrian Bride, de Eran Riklis, França/Alemanha/Israel,2004 - Cabine

<!--[if !vml]--><!--[endif]-->Muitos são os filmes que têm retratado as disputas entre Israel e Palestina, mas A Noiva Síria se diferencia não apenas pela mudança geográfica do conflito (desta vez localizado na fronteira entre Israel e Síria e envolvendo uma comunidade drusa[1]) como também pela atenção e carinho despendidos na construção de suas personagens.

Neste novo filme do israelense Eran Riklis, baseado no roteiro da palestina Suha Arraf, antes dos grandes conflitos geopolíticos, existem os pequenos dramas pessoais. As personagens de Riklis não são meros fantoches para ilustrar a tensão no Oriente Médio, mas possuem vidas e dilemas próprios. Emulando a batalha de seus próprios países, as personagens de A Noiva Síria – em especial as mulheres, foco principal do filme – lutam também elas para lidarem com as barreiras que lhes foram impostas. Assim, Mona, a noiva do título, luta para superar a burocracia kafkiana que a impede de concretizar seu casamento, sua irmã Amal (interpretada por Hiam Abbass, conhecida do público brasileiro por suas atuações em Munique, Free Zone e Paradise Now e Lemon Tree) esforça-se para vencer o preconceito de seu marido e da sociedade para poder prosseguir com seus estudos enquanto sua filha enfrenta o pai em nome de uma paixão adolescente.

Obviamente a situação sócio-política da região não serve apenas como pano de fundo para o enredo, mas entrelaça-se, invade e interfere na vida dessas personagens. Isso se nota desde a primeira seqüência do filme, onde Mona, já com seu vestido de noiva, caminha pelas ruas do bairro repletas de bandeiras negras, luto pela morte do presidente sírio, e se prolongará ao longo do filme, nas diversas dificuldades criadas em torno de seu casamento em função de sua situação peculiar: apesar de serem ambos drusos, a noiva vive nas colinas de Golã, território ocupado por Israel desde 1967, enquanto o noivo mora na Síria, fazendo com que o casamento deva ser realizado em território neutro, na fronteira entre os dois países e sob a supervisão da Cruz Vermelha.

Por vezes, a multiplicidade de histórias paralelas e a complexidade da situação vivida pelas personagens torna o filme um pouco confuso e faz com que algumas histórias não sejam satisfatoriamente desenvolvidas (como no caso do relacionamento entre uma francesa voluntária da Cruz Vermelha e o irmão galanteador da noiva), mas a simpatia que o filme reserva a todas as suas personagens, recusando-se a estigmatizar vilões ou vítimas, acaba por compensar essas deficiências.

Ao final, Riklis aposta na perseverança e coragem individual como uma possível saída para os impasses gerados pelas políticas equivocadas no Oriente Médio. Sem pretensões de ser um retrato definitivo dos impasses da região, A Noiva Síria consegue misturar conflitos pessoais, políticos e culturais sem tornar-se didático ou enfadonho e, ao mesmo tempo, sem deixar de dar o devido peso e importância a uma questão tão complexa.

[1] Os drusos são uma comunidade sem pátria (vivem principalmente no Líbano, Israel, Síria e Jordânia), não são considerados muçulmanos nem cristãos (embora sua religião seja influenciada por ambas) e, devido às perseguições religiosas que já sofreram, costumam dissimular sua própria origem (assumindo a religião dos locais onde vivem e mantendo suas próprias convicções em segredo).

By Leonardo Mecchie

http://www.youtube.com/watch?v=AJSKrySkX74

A cultura de países do Oriente Médio parece ser um mistério, às vezes. Como um povo inteiro pode não ter nacionalidade? Como uma mulher é capaz de se casar com alguém que nunca tocou e, além de tudo, aceitar nunca mais ver sua família por conta da união? Como um simples carimbo pode atrapalhar a vida de tantas pessoas? São essas as questões que permeiam A Noiva Síria .
Esse filme me foi indicado por um amigo na ocasião em que postei sobre Lemon Tree, somente hoje tive oportunidade de assistir. A direção e muitos dos atores são os mesmos de Lemon, assim como o tema, a discórdia no Oriente Médio.

