''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Revisando 2009!!!

Revisando 2009

Este ano foi um de muito trabalho, “muito mesmo”, com o advento da gripe H1N1 precisei trabalhar aos sábados para repor o adiamento das aulas, e tanto para mim como para meus colegas de magistério foi muito cansativo. Trabalhar sem uma liderança confiável nos deixa à deriva, o segredo é não perder o espírito de equipe. Me lancei a novos desafios e creio que me sai bem.
Na questão cultural eu me superei, nunca assisti a tantos filmes e deles me veio a ideia de criar este blog com minhas “Impressões” e de críticos de filmes, livros, crônicas e tudo o que fosse de meu interesse. Vi filmes maravilhosos, e os tentei resumir numa lista de 10 escolhidos, difícil escolha, vários que me tocaram ficaram de fora, peças teatrais emocionantes e livros maravilhosos.

Esse ano tive muitas alegrias e decepções com pessoas próximas, mas nossa missão é perdoar e seguir em frente. (Como errar é humano... eu perdôo mas não esqueço...contraditório isso...rs) Agreguei à minha vida pessoas maravilhosas e outras que se afastaram naturalmente (seleção natural).
Minhas razões de viver (meus filhos Anderson, Ananda e Holly....) me proporcionaram alegrias, ansiedades, momentos de fúria (acho que todos os pais de adolescentes tem esse momento....)e prazer.
Devido ao trabalho (é mais fácil colocar a culpa nele), acho que não fui a amiga que fui em 2008, não nos encontramos tanto quanto gostaria ou necessitaríamos, a mais frequente foi a Sy com nossos almoços “fast-food” na correria entre uma escola e outra, não pude apoiar minha amiga Becky quando perdeu sua querida Winnie, não conversei o suficiente com a Ana, vi a Andreia uma vez somente numa tarde que não conseguimos ver a Sophie Calle, não troquei ideias suficientes com a Mirian e nem fizemos nossos cursos na Casa do Saber, minhas amigas Cássya e Mazinha que conseguimos nos encontrar para um almoço somente uma vez, Lilian e Fátima que não puderam comparecer ao almoço e portanto não nos vimos esse ano, quantos “nãos...” em 2010 quero muitos “sims”... 

E uma falta gravíssima minha, duas amigas queridas que estiveram esse ano grávidas, tiveram seus bebês lindíssimo (o Arthur) e Isabela e eu não participei nem de sua gravidez (da Verô) e nem fiz uma visita aos quatro. Falta essa que será corrigida nos primeiros dias de 2010!!
Quero tirar a palavra saudade da minha rotina, quero ver todas as minhas amigas queridas muitas vezes esse ano, a palavra saudade vai permanecer somente para uma pessoa especial (minha mãe...).
“Apesar” da intensa carga horária, quero ser “mais” mãe, “mais” amiga, “mais” mulher, “mais” namorada, “mais” amada,“mais” amante, “mais” tia, “mais” professora, “mais” aluna, “mais” filosofa, “mais” Tânia!!! 
Tive momentos "gafe" também... quando fui ao shopping e não notei que estava com sapatos trocados... e ele não poderia deixar passar.. esses celulares com câmeras registram nos ótimos momentos e também nos constrangedores... e aí está o resultado....rs (ainda postarei sobre isso...rs)

Não quero fazer projetos, pois para mim geralmente eles não funcionam... comigo é na hora, é “na louca”, como a viagem pra Buenos Aires, pretendo viajar em 2010 (não sei ainda para onde...) Uma decisão é que nunca mais viajarei sozinha, é muito solitário, muito triste você não ter alguém para dividir a alegria de estar vendo determinada coisa, passar sua impressão sobre tal lugar, e na hora das fotos? Ou você se contenta com paisagens (sem você), ou depende da gentileza das pessoas para que possa estar nelas...
Imagine você na França tirando a foto da torre Eiffel, quem irá acreditar se você nem aparece na foto!!! Rsss

