''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

sábado, 27 de junho de 2009

O menino de pijama listrado






Bruno, de oito anos de idade, é o filho protegido de um oficial nazista cuja promoção leva toda família a deixar sua confortável casa em Berlim para seguir para uma área desolada onde o menino solitário não tem o que fazer e nem com quem brincar. Muito entediado e movido pela curiosidade, Bruno ignora as insistentes recomendações da mãe de não explorar o jardim dos fundos e segue para a fazenda que ele viu a certa distância. Lá ele encontra Shmuel, um menino da sua idade que vive uma existência paralela e diferente do outro lado da cerca de arame farpado. O encontro de Bruno com o menino do pijama listrado o leva da inocência a uma profunda reflexão sobre o mundo adulto ao seu redor conforme seus encontros com Shmuel se transformam em uma amizade com conseqüências devastadoras.
O filme não tem a pretensão de mostrar fielmente as marcas do holocausto, mas apenas criar uma fábula sobre nossas ações e suas consequencias. A sutileza do diretor ao apresentar os horrores do holocausto, ele deixa apenas sub-entendido nas entrelinhas dos diálogos.
Durante a Segunda Guerra Mundial, uma família alemã se muda de Berlim para Auschwitz, quando o patriarca é ordenado a trabalhar em um campo de concentração. Assim, Bruno, um garoto de 8 anos e filho do oficial, começa uma linda amizade com um menino judeu da mesma idade. O filme mostra o modo como o preconceito, o ódio e a violência afetam pessoas inocentes, especialmente as crianças.

O Menino do Pijama Listrado
Gênero: Drama

Direção Mark Herman
By Angélica Bito
As mais diferentes visões do trágico período do nazismo, que deixou uma cicatriz indelével na história contemporânea, já ganharam espaço em inúmeros filmes. O Menino do Pijama Listrado tem na manga o trunfo de explorar de maneira única a forma como um menino de oito anos enxerga o envolvimento de sua família no regime nazista. O diferencial acaba fazendo com que ele se destaque dentre outros dramas com temática semelhante.

Baseado no livro homônimo do irlandês John Boyne, O Menino do Pijama Listrado acompanha a história de Bruno. Aos oito anos, ele parece ser um pouco mimado e alienado demais. Em meio à Segunda Guerra Mundial, em Berlim – onde o nazismo encontra seu terreno mais fértil -, o menino acompanha de longe as atividades do pai, um destacado militar do exército de Hitler. Sua mãe acompanha com pouco entusiasmo as atividades do marido, diferentemente da irmã do menino, Gretel.

Quando a família é obrigada a se mudar para uma cidade no interior da Alemanha por conta das responsabilidades do pai junto ao regime nazista, Bruno se vê sozinho em meio a um ambiente inóspito. Sem freqüentar a escola, sente falta dos amigos e de pessoas de sua idade com quem possa brincar. Normal. Com sua natural curiosidade infantil, vê da janela de seu quarto algo que parece ser uma fazenda, onde os fazendeiros usam pijamas listrados. Ou seja: um campo de concentração, o qual o menino é incapaz de identificar, mesmo com tamanha proximidade com o regime nazista. Bruno demora a descobrir as atrocidades que ocorrem lá e, com sua ingenuidade extrema (muitas vezes irritante), explora os arredores e acaba ficando amigo de Shmuel, menino judeu preso no campo. A amizade se desenvolve tendo como separação a cerca que separa esses mundos tão distintos na aparência, mas tão semelhantes em sua essência. Mas o que faz toda a diferença é a visão infantil do protagonista em relação a essa situação tão revoltante e trágica.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Antígona



ANTÍGONA

By Luiz Felipe Pondé
Folha de São Paulo 22/06/09



“Quando nasci, minha mãe deu à luz gêmeos: eu e meu irmão, o medo”. Hobbes teria dito isso. Sofro desse sentimento. Tenho muitos medos. Um deles é bem moderno: o medo de não ter preconceitos corretos. Quais seriam estes?

Ora, repito o óbvio: contra o cristianismo, contra brancos heterossexuais, contra os EUA.

Assim como normalmente a “perua” é a mulher de saia curta que não é nossa amiga, “reacionários” são os que ousam discordar das nossas tiranias de estimação.

Às vezes me pergunto: afinal de contas, por que supor que se você for negro você será essencialmente mais justo? Ou se você for homossexual, você será essencialmente mais democrático? Por que travestis ou transexuais merecem ter silicone e cirurgias “de graça”, enquanto diabéticos e pacientes renais morrem em filas?

