''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O filósofo Charles Harper ( da série "Two and a Half Men".)





LUIZ FELIPE PONDÉ
O filósofo Charles Harper

A sociedade do sucesso tortura meninas para serem magras e meninos para darem dez sem tirar



ADORO TELEVISÃO! Curto muito o dr. House e sua visão trágica de mundo (aliviada estes dias porque ele está pegando a chefe, a dra. Cuddy, e sempre que pegamos alguém a tragédia da vida se dilui na doçura do sucesso sexual, não?).
Hierarquias de poder são grandes afrodisíacos, seja quando envolve mulheres acima (chefes), seja com mulheres abaixo (secretárias). O cinema explora isso há muito tempo com sucesso de bilheteria.
Calma, cara leitora. Não engasgue. Brinco. Aliás, brinco muitas vezes, mas nunca sabemos até onde vai a brincadeira no mundo, não é? Dúvidas são como neblina numa estrada. Escondem curvas e acidentes mortais ou nada além da própria monótona neblina.
Mas tenho um outro herói na TV: Charles Harper, da série "Two and a Half Men". Tenho um amigo que a deu de presente para seu jovem sobrinho. Acertou em cheio: essa série deveria fazer parte da formação de todo menino hoje em dia, porque vivemos em épocas sombrias. A propósito, deveríamos dar de presente neste Natal a coleção inteira de Monteiro Lobato só para deixar os fascistas da censura das raças bravos. Se vivessem na Alemanha nazista, esses fascistas fariam fogueiras com livros do Monteiro Lobato.
Na agonia de diminuir as baixarias do mundo, estamos mesmo é gerando meninos inseguros e confusos e ainda tem gente por aí que nega isso. Sei que escolas "ensinam" em sala de aula que as "mulheres são oprimidas" já na sétima série! Ouvindo isso, fico feliz que já tenho 51 anos e que pude crescer num mundo onde as mulheres não eram "esse bicho de sete cabeças" que viraram. Pena. Agora sofrem com carinhas medrosos e chorões... e fóbicos que não aguentam compromissos. Ainda bem que a velha seleção natural do Darwin impede que a maioria delas acredite nas baboseiras que falam por aí sobre meninas oprimidas na sétima série. Homens e mulheres se amam para além do "ódio de gênero".
Voltando ao filósofo Charlie. O duo dele e seu irmão Alan é ceticismo puro para com as modas do comportamento "correto". Um estudo do comportamento masculino que deixa muita ciência "das masculinidades" (que nome horroroso!) no chinelo. As "militâncias" transformaram muitas mulheres em zumbis emancipados e agora se preparam para fazer o mesmo com os coitados dos caras.
Alan é o típico homem inseguro, mentiroso, "loser", que se esconde no blá-blá-blá atual da "sensibilidade masculina". Mas sua muito para pegar alguém. Falido, "massagista" que queria ser médico, expulso de casa pela sua ex-mulher, Alan vai morar com seu irmão Charlie e leva seu filho, Jake (uma prova de que corremos risco de extinção por estupidez). Charlie é seu oposto: bem-sucedido financeiramente, ganha muita grana fazendo jingle publicitário (o suficiente para deixar as "freiras feias" da esquerda nervosas) e pega todas.
Claro que estamos no mundo dos tipos superficiais de comédias. A vida dos homens não é nem Alan nem Charlie. A sociedade do sucesso (material, sexual, afetivo) de hoje é um fracasso: tortura meninas para serem magras e meninos para darem dez sem tirar. A verdade é que a série brinca com os sucessos vazios dos dois irmãos e expõe a dura realidade: o sucesso na vida afetiva não existe.
Uma pérola para você: num dado momento, Alan reclama que seu irmão Charlie está ensinando bobagens para seu filho. Os dois conversavam sobre mulheres. Alan diz "uma relação é construída com sinceridade e respeito pelo outro" (mentira, ele é um dissimulado, como todo mundo que diz "respeitar o outro"), ao que seu irmão Charlie responde: "Nada disso, uma relação se constrói com diamante e Viagra". Voilà.
Moral da história: para além do blá-blá-blá da "sensibilidade masculina" e da idealização dos afetos (comum em épocas como a nossa, dominada pela sensibilidade infantil da classe média), a maioria das mulheres quer mesmo é homens com "poder" e seguros, que saibam dizer "não" para elas e "sustentar" um mundo onde elas se sintam amadas. A questão é: tem algum cara que queira pagar a conta? Amor é luxo.
Espero que você ganhe um diamante nesta semana.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Papai Noel