Por isso não quero fazer projeções, quero viver 2010 intensamente, quero aproveitar os doze meses em toda sua plenitude!!
Um grande beijo aos amigos que me acompanharam em 2009 nessa nova aventura que foi o “Impressões”, obrigada aos que sei que lêem mas não comentam, aos que comentam via email e aos que deixam aqui registrados suas opiniões.
Que venha 2010! .....

sábado, 26 de dezembro de 2009

A partida


     Um dos 10 melhores filmes deste ano(na minha modesta opinião).Ganhador do Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" A partida é uma película linda e sensível, rica em simbologia e o respeito às tradições. Um exemplo disso é  a sequência em que o protagonista Daigo Kobayashi, estando às margens de um rio, nos arredores de Yamagata, sua terra natal, observa a persistência dos salmões em nadar contra a corrente até chegar ao encontro com a morte.
     A direção do filme é primorosa, como na cena em que usa a imagem de Daigo tocando o seu violoncelo dos tempos de criança sobreposta à dos campos que circundam a sua região, para simbolizar a tormentosa dúvida em que vive o personagem sobre o possível paradeiro do pai, cuja lembrança, ao decorrer do tempo, sob vários aspectos, por mais que negue, passou a atormentá-lo.
     Para envolver mais o espectador na evolução do tema, difícil,de caráter lúgubre, o diretor soube dosar a narrativa com algumas situações cômicas.
     O filme se inicia em Tóquio, onde Daigo integra uma orquestra sinfônica em dificuldade, que acaba por ser dissolvida. Sem ter como pagar as dívidas, o músico vende o violoncelo e, tendo a concordância da mulher Mika, decide retornar à sua cidade para morar na própria casa, vazia desde que sua mãe morrera, há algum tempo, sem que ele pudesse estar presente aos funerais. E lá consegue um inusitado emprego: torna-se um “nokanshi”, uma espécie de coveiro especial, mestre em lavar e vestir cadáveres. Essa função advém de uma antiga tradição japonesa, de deixar o morto limpo, belo e bem tratado para seu último momento, função antes exercida pelas famílias dos mortos, mas já meio esquecida e agora por conta de profissionais. Com esse emprego, Daigo consegue o dinheiro que estava precisando, mas esconde seu emprego da mulher e amigos, pois tal função é vista como algo vergonhoso e, no início, até ele assim a vê, como algo desprezível, o toque com o dejeto mortal.
     Daigo moldou a sua personalidade pela do pai, Toshiki Kobayashi , que o incentivou, desde criança, a tocar violoncelo e a dar atenção às tradições japonesas, como a da compreensão de mensagens das pedras-cartas. Seus sonhos, porém, foram sempre alimentados pelo lado da música. Quando Kobayashi abandonou a família, a mãe de Daigo teve de montar um pequeno negócio para custear as despesas domésticas e educá-lo.

     É interessante observar como essa mudança na vida do protagonista engloba vários aspectos. É uma volta para a cidade natal, mas, além disso, uma volta para o passado, para o contato com pessoas de outrora e com traumas de outrora – o relacionamento mal resolvido com o pai ressurge de forma decisiva. Essa volta também é uma representação quanto à nova função de Daigo: em um Japão cada vez mais “moderno” e ocidentalizado, ele passa a lidar com uma antiga tradição tipicamente nipônica. Também, paradoxalmente, é uma época de novidade para Daigo, de lidar com a frustração no trabalho, de se adaptar, de refletir sobre sua vida e seu passado, mas também sobre a vida e a morte.







terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O cadáver verde

Luiz Felipe Pondé


Quanto mais rápido entendermos que nosso cadáver é "lixo", melhor, diz o idiota



O QUE a arte tem a ver com o concílio climático de Copenhague? Ao que parece, há algo de ridículo na relação. Vejamos.
Mas, antes, um reparo. Nunca soube desenhar nem uma casinha sequer. Sou um zero à esquerda em arte figurativa. Essa minha incapacidade se transformou num critério (às avessas) para minha avaliação não profissional das artes plásticas: quando olho para um quadro e percebo que conseguiria fazer igual, assumo que aquilo não é arte, mas sim oportunismo estético.
Sim, sei que não sou especialista em história da arte, mas suspeito que muita gente que não sabe desenhar ou pintar nada usa bem a tal "desconstrução das artes plásticas" de gente como Picasso ou Kandinsky para dizer que faz "arte conceitual", mas que, no fundo, se pedirem a ele pra desenhar uma casinha, desenhará uma casinha tão horrível quanto a minha.
Exemplo? Lembro-me bem de uma bienal na qual uma grande tela branca constava como importante exemplo de arte contemporânea. Um "manual de instruções" acompanhava a peça a fim de explicar a nós, "mortais", porque aquilo era arte. Papo-furado.
Mas, e daí? A coisa fica pior quando o artista se faz militante político. E aí chegamos à relação entre arte e Copenhague. E como quase todo artista quer ser mais famoso do que é, uma militanciazinha qualquer ajuda a aparecer. E aí as causas abundam porque o mundo é precário mesmo. Não sei se foi Oscar Wilde quem disse, mas alguém disse que toda poesia sincera é ruim. Faço uso dessas sábias palavras para dizer que toda arte política sincera é péssima.
E por quê? Porque o artista-ativista quer mesmo é aparecer.
Recentemente, lendo a Ilustrada (15/12), topei com uma intrigante matéria sobre o concílio bizantino de Copenhague e a participação de artistas-ativistas (em jejum) contra o aquecimento global. Vale esclarecer para o leitor desavisado que "concílios bizantinos", afora o fato que, em muitos concílios, se discutiu coisa séria acerca dos fundamentos do cristianismo, passaram para a história como símbolos de discussões intermináveis sobre "o sexo dos anjos" e o impacto em nossa vida terrena e eterna caso os anjos tivessem ou não sexo.
Também discutiam, podemos deduzir, se havia apenas anjos ou também anjas, e se gemiam no orgasmo. Se fosse hoje em dia, discutir-se-ia também se há anjos gays e anjas lésbicas.
Repito, sou um herege, não acredito que nós, humanos, aqueçamos o planeta. Mas, em breve, estaremos enterrados em impostos e fiscais por conta dessa nova fé e pagando "carbonos" pra respirar.
Pior: se a coisa pegar (e tudo que significa mais controle pega porque vivemos em épocas totalitárias), teremos fiscais ecológicos em nossos enterros, além, é claro, do "ecocadáver". E aí chegamos aos artistas-ativistas a favor de cadáveres verdes.
O que vem a ser um "ecocadáver" ou um cadáver verde? Um "ecocadáver" é um cadáver que, em vez de ser enterrado ou cremado, deverá ser "congelado em nitrogênio líquido, pulverizado em bilhões de partículas e reintegrado ao solo numa nuvem de poeira orgânica".
O método teria sido desenvolvido por uma sueca. Tá vendo, cara leitora irritada, quando digo que o mundo vai começar a acabar pela Escandinávia? O tédio desses caras nos matará a todos... E se os cientistas-sacerdotes da nova fé descobrirem que será melhor para combater o aquecimento global comermos essas partículas orgânicas? Essa gente entediada costuma comer tudo em que aparece na bula a palavra "orgânico".
Sempre pode ficar pior: para a alegria desses artistas em jejum, essa ecopreocupação com os enterros demonstraria nosso avanço em relação ao "conceito" de restos mortais! Quanto mais rápido entendermos que nossos cadáveres são "lixo" poluente, melhor, diz o idiota ativista.
E assim caminha a humanidade. Nem nossos cadáveres estarão a salvo do tédio e da mania de controle. Na democracia, a opressão é invisível e a repressão cai sobre o detalhe. Tudo bem que Nelson Rodrigues já avisava que os idiotas iriam herdar a Terra, mas será que ele imaginou que nem nossos cadáveres ficariam em paz em seu repouso no pó? Nem o pó será livre.
Não, a civilização não é um bem evidente quando se torna excessiva em suas normas. Logo viveremos na paz dos idiotas, e eles gargalharão. Os comedores de rúcula terão enfim vencido a batalha pelo fim do mundo. Sei lá, só posso imaginar que essa gente está de jejum é de sexo.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A prole do Conde Dracul