Usando um casamento arranjado como ilustração dos absurdos criados pelas tensões étnicas da região, "A Noiva Síria" consegue divertir o espectador, ao mesmo tempo em que o comove.

A Noiva Síria discute, também, o papel das mulheres dentro dessa sociedade. Renegadas a segundo plano, casam-se com quem a família escolher, não têm direito a estudo, muito menos voz político-social. De uma forma leve, um tanto quanto triste – afinal, ver uma noiva que nunca sorri não é nada feliz -, a produção apresenta a situação tanto dos moradores de Majdal Shams quanto das mulheres no Oriente Médio, em geral, de uma forma que passa longe do panfletário, dando leveza à comédia dramática.

Ao mesmo tempo em que ela está triste por não poder mais ver sua família, Mona deseja mudar de vida completamente e é isso que o casamento significa para ela. Na fronteira, juntam-se a família, a polícia – atrás do pai de Mona, que não poderia estar ali por causa da liberdade condicional -, o funcionário do governo responsável pelo casamento (que em nada difere de funcionários públicos brasileiros, o que é engraçado de observar), os policiais que vigiam a fronteira, funcionárias da ONU (Organização das Nações Unidas) e a família do noivo.

Boa parte da história acontece literalmente na fronteira entre Síria e Israel: a região das Colinas de Golan, onde os drusos vivem sob domínio israelense há anos.

Ali, Mona se prepara para o casamento arranjado com seu primo Tallel , um ator de sitcom da televisão síria que ela não conhece pessoalmente.

Infelizmente, há um probleminha: a partir do momento em que atravessar a fronteira para unir-se a seu marido, ela não será autorizada a retornar a seu povoado natal e não poderá mais ver sua família.

Um grande elenco de personagens se mistura à situação, incluindo o irmão mais velho de Mona, Hattem, que incorreu na ira de seu pai, anos atrás, ao abandonar a família para casar-se com uma médica russa; e seu irmão mais jovem, Marwan, um empresário não inteiramente honesto que hoje vive na Itália.

Também aparecem sua irmã mais velha, Amal, de tendências feministas e mãe de duas filhas, (Moderna demais para a tradicional aldeia, ela luta para ingressar na faculdade agora que suas filhas estão crescidas. Para ela, nunca mais ver a irmã mais jovem é doloroso demais); o marido desta, Amin, que rejeita as tendências liberais da esposa, e, finalmente, o patriarca da família, Hammed, um ativista árabe.

Uma funcionária da Cruz Vermelha, Jeanne, faz o possível para tentar ajudar a facilitar todos os trâmites complicados, sem muito sucesso.

Equilibrando-se com habilidade entre drama familiar, farsa bem-humorada e comentário político, o filme nunca perde o rumo, apesar da complexidade do palco em que a ação acontece, e consegue infundir à história tanto humor quanto drama genuíno. Mona segue para seu casamento em meio a uma manifestação política entre os brados de “Sacrificar o próprio sangue em nome nacional! Com honra e com sangue lutamos por Golan, União e patriotismo Golan é da Síria”. Com seu pai sendo um dos líderes da passeada e com a ameaça de ser preso por estar em liberdade condicional por motivos políticos.

Com seu grande número de personagens retratados com profundidade e simpatia (e representados à perfeição pelo elenco), "A Noiva Síria" realiza uma proeza rara: fundir o pessoal e o político de maneira perfeitamente afinada.

Espero que gostem da indicação.

Beijos a todos! Tânia.


