''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Gays, evangélicos e política


FERNANDO DE BARROS E SILVA
(Editorial de Folha de São Paulo 27.06.2011)
Gays, evangélicos e política

SÃO PAULO - Uma "parada" e uma "marcha". A primeira, "Gay"; a segunda, "para Jesus". Ambas ocorreram num intervalo de três dias, em São Paulo, e contam seus participantes na casa dos milhões. São os dois maiores eventos de massa do país, manifestações de força e de organização coletiva numa sociedade com baixa capacidade de mobilização popular e muito pouco interesse pela política.
A Parada Gay e a Marcha para Jesus têm mais ou menos a mesma idade. Ganharam visibilidade no país em meados dos anos 1990. Embora sejam eventos globais, com inserção em várias cidades, é em São Paulo que elas de fato acontecem.
São o sagrado e o profano, a expressão ritualística ou carnavalizada da afirmação de valores e de direitos de grupos sociais. Neste ano, mais do que nunca, evangélicos e gays & simpatizantes disputaram um cabo de guerra, uma peleja entre o atraso e a vanguarda em matéria de costumes. Ambos, porém, são fenômenos contemporâneos. O embate entre eles desenha uma dialética entre regressão e avanço social no Brasil.
Conservadores e intolerantes, os adeptos de Jesus investiram contra a decisão recente do STF, que reconheceu a união civil de casais gays. "O verdadeiro Supremo é Deus", dizia na marcha um senador da República. Os homossexuais, por sua vez, usaram ontem um mandamento cristão -"Amai-vos uns aos outros"- como bordão para combater essa mesma intolerância.
Ontem, em artigo na Folha, o diplomata Alexandre Vidal Porto dizia que, em respeito às vítimas da homofobia (e para combatê-la), o "peso do discurso político" na parada devia ser maior que "a vontade de dançar". Pedia uma descarnavalização do ato em benefício de uma visão menos estereotipada e caricata dos homossexuais. Faz sentido. É sintomático do conservadorismo brasileiro que a politização dessa questão tenha sido pautada por uma decisão do STF, à revelia do Congresso e do Executivo.

sábado, 25 de junho de 2011

Mudar

 Peguei o sábado pra fazer uma "faxina" numa papelada que vou acumulando nem sei porque. Dentre eles encontrei dois livros que evangélicos que me deram (vai ver pensaram que eu necessitasse...rs), confesso que não os lerei, mas os guardarei por respeito aos que me presentearam... e uma preciosidade, esse texto que transcrevo abaixo, ganhei ano passado por ocasião do dia dos professores, guardei por acha-lo bonito e sabia que numa ocasião propícia iria publicá-lo no blog. Espero que gostem...
Beijos à todos!! Bom final de semana!!!


                      (Ato de coragem).....


” Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa.

Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama…
depois, procure dormir em outras camas.

Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais…
leia outros livros,
Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.

Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.

Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado…
outra marca de sabonete,
outro creme dental…
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.

Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem
despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda !

Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!!!!  “

Edson Marques

sexta-feira, 24 de junho de 2011

sábado, 18 de junho de 2011

Dois filmes maravilhosos "Minhas Tardes com Margheritte e Meia-noite em Paris

     Dois finais de semana consecutivos finalmente tirei o dia dedicado a uma pessoa... "euzinha"...(semana passada) fiz uma massagem com pedras quentes, almocei com uma amiga e fui ao cinema ver "Minhas Tardes com Margheritte"...
     


O filme atende ao requisito básico: ensinar o respeito ao idoso. O quarentão Germain (Gérard Depardieu) é um feirante. Mora no quintal de  sua mãe, num trailer, relaciona-se com uma mulher mais nova, motorista de ônibus, e bebe com os amigos de trabalho. Durante suas folgas, Germain se senta em uma praça para comer um sanduíche, e numa dessas conhece a nonagenária Margueritte (Gisèle Casadesus). É ela que, pela literatura de Albert Camus e Romain Gary, todas as tardes, ensina Germain a ser menos tosco.

      Na prática, porém, o supletivo de Margueritte afasta Germain da realidade que ele conhecia - os imigrantes que compõem a mão de obra barata da França - e ainda associa essa realidade aos problemas do mundo (o horror dos noticiários da TV na casa da mãe, por exemplo).
     Por meio de uma série de flashbacks,é mostrado a infância difícil de Germain. Além de ser constantemente humilhado por um professor, é tratado com desdém e violência pela mãe. Apesar disso Germain é um sujeito boa praça e meio atrapalhado. O filme mostra bem as definições de alfabetização e letramento tão comentadas hoje em dia, em que a pessoa pode ser letrada sem necessariamente ser alfabetizada.
     Hoje sabadão lindo de sol, fui tomar um hiper café da manhã com meu filhote (estava com dor na consciência por ter ido durante a semana tomar sopa com a Ananda e ele na faculdade...).
    Após me propus ir ao shopping ver o que passava (milagrosamente) um filme bom na programação...


     O filme de Woody Allen questiona nostalgia e  mortalidade e retoma fôlego da juventude em ode à Paris dos anos 20.  Minha impressão é que Woody quiz homenagear a "cidade luz" assim como fez com seu filme "Manhattan". A película é uma grata surpresa ao vermos aparecer na tela Cole Porter, Ernest Hemingway, Gertrude Stain, Zelda e Scott Fitzgerald, Salvador Dalí, Picasso, Luís Bruñuel, Man Ray, TS Eliot e muitos outros personagens da Belle Époque. E também a Primeira Dama Francesa Carla Bruni como uma guia turística.
     Sem entrar na questão de se o que acontece é realidade ou não (na verdade, não importa) o filme retrata a Epoca de Ouro de Paris, segundo os personagens cada um tem sua "epoca", Gil o personagem de Owen Wilson (que foi uma bela surpresa pra mim... já que só o vejo em papeis comicos), questiona que cada um tem seus anos de ouro, para ele os anos 20, para Adrienne seria a Belle Época nos anos de 1870, para os que viviam nessa época a melhor época seria a Renascença, ninguem nunca está contente com o seu "presente". Woody em seu eterno pessimismo ( ou realista) deu a seguinte entrevista na estréia em Cannes
"Se você é uma pessoa infeliz, por qualquer razão - o que se aplica praticamente para todo mundo-, então um deslocamento geográfico ou no tempo não vai resolver sua situação"...