LUIZ FELIPE PONDÉ
Papai Noel

São Paulo é uma cidade maravilhosa porque ela acolhe quem trabalha sem colocar a culpa nos outros



      EM 1965, eu tinha seis anos. Morava em Jequié, cidade no interior da Bahia. Meu pai era diretor do hospital da cidade. Fui para a escolinha do clube de tênis local, uma espécie de clube Pinheiros do sertão.
      Perto do Natal, a sala foi invadida por um Papai Noel. Foi uma farra para as crianças, menos para mim.
Cresci num ambiente secular. Ateísmo era tão comum como dizer "passe a manteiga". Desde cedo, meus pais me ensinaram que Papai Noel não existia. Mas não me disseram que eu deveria calar a boca em situações como a que vivi naquele Natal de 1965.
      Reconheci uma das professoras vestida com aquele traje ridículo. Imagine o calor de dezembro no Nordeste brasileiro, este mesmo que hoje tantos querem idolatrar e outros demonizar.
      De pronto, levantei a mão e pedi para fazer uma pergunta. O Papai Noel me disse: "Pode falar, Felipe". Eu desabei a dizer que sabia que "ele" era a professora X e que era feio ficar enganando as crianças com essas coisas bobas porque Papai Noel não existia.
      Pronto! Uma gritaria geral. Uma menina, do meu lado, se pôs a chorar. Achei bonitinho ela chorando. No dia seguinte, tentei falar com ela no parque, mas ela ainda estava brava comigo. Resultado, eu fiquei com um trauma: basta qualquer mulher chorar perto de mim que me sinto culpado. Que praga!
      A professora, correndo, me tirou da sala. Minha mãe foi chamada à escola. As professoras me disseram que eu havia me comportado mal. Mas, afinal, qual era meu erro, se a verdade é que Papai Noel não existia? Depois de tantos anos, ainda me irrito com quem acredita em "Papai Noel" ou com quem tenta fazer os outros aceitarem suas crenças infantis.
      Questão profundamente filosófica, não? Quem sabe foi por isso que decidi ser filósofo. E, para meu espanto, às vezes sinto que continuo naquela sala de aula dizendo o óbvio e levando bronca porque os "coleguinhas" insistem em acreditar em "Papai Noel" ou "tirar" da sala quem afirma que ele não existe.
      Acabei vindo para São Paulo. Nunca senti preconceito (começo a detestar essa palavra, porque hoje ela é usada normalmente para calar a boca de quem diz o que não é politicamente correto, essa praga contemporânea).
Em apenas dois episódios, que me lembre, ouvi comentários que claramente faziam referência à minha "nordestinidade" como traço de ignorância. E as duas pessoas, pasme você, leitor, eram pessoas "de esquerda" e "inteligentes".
      Nada de novo. As pessoas "de esquerda" foram responsáveis pela maior parte da chacina política no século 20. As patologias do pensamento hegeliano-marxista e sua vocação para o "Estado total" mataram mais gente do que o nazismo.
      E ainda querem me convencer de que posso confiar nas suas boas intenções? Contra os delírios de Hegel, leia Isaiah Berlin e seu brilhante "Limites da Utopia" (Companhia das Letras; R$ 48, 224 págs.). O Inferno está cheio de reformadores políticos. O Estado deve ser ocupado por pessoas que não querem reformar o mundo. Fora, Papai Noel!
      Pessoas que se dizem defensoras de "uma sociedade melhor" ou da "liberdade igual para todos" são autoritárias e são as que primeiro aderem à violência contra a liberdade de fato e contra aqueles que pensam diferente delas.
Quer uma dica? Quem usar muito expressões como "repúdio", "isso é desprezível", "interesse coletivo" "estou indignado", "preconceito", não merece confiança.
      Adoro São Paulo. Entre tantas razões, porque é uma cidade aberta para a única forma de liberdade de fato conhecida: a liberdade de você ter méritos e ter esses méritos reconhecidos pelos outros, independentemente de raça, família, credo, classe social ou sexo.
      São Paulo é maravilhosa porque acolhe quem trabalha sem por a culpa nos outros. Liberdade não é sinônimo de felicidade, liberdade é conflito, agonia, solidão.
      Até onde conhecemos a história, só há liberdade onde há capitalismo, mesmo com suas miseráveis contradições. Todo mundo que quis "inventar outra liberdade" queria mesmo era meter a mão no patrimônio alheio e matar o dono.
      Entre a felicidade e a liberdade, escolho a segunda. Escolho São Paulo.