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Bom comportamento


O governo Lula pode parafrasear o Chico Buarque e cantar a oposição Você não gosta de mim mas "The Economist" gosta. Há no reconhecimento da revista um desagravo retroativo ao PT recém-eleito, que assustava com a promessa implícita de mudar tudo na economia, correr com o neoliberalismo, desprivatizar o que tinha sido privatizado e confiscar a prataria. Os 800 mil empresários que, segundo uma previsão da época, fugiriam desse caos hoje devem estar se congratulando por terem esperado um pouquinho. O monstro não era um monstro, afinal. O monstro tinha a cara do Palocci e era social democrata como todo o mundo. O Brasil não só não afundou como, segundo a imprensa internacional, foi quem melhor soube boiar, na crise.
Mas aprovação da Economist é, um pouco, como abraço do Ahmadinejad.
Pode ser conveniente e bom para a reputação ou constrangedor e estigmatizante, dependendo dos circuitos em que se anda. Você tanto pode achar formidável um governo do PT ser elogiado como um exemplo de conservadorismo responsável quanto achar estranho um governo do PT( logo do PT) ser chamado por uma das principais publicações do capitalismo mundial de exemplo de conservadorismo responsável. Em certos círculos do PT, a pergunta que está sendo feita deve ser: o que nós fizemos de errado para merecer tamanha honra? É como receber um 10 por bom comportamento quando a reputação que se quer é a de bagunceiro. Imagino que tenha gente pensando em processar The Economist pela reportagem difamante.
Na capa da Economist com o título Brazil takes off (o Brasil decola), o Cristo Redentor aparece subindo como um foguete para alturas ainda incalculáveis, um símbolo da nova realidade no País. No filme 2012, o Cristo aparece desmoronando, no fim do mundo. De acordo com o filme e com as profecias, o Brasil só terá dois anos para aproveitar sua boa fortuna. Ao menos um alento para a Oposição.

*** Post-scriptum. Nunca se soube muito bem quem era o pai que não gostava do Chico, mas a filha gostava. O próprio Chico negou que fosse o presidente Geisel, cuja filha era fã do cantor. Segundo outra história, ao ser preso durante a ditadura, o Chico teve que distribuir autográfos para as filhas dos agentes que o acompanhavam - ainda no elevador.
Luiz Fernando Veríssimo (Estadão 26/11/09)


Jorge Maravilha Chico Buarque
E nada como um tempo após um contratempo
Pro meu coração
E não vale a pena ficar, apenas ficar
Chorando, resmungando, até quando, não, não, não

E como já dizia Jorge Maravilha
Prenhe de razão
Mais vale uma filha na mão
Do que dois pais voando

Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
Ela gosta do tango, do dengo, do mengo, domingo e de cócega
Ela pega e me pisca, belisca, petisca, me arrisca e me enrosca
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta

E nada como um dia após o outro dia
Pro meu coração
E não vale a pena ficar, apenas ficar
Chorando, resmungando até quando, não, não, não

E como já dizia Jorge Maravilha
Prenhe de razão
Mais vale uma filha na mão do que dois pais sobrevoando

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mulher madura

Uma pequena
homena-
gem
a mim,
e a todas
as mulheres
com mais
de 40, 50, 60...
A mulher madura, não pega ela TOCA.
... não come, ela se ALIMENTA.
... não provoca, ela já é PROVOCANTE.
... não é inteligente, ela é SÁBIA.

... não se insinua,
ela é mostra o caminho SUTILMENTE.
... não se precipita, ela espera o MOMENTO CERTO,
... não nada, ela NAVEGA.
... não voa, ela FLUTUA.
... não pensa em quantidade, ela prefere QUALIDADE.
... não vê, ela OBSERVA.
... não deita, ela ADORMECE.
... não é pretenciosa, ela simplesmente SE GOSTA.

... não julga, ela ANALISA.
... não compara, ela ASSIMILA.
... não consola, ela ACALENTA.

... não acorda, ela DESPERTA.
... não coloca algemas, ela os deixa LIVRES.
... não enfeitiça, ela ENCANTA.

...não é decidida, ela apenas SABE O QUE QUER.

... não é exigente, ela é SELETIVA.
... não se sente velha, ela se considera EXPERIENTE.
... não se lamenta, ela tenta fazer DIFERENTE.
... não tem medo, ela tem RECEIOS.
... não faz juras, ela deixa por CONTA DO TEMPO.

... não tira conclusões, ela faz SUPOSIÇÕES.
... "não desce do salto", ela tem "JOGO DE CINTURA".

... não brilha, ela é ILUMINADA.
... não dá tchau, ela ACENA.
... não gosta de ser vigiada, ela prefere ser ESCOLTADA.
... não é moderna, ela é ELEGANTE.
... não quer ser cobiçada, ela prefere ser DESEJADA.
... não possui sonhos, ela tem PERCEPÇÃO.
... não faz sexo, ela é MESTRE NA ARTE DE AMAR.
... não fica, se ENVOLVE.