Perguntas que não devem ser feitas à mesa de “pessoas de bem” no teatro ridículo da democracia contemporânea. Um bom exemplo é o culto ao “jovem”. Por que supor que movimentos de jovens são sempre “coisas do bem”?

O “jovem” não é propriamente uma invenção do século XX. Quando pensarmos em “jovens”, temos em mente os jovens protestando nas ruas nos anos 60: hippies contra a guerra do Vietnã nos EUA, parisienses armando “barricadas do desejo” em maio de 68. Tanto num caso como no outro, ao final, todos voltaram para casa, pedindo mesada ou procurando emprego. E por quê? Porque deixaram de ter 18 anos, tiveram filhos e conta a pagar. Mas esta não é toda a história, há mais do que isso, e esta história começa bem antes desses “espetáculos”, que nos legaram calças jeans e sexo livre, supostamente de maior qualidade.

O que é esse “jovem”? Figura originariamente romântica (século XIX), o “jovem” nasce da idéia falsa de que exista um “gênio” específico no jovem (pessoas de mais ou menos 15 a 25 anos) que o diferencie moralmente e politicamente do resto da humanidade. Não acho que pessoas de 15 a 25 anos tenham nenhuma reserva moral ou política: são capazes de agir de má fé como todo mundo.

Seu comportamento não guarda nenhuma evidência de boa qualidade em si, podem cometer atos de opressão e manipulação como qualquer outra pessoa.

Não acredito no “jovem”. A forma mais certa de trairmos os mais jovens é deixá-los crer no “jovem”. Outra forma é tomar suas idéias e movimentos políticos e sociais como sinônimos evidentes “de um mundo melhor”. Seja como for, estes movimentos não são necessariamente defensores da liberdade.

Exemplos banais de como movimentos estudantis oprimem seus colegas e manipulam opiniões e esmagam diferenças enchem as páginas da paisagem histórica.

Ainda no século XIX, o escritor russo Turguêniev, em seu livro “Pais e Filhos”, imortalizou a imagem do jovem arrogante e cruel em seu estudante Bazarov, exemplo do jovem niilista russo, capaz de destruir tudo em nome de seu autoritarismo libertário e científico – ainda que Bazarov, ao final, tenha o destino comum de muitos homens, o de ser derrotado pelo amor não correspondido de uma mulher.

Sabemos que movimentos estudantis aderiram aos fascismos modernos, perseguindo colegas e professores nas universidades européias em nome da “nova saúde política”. Assim sendo, pergunto: por que devemos aceitar que exista uma “razão da idade” que faz alguém mais confiável só porque nasceu em 1990? A culpa, na maioria das vezes, é de seus professores (quando não dos pais que aderem a desculpas”da ciência da psicologia” para sua preguiça), muitas vezes pessoas amargas, orgulhosas e um tanto decadentes, que de dentro da sala de aula recriam um mundo à luz de suas pequenas manias teóricas.

Alguns dizem por aí que devemos “reformar a educação”; eu acho que a educação não funciona mesmo, por isso que a moda da “nova educação”, sempre pega. Às vezes, milagres (Gotas de consciência) ocorrem a partir da leitura de um livro ou da fala de um colega ou de uma professora, e normalmente estes milagres revisitam eternos dramas, por exemplo, o de Caim e Abel (a velha inveja) ou o de Antígona e Creonte (devemos ouvir a voz da consciência ou sucumbir ao medo da lei da polis?).

Sei que posso ser acusado de anti-intelectualista. Que assim o seja.

Prefiro me ver como aquilo que se chamava de “um homem de letras”, pequeno herdeiro de uma grande tradição que reúne a Bíblia e os gregos como seus ancestrais, que tudo deve a eles, e que pouco ou nada sabe além deles.


sexta-feira, 19 de junho de 2009

Gran Torino by Heitor Augusto (crítico de cinema)