domingo, 21 de novembro de 2010

O corpo fala

O jeito que um casal dorme não basta para mandá-lo ao divã ( ou ao advogado). Mas que o corpo fala, fala. " A leitura corporal não é fechada e não tem significado universal", diz o historiador Marcos Tadeu Cardoso* - que mesmo assim topou a brincadeira de analisar as posições abaixo, ao lado da psicologa Marina Vasconcelos.










 






    Abraço de lua de mel  
Posição típica dos primeiros meses de relacionamento, é bem plástica, mas não exatamente confortável e quase impossível de ser mantida durante toda a noite. Coisa de quem acabou de fazer amor. Segundo Cardoso significa "quero ficar enroscadinho em você", "quero você".

 Carangueijo
Se os dois passam a noite como se estivessem fugindo um do outro(há quem durma com os pés na cabeça do parceiro) vale prestar atenção: a relação pode estar degastada. Mas, claro, o alerta deve levar em conta não só a relação entre os lençóis, mas durante o dia todo. 


Chanel
Os quadris se tocam, mas cada um vai para um lado, lembrando os dois "C" do logotipo da Chanel. É um estilo meio zen, que predomina depois de certo tempo de relação, quando o casal tende a resgatar alguma privacidade no sono. Os bumbuns ligados dizem "estamos próximos, mas cada um em seu espaço" 



Colherzinha
Também chamada de "conchinha" e "feijãozinho", é a expressão óbvia de que os dois se encaixam. É o mesmo que dizer "completamos um ao outro", interpreta Marcos Tadeu Cardoso. "Gostar de dormir assim, mesmo que só no início da noite, significa aconchego", lembra a psicóloga Marina Vasconcellos.




Abismo
Embora essa posição, por si só, não seja sinônimo de crise conjugal, se o casal dorme todas as noites de costas um para o outro, pode ser um sinal de distanciamento entre os dois, de falta de vontade de estar junto, analisa a psicóloga Marina Vasconcellos, especialista em psicodrama e terapeuta familiar
Telhadinho
Essa posição demonstra união, mas o distanciamento na região abdominal é um sinal inconsciente de falta de interesse sexual naquele momento. Outra "bandeira" é que cada um toca a ponta do lençol, como se quisessem cobrir as partes íntima.


Berço
Típico comportamento de união estável. A mão da mulher sobre o peito do homem, ele abraça ela, as cabeças ficam juntinhas. Isso demonstra aproximação e união, e ela se sente protegida literalmente debaixo da asa dele
A perseguição
Nessa posição, a mulher demonstra que tem ou busca ter a posse do homem. Como o corpo do homem está em direção oposta, com uma leve inclinação que acentua um afastamento da mulher, reforça a ideia de que ele está buscando seu território pessoa.



Ligados e livres
O corpo da mulher inclinado para o lado oposto do homem, acompanhado de uma leve inclinação da cabeça, parece demonstrar que a mulher deseja ficar em seu canto, pelo menos naquele momento. A inclinação do homem demonstra atenção, mas como ele mantém certa distância, pode significar que deseja liberdade
Abraço de perna
A mão da mulher, por baixo do homem, sinaliza que ela quer conquistar mais espaço. As pernas abertas também são sinal disso. Já a posição dele demonstra que está no seu espaço e não abre mão dele. A posição mostra certa ambivalência, como se os dois se tocassem por "acidente" (sem querer evidenciar o carinho)

COMO DORMIR SÓ
Passar a noite com o corpo torto é passaporte para acordar com pesadelos. Isso sem falar nos prejuízos a longo prazo. Os vícios ao dormir podem ser o estopim para dores de cabeça e até artroses. Veja o jeito mais adequado para descansar:

De bruços nunca
"Os especialistas são unânimes: essa é, de longe, a pior posição para dormir. Além de dificultar a entrada de ar e a oxigenação do organismo, ela gera tensão na nuca e na coluna. Além disso, a cabeça fica virada horas a fio em um ângulo de 90º. "Isso pode até evoluir para uma artrose precoce", alerta o ortopedista Lafayette Lage, de São Paulo. Essa postura estica demais o pescoço e comprime uma artéria que passa sob a clavícula, o que pode dar dores de cabeça e formigamentos, pela falta de irrigação. No limite, pode levar a problemas nos nervos.