... não é fácil, ela é FLEXÍVEL.
... não manda, ela ADMINISTRA.

... não aflora, ela é um CONSTANTE FLORESCER.

Enfim, a mulher madura é um conjunto de todas as belezas possíveis.

Mulher
sensível, mas ao mesmo tempo uma verdadeira guerreira, é forte, mas feminina, porém, muitos não possuem sensibilidade para perceber tal beleza, mas aqueles que descobrem... preferem morrer nos braços dessa tal mulher, que não é DOCE, mas que simplesmente é puro MEL.

Esse lindíssimo texto é atribuido a Vanessa Pena.






segunda-feira, 16 de novembro de 2009

As razões do sexo




Entre as pernas de uma mulher suspensas no ar, apenas boas emoções nos esperam


Luiz Felipe Pondé
(Folha de SP 16/11¹09)

A CARA leitora já sabe que não sou um apreciador do feminismo. Acho-o excessivo, mas não desnecessário. Sim, existem dimensões da sociedade que pedem um combate contra maus hábitos. É um absurdo, por exemplo, mulheres ganharem menor salário pela mesma função, serem obrigadas a viver com canalhas ou terem os estudos e a vida profissional negados.
Mas, nos últimos anos, o feminismo tem prestado um grande desserviço às mulheres, estimulando nelas ressentimento e solidão, e levando-as a enganos, como, por exemplo, afirmando coisas irreais como a não importância da maternidade para a maioria esmagadora das mulheres.
No campo dos afetos e das relações, a ideologização maníaca de tudo por parte das feministas só atrapalha a já difícil vida a dois. Essa mania se traduz na ideia de que, em toda parte, tudo seja poder e opressão. A vida sexual tem razões que a própria razão desconhece.
Deve mesmo ser um saco ter que aturar chatos que se acham no direito de invadir sua privacidade com convites idiotas. Mas, afinal, como saber quando você é ou não um idiota? Não é tão óbvio assim, porque, quando estamos interessados numa mulher, sempre ficamos um tanto idiotas. Pela sua beleza, por seu charme, seu mistério e, acima de tudo, suas pernas.
Uma prova dos excessos do feminismo são movimentos políticos que beiram a afirmação de que uma mulher plenamente emancipada tem que ser homossexual. Tudo bem, "cada um é cada um", mas essa pregação é uma coisa de ressentida mesmo.
Uma das coisas que me fascina nas mulheres é o fato de que não as entendo. Nessa "maldição" da diferença partilhada reside o exercício contínuo da transcendência que marca a condição heterossexual.
Amigas minhas de bem com a vida e sem ressentimentos não perdem um minuto de suas vidas com esse rancor feminista. Falo daquele tipo de mulher que sabe que um homem que gosta de mulheres vive constantemente sob o poder do desejo feminino. O melhor argumento a favor da emancipação feminina, do ponto de vista masculino, é ter mulheres como colegas de trabalho. Tudo fica melhor, mais leve, mais encantador.
Recentemente ouvi dizer que, numa feira de livros em algum Estado do Brasil, fizeram marcadores de livros, totens e camisetas com a imagem de uma mulher com as pernas para o ar, com meia-calça (espero que com sandálias de salto alto), e um texto que dizia algo assim: "Aqui tem sempre uma emoção esperando você".
Para um apreciador do sexo feminino, a imagem é perfeita. Entre as pernas de uma mulher suspensas no ar, apenas boas emoções nos esperam. Por exemplo, ser recebido por moças bonitas em feiras melhora o dia e nos faz pensar, por breves minutos, que a vida sim faz sentido. A voz, a silhueta, o cheiro, cada gesto do corpo parecem indicar a evidência de que os criacionistas têm razão: o acaso cego não saberia fazer tamanha maravilha viva. Num bar, depois de algumas cervejas, essa é uma prova cabal da existência de Deus. E mais: um erro comum é supor que os homens só se interessam pelo corpo das mulheres. Não, o corpo deve vir acompanhado de acessórios indispensáveis: a alma, as ideias, a conversa, a roupa.
Também sei que muitas dessas minhas amigas de bem com a vida riem da ira contra coisas assim. Elas pensam que uma ação de marketing como essa pode até ser interessante na medida em que facilita a conversa, dando a "deixa" necessária para uma noite divertida, após um dia "boring" (entediante) nesse tipo de evento.
Erra quem supõe que a erotização deva ser banida da vida profissional. Em determinados locais de trabalho, um certo grau de erotização contribui para a produtividade, dando uma "cor" ao cotidiano, que sempre tende ao preto e branco.
Sim, minha cara leitora, quando homens falam de mulheres a sério, o fazem sempre pensando em vocês como objeto. O mesmo acontece quando são mulheres conversando entre si: somos nós o objeto. Ainda bem. E por que seria diferente?
Mas devo confessar que reconheço o risco de falta de educação quando, em eventos de trabalho, imagens de mulheres são utilizadas de modo ostensivo. Lembro-me de uma vez, em outro Estado, quando, numa palestra, o conferencista terminou com a imagem virtual de uma mulher nua, inclinada sobre uma pia, fazendo movimentos insinuantes. Achei isso o fim da picada. Do meu lado, estava uma colega de trabalho. Pedi desculpa a ela por tamanha estupidez.