Quando as primeiras informações sobre Gran Torino começaram a surgir nos Estados Unidos, pairou no ar uma sensação de que o 31º longa de Clint Eastwood como diretor estaria próximo demais de Dirty Harry, filme de 1971 no qual ele interpreta Harry Callahan, um detetive durão, sem limites. O personagem, espécie de predecessor de Cobra, Rambo e Chuck Norris, marcou a carreira de Eastwood como ator. Felizmente, Gran Torino está distante das inconsistências de Harry Callahan e apresenta um personagem que combina um ar rabugento e egoísta, obrigado a lidar com suas sombras do passado, a recente morte da mulher e os orientais que invadiram o bairro em que ele mora. Esse homem é Walter Kowalski (Eastwood), um dos melhores personagens da história do cinema. Kowalski é a síntese da decadência. Ao voltar da Guerra da Coréia (1950-53), onde serviu como combatente, passa a trabalhar na indústria automotiva. A mesma indústria, baseada em Detroit, que foi a primeira a ser afetada quando os EUA entraram em crise meio século depois. Daquela época, resta uma lembrança: seu carrão Gran Torino 1972, intacto, guardado a sete chaves na garagem. O velho rabugento vive uma existência medíocre e solitária, descarregando sua falta de humor sobre seus vizinhos, descendentes de Hmong, etnia que habita diversas regiões do sudeste asiático. Óbvio que, para Kowalski, Hmong, coreanos, japoneses são todos iguais. Um incidente inesperado o obriga a defender os vizinhos ao lado, cujo único homem da família, o adolescente Thao (Bee Vang), é assediado para entrar em uma gangue. O acontecimento muda sua relação com o mundo. Com sutileza, o diretor encontra espaço para ironizar os heróis do cinema capazes de salvar países à bala. Em um período histórico em que pessoas procuram heróis, Eastwood nega isso a seu personagem. Ele não salva os Hmong porque tem bom coração, mas apenas porque a gangue violou uma regra sagrada: ninguém pisa em seu jardim. Mas existem coisas que são maiores do que imaginamos ou do que nós mesmos. A família ao lado de Kowalski não tem proteção alguma contra o assédio continuo da gangue. Querendo ou não, o velho está ali pertinho e tem de fazer algo em relação a isso. Ele inicia uma jornada de transformação que Eastwood não faz questão alguma de esconder do espectador. Mas, com maestria, o diretor ainda mantém um ponto de interrogação sobre o tamanho da transformação de seu protagonista e o final reservado a ele. Tudo isso em pequenas doses de ironia, com um texto repleto de expressões, digamos, mal-educadas. Gran Torino é um filme com diversas portas de entrada para o espectador. Uma delas é a aproximação de Walter Kowalski, um conservador que enxerga três necessidades na vida de um homem: ter um carro, casar e trabalhar. Ironicamente, três esteios da sociedade norte-americana: consumo, família e trabalho. Eastwood, em diálogos que beiram o bizarro, ironiza isso. Por muitos anos, Eastwood ficou conhecido por uma frase célebre de seu personagem em Dirty Harry: “Vá em frente, faça o meu dia”, algo como “mova-se e eu explodo sua cabeça”. Em Gran Torino ele traz outro bordão marcante: “get off my lawn”” que, em livre tradução minimamente justa com o teor original, seria como “vaza do meu jardim!”. Mas, diferente de 38 anos atrás, Eastwood abandona o herói sem contradições e nos presenteia com um anti-herói que é a pura contradição.

Gran Torino




Gran Torino Gênero: Drama
O funcionário aposentado da indústria automotiva Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um (xenófobo) veterano da Guerra da Coréia. Ele preenche seus dias fazendo consertos em casa, tomando cerveja e com visitas mensais ao barbeiro. Inflexível e com determinação inabalável, vive num mundo em transformação e se vê forçado pelos vizinhos imigrantes - que acabam de se mudar, vindos do Laos - a confrontar seus próprios preconceitos.



Walt Kowalski, é a própria encarnação da velha América, nostálgica de seu papel de heroína do mundo, que teve seu auge na 2a Guerra Mundial e começou a decair pouco depois, na Guerra da Coreia. Uma guerra que tem, aliás, tudo a ver com a amargura deste personagem.

Os pesadelos de Walt são povoados pelos rostos dos soldados coreanos que matou naquela guerra. Aposentado, viúvo e irascível, ele vê sua vizinhança em Detroit ser ocupada, paulatinamente, por outros rostos orientais, como os dos Hmongs.

Povo espalhado entre China, Tailândia e Laos, os Hmongs apoiaram os norte-americanos em outra guerra, a do Vietnã. Pagaram caro por isso. Com a vitória dos Vietcongs comunistas, nos anos 1970, os sobreviventes tiveram de refugiar-se nos EUA.

A densa história de "Gran Torino" registra também um comentário econômico. Walt sente falta de um tempo em que a América era a economia mais dinâmica do mundo e Detroit, sede da indústria automobilística, uma de suas principais bases.

Ele mesmo foi funcionário da Ford e guarda na garagem uma pérola daqueles dias - um Gran Torino 1972 impecável, cuja pintura ele lustra cuidadosamente todos os dias. Ao lado da cachorra Daisy, o carro é seu mais sólido afeto, já que com os filhos e netos ele não consegue encontrar qualquer denominador comum. E vice-versa.