De barriga para cima
"Não é a ideal, pois favorece o ronco e a apneia, as famosas paradas de respiração ao longo da noite. "Essa postura dificulta a abertura das vias respiratórias", diz Gil Lúcio Almeida, presidente do Crefito-SP (Conselho de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Estado de São Paulo). Se você gosta dessa posição, os especialistas recomendam usar algum rolinho ou travesseiro sob a nuca e na altura da lombar, para acompanhar as curvas fisiológicas da coluna (principalmente se o colchão for muito duro).

De lado
"Essa é a postura mais recomendada, mas com uma ressalva: as mãos devem estar abaixo dos ombros. Nessa posição, a cabeça e a coluna ficam alinhadas. Vale colocar um travesseiro fino entre os joelhos, para relaxar a musculatura. Se você dormir sobre as mãos, elas podem formigar pela falta de irrigação.
*Autor de "A linguagem corporal em relacionamentos e paqueras".

Texto e fotos retirados do suplemento "Equilibrio" da Folha de SP.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Que tipo de educação estamos dando aos nossos filhos?


     
      Esta imagem foi retirada de um jogo de video game chamado Bullying, uma vez numa conversa com meus alunos perguntei como se sentiam quando perdiam um jogo, estarrecida ouvi os relatos " jogo o controle na tv", chuto o cachorro/gato", "já quebrei o vaso de minha mãe". E vão me dizer que esses jogos não incitam à violência. Esse jogo citado "Bullying", os jogadores espancam os colegas da escola que são diferentes deles, professores e todos os que "fazem ganhar pontos"... como os pais consentem que seus filhos joguem isso?
     O grupo de jovens que agrediu alguns outros jovens na Avenida Paulista estudam em colégios particulares, contaram com a proteção de pelo menos um advogado, que em tese é um direito de todos, mas na prática é um indicador de um privilégio social.
     Talvez a maior punição para esses jovens tenham sido a repercussão pública do caso com os constrangimentos para os jovens e seus familiares.
     Quase todos já fizemos porcarias quando jovens. É a fase da explosão hormonal, dos exageros, da insensatez, mas nem por isso podemos tolerar ou sermos coniventes com esse tipo de delinquencia juvenil.
     A classe média terceirizou o afeto, a educação e fica a encargo de motoristas, babás, empregadas a função de educar,  e muitas vezes dar carinho e atenção.    A violência é produto do meio social, o crime é produto do desejo de se ter o que não se tem condições, o que não era o caso desses jovens.
     Talvez eu seja retrograda no jeito de educar meus filhos, mas nunca os deixei (sendo menores de idade) pelas ruas durante a madrugada. Sei onde estão e com quem estão. Se necessário vou levar e buscar. 
     Minha filha completa 18 anos amanhã, meu filho já tem 19, mesmo assim conhecem os "meus" limites e sabem o quanto é perigoso ultrapassá-lo... não quero dizer com isso que imponho castigos físicos a eles... não é necessário, pois desde pequeno foram educados para respeitar o próximo, nem digo que nunca tive problemas com eles, mas sempre foram problemas caseiros (de não arrumarem a cama, o quarto, coisas de TODOS os adolescentes...).
     Tentei me colocar no lugar desses pais, de ambos os lados, dos filhos agressores e agredidos, a primeira situação é mais fácil, tentar desculpar os erros dizendo que foi uma simples briga de rua, mas a segunda, vendo meu filho machucado por um bando de "jovens" sem limites... ah... meu sangue ferveu....
     Nas aulas de Sociologia tento explicar a palavra "marginal", sendo aquela pessoa que vive à margem da sociedade, que não respeita às leis e regras impostas para que possamos viver bem... o caso desses jovens seria infração à lei ou somente ausência de educação e limites?



segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A 25 mil pés

LUIZ FELIPE PONDÉ


Movido pelo "essencial" é que decidi falar de coisa séria na coluna de hoje: vou falar de mulher