domingo, 15 de novembro de 2009

O Pagador de Promessas


Filme premiadissímo em Cannes em 1962 (Único filme brasileiro a ganhar esse prêmio). Uma obra-prima da literatura brasileira com o brilhantismo de Leonardo Villar e Glória Menezes comom protagonistas. Outro filme que vale a pena ver.A peça de Dias Gomes tem nítidos propósitos de evidenciar certas questões sócio-culturais da vida brasileira, em detrimento do aprofundamento psicológico de seus personagens. Assim, ganha força no drama a visão crítica quanto:

a) à intolerância da Igreja católica, personificada no autoritarismo do Padre Olavo, e na insensibilidade do Monsenhor convocado a resolver o problema;

b) à incapacidade das autoridades que representam o Estado - no episódio, a polícia - de lidar com questões multiculturais, transformando um caso de diferença cultural em um caso policial;

c) à voracidade inescrupulosa da imprensa, simbolizada no Repórter, um perfeito mau-caráter, completamente desinteressado no drama do protagonista, mas muito interessado na repercussão que a história pode ter;

d) ao grande fosso que separa, ainda, o Brasil urbano do Brasil rural: Zé do Burro não consegue compreender por que lhe tentam impedir de cumprir sua promessa; os padres, a polícia, a imprensa não conseguem compreender quem é Zé do Burro, sua origem ingênua, com outros códigos culturais, outras posturas. Além disso, a peça mostra as variadas facetas populares: o gigolô esperto, a vendedora de quitutes, o poeta improvisador, os capoeiristas. O final simbólico aponta em duas direções. Em primeiro lugar a morte do Zé do Burro mostra-se com fim inevitável para o choque cultural violento que se opera na peça: ninguém, entre as autoridades da cidade grande, é capaz de assimilar o sincretismo religioso tão característico de grandes camadas sociais no Brasil, especialmente no interior nordestino. Em segundo lugar, a entrada dos capoeiristas na igreja, carregando a cruz com o corpo, sinaliza para rechaçar a inutilidade daquela morte: os populares compreenderam o gesto de Zé do Burro.
Espero que gostem da dica. Beijos a todos.
Tânia


Interessante retrato da miscegenação religiosa brasileira, "O Pagador de Promessas" tem em sua maior preocupação destacar a sincera ingenuidade e devoção do povo, em oposição a burocratização imposta pelo próprio sistema católico em sua organização interior. "Zé do burro", um homem simples do campo trata de cumprir sua promessa (ou tentar) após ter tido Nicolau, seu burro, curado devido a promessa feita a Santa Bárbara. O que deveria ser um simples ato de fé toma proporções gigantescas quando Zé é barrado pelo vigário local, que o impede de entrar na igreja carregando a cruz que havia prometido.
Os interesses locais então se voltam para o pequeno caso, e cada segmento social da cidade quer tomar partido da situação da forma que puder. Os jornalistas se interessam pelo caso levantando a bandeira de partirem em defesa da "liberdade de expressão" que o vigário estaria colocando em jogo, ou pelo menos pretendem parecer estar fazendo isso, mas na verdade, como é colocado na primeira cena que se dá dentro da redação do jornal eles precisam de notícias que façam dinheiro, e não de notícias de qualidade. O texto de Dias Gomes é, nesse ponto, direto e até