     
      Estão aí duas ótimas dicas para um cineminha...
Bom final de semana a todos!!!!


 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Nunca ter amado é uma forma terrível de ignorância.

     Olá pessoas, quanto tempo... também senti falta daqui... agora falta pouco para eu poder me dedicar novamente ao blog... somente mais uma prova (de fogo).
     Não pude resistir de postar esse texto do meu querido prof. Pondé, imagino que tenha sido influenciado pela data...(dia dos namorados), mas ele está muiiito meigo e romântico... rs, ou talvez seja porque está longe da terra brasilis... bom... leiam e julguem por vocês mesmo.
Beijosssss




LUIZ FELIPE PONDÉ
Meu irmão Kierkegaard

Somos um nada que ama. Tanto a angústia como o amor são "virtudes práticas" que demandam coragem


QUANDO VOCÊ estiver lendo esta coluna, estarei em Copenhague, Dinamarca, terra do filósofo Soren Kierkegaard (1813-1855), pai do existencialismo. Ao falarmos em existencialismo, pensamos em gente como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus, tomando vinho em Paris, dizendo que a vida não tem sentido, fumando cigarros Gitanes.
O ancestral é Pascal, francês do século XVII, para quem a alma vive numa luta entre o "ennui" (angústia, tédio) e o "divertissement" (divertimento, distração, este, um termo kierkegaardiano).
O filósofo dinamarquês afirma que nós somos "feitos de angústia" devido ao nada que nos constitui e à liberdade infinita que nos assusta.
A ideia é que a existência precede a essência, ou seja, tudo o que constitui nossa vida em termos de significado (a essência) é precedido pelo fato que existimos sem nenhum sentido a priori.
Como as pedras, existimos apenas. A diferença é que vivemos essa falta de sentido como "condenação à liberdade", justamente por sabermos que somos um nada que fala. A liberdade está enraizada tanto na indiferença da pedra, que nos banha a todos, quanto no infinito do nosso espírito diante de um Deus que não precisa de nós.
O filósofo alemão Kant (século XVIII) se encantava com o fato da existência de duas leis. A primeira, da mecânica newtoniana, por manter os corpos celestes em ordem no universo, e a segunda, a lei moral (para Kant, a moral é passível de ser justificada pela razão), por manter a ordem entre os seres humanos.
Eu, que sou uma alma mais sombria e mais cética, me encanto mais com outras duas "leis": o nada que nos constitui (na tradição do filósofo dinamarquês) e o amor de que somos capazes.
Somos um nada que ama.
A filosofia da existência é uma educação pela angústia. Uma vez que paramos de mentir sobre nosso vazio e encontramos nossa "verdade", ainda que dolorosa, nos abrimos para uma existência autêntica.
Deste "solo da existência" (o nada), tal como afirma o dinamarquês em seu livro "A Repetição", é possível brotar o verdadeiro amor, algo diferente da mera banalidade.
É conhecida sua teoria dos três estágios como modos de enfrentamento desta experiência do nada. O primeiro, o estético, é quando fugimos do nada buscando sensações de prazer. Fracassamos. O segundo, o ético, quando fugimos nos alienando na certeza de uma vida "correta" (pura hipocrisia). Fracassamos. O terceiro, o religioso, quando "saltamos na fé", sem garantias de salvação. Mas existe também o "abismo do amor".
Sua filosofia do amor é menos conhecida do que sua filosofia da angústia e do desespero, mas nem por isso é menos contundente.
Seu livro "As Obras do Amor, Algumas Considerações Cristãs em Forma de Discursos" (ed. Vozes), traduzido pelo querido colega Álvaro Valls, maior especialista no filósofo dinamarquês no Brasil, é um dos livros mais belos que conheço.
A ideia que abre o livro é que o amor "só se conhece pelos frutos". Vê-se assim o caráter misterioso do amor, seguido de sua "visibilidade" apenas prática.
Angústia e amor são "virtudes práticas" que demandam coragem.
Kierkegaard desconfia profundamente das pessoas que são dadas à felicidade fácil porque, para ele, toda forma de autoconhecimento começa com um profundo entristecimento consigo mesmo.
Numa tradição que reúne Freud, Nietzsche e Dostoiévski (e que se afasta da banalidade contemporânea que busca a felicidade como "lei da alma"), o dinamarquês acredita que o amor pela vida deita raízes na dor e na tristeza, afetos que marcam o encontro consigo mesmo.
Deixo com você, caro leitor, uma de suas pérolas:
"Não, o amor sabe tanto quanto qualquer um, ciente de tudo aquilo que a desconfiança sabe, mas sem ser desconfiado; ele sabe tudo o que a experiência sabe, mas ele sabe ao mesmo tempo que o que chamamos de experiência é propriamente aquela mistura de desconfiança e amor... Apenas os espíritos muito confusos e com pouca experiência acham que podem julgar outra pessoa graças ao saber."
Infelizes os que nunca amaram. Nunca ter amado é uma forma terrível de ignorância.
ponde.folha@uol.com.br