      ESTOU A 25 mil pés de altitude, voando num desses turbo-hélices. Adoro o som da hélice. Lá embaixo, paisagens distantes. Gosto de voar.
      Comecei a voar com um ano de idade, quando meu pai, então um jovem capitão médico da aeronáutica, me levava para voar em aviões da FAB. Entretanto, detesto aeroportos e classes sociais recém-chegadas a aeroportos, com sua alegria de praças de alimentação. Viajar, hoje em dia, é quase sempre como ser obrigado a frequentar um churrasco na laje.
      Sentimo-nos insignificantes aqui em cima. Exemplo máximo da desmedida humana, voar nos faz pensar em coisas profundas como: "Qual o sentido da vida?"; "Existirá vida após a morte?" Movido por esse apelo que vem do "essencial" é que decidi falar de coisa séria hoje: vou falar de mulher.
      Risadas? Nem tanto, caríssimo leitor. Se você for uma vítima, como eu, dessa maldição que é nascer heterossexual (um tanto fora de moda hoje em dia, quase reacionário), saberá que tudo o que fazemos, quase todo o tempo, o fazemos para agradar as mulheres. Parece que fomos "selecionados" assim.
      Em cerca de 50% do meu tempo, penso em como fazer a minha linda esposa feliz. Bela e brava, ela é uma mulher muito exigente. O restante do tempo, passo pensando em como ganhar dinheiro para deixá-la feliz. Sempre fracasso, claro, ela é mulher. Risadas? Nem tanto. Exagero? Talvez um pouco.
      Não fique brava, cara leitora. Fique firme no regime. Nada de queijo amarelo e doce no café da manhã. Lembre-se: se engordar, vai se sentir a última das mulheres. Pior ainda se sua colega de trabalho ou cunhada for mais magra que você. Mas não sofra demais. Vou lhe contar um segredo: como dizem sábios árabes, muitos homens gostam mesmo é de mulheres que "encham a cama".
      Recentemente, revi o episódio nove ("Não Desejarás a Mulher do Próximo") da série para a TV polonesa "Decálogo", de 1988, do grande Krzysztof Kieslowski (1941-1996).
A história é a de um médico jovem e casado que, de repente, fica impotente pra sempre. Logo, nós, heterossexuais clássicos, pensamos: "Ufa, ainda bem que vivemos na era do Viagra" -que, aliás, em nível de grandeza, está para a invenção do avião e do computador, infinitamente superior à do antibiótico.
      Mas, dizem os especialistas, alguns casos estão além de qualquer possibilidade de cura. Planejo um dia, após meus 90 anos, experimentar esse milagre. Agora, seria covardia com a concorrência. Afinal, sou pernambucano e nós, netos de Lampião, só sofremos desses males dos mortais depois dos 90 anos, quando sofremos.
      Nós, humanos, somos seres que habitam dois mundos. Um, "espiritual" ou "simbólico", onde somos livres pra "evoluir" para mundos sem guerras, cheios de amor e pessoas que se respeitam todo o tempo. Enfim, livres pra pensar em nós mesmos de forma ideal. Outro, material, submetido à lei da gravidade e à miséria do tempo, onde sofremos a escravidão da realidade.
      Tanto marido quanto esposa nesse episódio se viram como podem, cada um em sua miséria. Ele, temendo descobrir que, sem ereção, deixa de ser homem; ela, temendo que, afinal, deixe de amá-lo uma vez que ele não tenha mais ereção. Uma humilhação para o coração, derrotado pelo que falta "no meio das pernas", como diz a personagem feminina no episódio.
      Nesse sentido, a questão posta por Kieslowski é cirúrgica. Para aqueles que se acham "belos", pergunto: quanto tempo uma "boa" esposa suportaria um marido "sem uso"? Quanto tempo sua "bela alma" suportaria o desespero de seu corpo, sedento pela penetração física, para além do blá-blá-blá brega de "ela tem direito de ser feliz"?
      Às vezes, suspeito que um dos maiores segredos da civilização repousa sobre a capacidade ou não de um homem penetrar uma mulher. E o medo do homem de fracassar nessa missão é causa de enormes violências contra a mulher.
      O grande mestre Freud dizia: se quiser pensar a sério, não fique na sala de visitas, vá ao quarto do casal. Ouça os sussurros e os lamentos. Pergunte coisas obscenas. Grande parte de minha crítica às feministas passa por aí: política, nesse assunto, é sala de visitas. Pousei.