um tanto quanto maniqueísta, as intenções são desmascaradas demais, não há sutileza nas palavras dos oportunistas, o que da a tudo uma leve obviedade. Nem os clérigos, que exigem de Zé uma "retificação" de sua promessa vem com meias palavras em seus discursos sobre como o evento pode alterar e afetar a estrutura interna (ao fazer uma concessão e deixar Zé cumprir sua promessa) e a visão política externa que se tem da igreja: eles sabem que se trata de um acontecimento com repercussão social e é apenas isso que lhes interessa, não a genuina devoção de Zé e seu ato. Políticos se aproximam dele pedindo apoio, mães de santo defendem-no como representante do candomblé, até mesmo o contador de histórias oferece seus talentos como proseador para imortalizar a história, do seu ponto de vista. Ele passa a ser visto como santo e mártir, e ao mesmo tempo é um infiel para igreja e um criminoso arruaceiro para polícia. Cada instituição passa a legitimar sua presença, ou condena-la, da forma que lhe cabe, Zé passa a ser um exemplo dos excluídos sociais e tem a ele agregado o ideal de injustiça e liberdade desejado pelo povo, é associado a "revolução" social, a "reforma agrária" e classificado como "comunista" sem ao menos ter idéia do que são estes conceitos tão alienígenas ao seu universo. Temos que os grupos sociais passam a projetar nele suas perspectivas e crenças, ele deixa de ser um indivíduo para tornar-se um ícone, maleável de acordo com os interesses de quem se aproxima e defende suas teses usando Zé como exemplo. Ele deixa de ser um homem com um propósito pessoal na situação em que se colocou, pois passa a ser colocado pelo meio em que está. Martirizado, ele torna-se o novo Cristo local, e através de sua morte é imortalizado como ícone, sem conseguir simplesmente pagar a sua promessa.
Mas é isso que interessa a Dias Gomes e Anselmo Duarte: a devoção sincera e ingênua de um povo que desconhece as raízes históricas e sociais de seus cultos, e transforma tudo em um amálgama eficaz de crenças que se inter-relacionam em harmonia, a despeito de suas origens históricas, sociais, geográficas e culturais divergentes. O povo tudo adapta, e o povo brasileiro cria sua cultura a partir desses elementos heterogêneos. Não importa se no candomblé Santa Bárbara chama-se Iansã, se a promessa foi feita em um terreiro e está sendo entregue em uma igreja, se Zé carrega nas costas uma cruz no interior da Bahia enquanto Cristo o fez a 2000 anos atrás em Jerusalém. A sinceridade com que o povo cria o seu meio, a suas crenças e como isso se reflete de forma concreta em seus atos é o que interessa a Gomes. A pureza desses atos e da mentalidade simples desse povo entram em conflito direto com a complicada hierarquização e politicagem da igreja católica organizada, que não faz sentido e tampouco interessa a esse povo.
O filme conta com uma produção técnica excelente, apoiada pela fotografia de Chick Fowle (alguns ângulos de câmera como a igreja de cabeça para baixo ao final e a visão de Zé sentado a escadaria sendo filmado através das grades, preso a situação em que está, mostram alguns toques especiais), edição concisa de Carlos Coimbra e excelente e segura direção de Anselmo Duarte, um estreante, faz excepcional trabalho com os atores (destacam-se Leonardo Vilar, passando toda a humildade e sinceridade de Zé e Glória Menezes como sua companheira aflita, assim como Norma Bengell que passa grande credibilidade retratando uma personagem instável e difícil) e consegue um gradual desenvolvimento da narrativa até o clímax final, que se fecha de forma densa e sublime.

Joaquim Guirotti é cineasta, formado em Cinema pela FAAP.