Este ferrenho conservador capaz de abrir mão das boas maneiras e até da higiene, da ética, nunca.

Kowalski não se esforça para ser simpático. Faz cara feia o tempo todo, grunhe em vez de falar e dispara uma impressionante coleção de xingamentos politicamente incorretos toda vez que cruza com seus vizinhos orientais e também com os negros. Isso não impede que ele se aproxime aos poucos da família que mora ao seu lado, a partir dos adolescentes da casa, Thao e Sue.

O relacionamento entre eles começa errado, quando Thao, pressionado por um primo gângster, tenta roubar o Gran Torino da garagem. Como punição, sua mãe e avó, seguindo os preceitos de sua cultura, obrigam-no a prestar serviços para Walt - que a princípio rejeita, mas não consegue recusar.

O filme progride na direção de um confronto urbano bem violento e realista, em que pessoas de bem são cercadas pelo crime organizado. Se a ética é o último reduto dos fortes, Clint Eastwood mostra-se ainda capaz de representar o heroi para todas as épocas e todas as situações.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Lemon Tree
















Lemon Tree

Direção: Eran Riklis

Baseado em história real do drama de uma viúva palestina que vive na divisa de Israel e Cisjordania.
Narra a sua luta para evitar que seus limoeiros sejam derrubados pela Força de Segurança Israelense já que os mesmos colocam em risco a segurança do Ministro da Defesa de Israel.
Lemon Tree é uma ode a convivência pacifica, ultrapassa os limites de ser um filme que fala somente de limões e limoeiros, ele mostra a garra de Salma que mesmo acostumada ao sofrimento da região, se recusa a abrir mão (literalmente) de suas raízes. E também de sua história já que o limoeiro foi plantado por seu pai a mais de 50 anos.As frutas são um símbolo amargo (mas que produz uma limonada que todos afirmam ser deliciosa) dos descabidos conflitos culturais, raciais e políticos que se estendem (segundo o próprio ministro) por mais de 3 mil anos.
Salma Zidane é uma mulher solitária de meia idade que sobrevive na região da Cisjordania fazendo compotas de limões colhidos de seu próprio pomar . Se vê privada de seus direitos, pois muda-se como vizinho Israel Navon ministro da Defesa de Israel e com ele câmeras de segurança, cercas de arame farpado, guaritas, guardas armados e a exigência de que seus limoeiros sejam cortados pois os mesmos oferecem riscos à segurança do ministro e sua esposa, já que eles podem servir de esconderijo algum terrorista disposto a cometer um atentando contra Israel. Salma não aceita a exigência e dá inicio a uma batalha judicial pelo direito de poder plantar limões em seu próprio quintal. Entre os dois personagens conflitantes , surge um interessante pivô, uma luz de sabedoria e indignação, representada pela presença de Mira, a esposa do Ministro. Duas mulheres, separadas pela fronteira mas unidas pelo mesmo idealismo: a esperança.
O caso de inicio sem importância, leva a um conflito diplomático, onde várias nações dão seu apoio a Salma. Segundo a própria manchete do jornal israelense: “De Oslo até Madri , os limoeiros de Zidane viraram um problema político" . E o ministro fica à mercê de zombarias a cada entrevista dada.
Salma vive em uma sociedade predominantemente machista, sua vida(afetiva) acaba com o falecimento de seu marido, e quando inicia um pequeno flerte com seu advogado ela é “avisada” por um amigo de seu marido que não irá deixá-la macular a honra de seu falecido esposo. O homem e o país.
Como disse o advogado de Salma, Ziaud Daud ” final feliz somente em filme americano”. A Suprema Corte decide pela poda (e não remoção) de 50% dos limoeiros a uma altura de 30 centimetros, o que ela considera uma derrota e um desrespeito a seu pai e às suas tradições.
Sem querer estragar nenhuma surpresa, sua mensagem final e brilhante, ao mostrar que nos conflitos nos quais imperam a guerra e a violência, todos perdem, (o ministro sua esposa e Salma seus limoeiros), menos talvez os advogados. O filme faz duas referencias ao futebol, uma francesa, com foto do jogador Zidane no quarto da casa de Salma, e a outra brasileira, com a nossa bandeira e a inscrição “Champions” (campeão em inglês), bordado no agasalho de seu advogado.
O ministro ganha uma bela paisagem: um muro que divide os dois países e Salma seus limoeiros podados a trinta centímetros do solo e o mesmo muro que a separa de seu poderoso vizinho.