Curiosa a persistente popularidade de vampiros entre os jovens. Livros e filmes de vampiros estão entre os mais lidos e vistos pelo público adolescente. Nenhuma explicação sociológica para o fenômeno parece ser mais convincente do que a simples constatação de que vampiro é sexy. Talvez, numa era em que a sexualidade fica cada vez mais precoce e tudo já foi feito, a dentada no pescoço seja vista como a suprema experiência sexual. Ou então – lá vai sociologia – na falta de qualquer coisa em suas vidas que tenha mais de dois ou três anos de tradição, os jovens tenham adotado um dos mais tradicionais terrores da humanidade para ter algum tipo de passado, mesmo fictício. Os vampiros dos livros e filmes são moços na moda, mas pertencem a uma linhagem que vem das sombras da Idade Média. É uma grife milenar.
     A origem histórica de Drácula, o protótipo de todos os vampiros, é o Conde Dracul, um senhor feudal da Transilvânia conhecido por sua crueldade (seu apelido era “O empalador”, manja só). O primeiro vampiro literário foi criado pelo médico John Polidori, que passava o verão de 1816 à beira do lago de Genebra junto com os poetas Lord Byron e Percy Shelley e a namorada deste, Mary Shelley. No mesmo verão famoso Mary Shelley inventou outro monstro, a criatura do dr. Frankenstein. A invenção da Mary Shelley foi um sucesso, mas o vampiro de Polidori foi esquecido, até Brian Stoker criar o seu Drácula. Para o crítico marxista italiano Franco Moretti, os dois monstros  nascidos em Genebra simbolizam horrores opostos. Um, a criatura do dr. Frankenstein, feito de partes de camponeses mortos, dos dejetos do feudalismo, representa uma nova forma de vida. Uma classe sem precedentes, com um poder desconhecido, que chega para aterrorizar a burguesia. Drácula representa a classe senhorial, uma aristocracia feudal em decomposição na qual só restaram os vícios – e o gosto por sugar o sangue dos aldeões. Os dois resumem os temores que dominavam o século XIX, e de um jeito ou de outro ainda dominam o mundo. Existem monstros do Dr. Frankenstein mais ameaçadores do que os milhões de miseráveis sem perspectiva da Terra à espera de uma faísca que os levante? Existem sugadores de sangue mais renitentes do que os do capital financeiro internacional?
     Claro que nada disto tem a ver com os vampiros da moda, hoje. Ouvi dizer que a próxima tendência entre os jovens será a de dentes caninos postiços. Em algum lugar o Conde Drácula deve estar sorrindo, satisfeito com a sua prole.

               Veríssimo

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Budista Light


Luiz Felipe Pondé

O ateísmo é uma conclusão óbvia, não há nenhuma grande inteligência nisso


     O "ASSUNTO Deus" é complicado. Em jantares inteligentes, é mais fácil você confessar que faz sexo com dobermans, prova de que seu gosto ultrapassou formas sexuais conservadoras. Mas, se falar sobre Deus, há risco grave de que não te convidem mais. E aí nunca mais aquela cozinha vietnamita. Melhor se dizer um budista light.
     Mas a mania que muito religioso tem de achar que tudo na vida se deve a Deus (ou similares) é um saco! Isso fala mais de sua preguiça e medo do que de Deus.
     Entendo o bode dos ateus com essa gente. Para mim, essa conversa é semelhante ao papo de que você tem câncer porque não resolveu adequadamente seus conteúdos emocionais. Ora bolas, isso quer dizer que, se todo mundo um dia for feliz, ninguém vai ter câncer? Ou que, pior, além de ter câncer, você é um babaca responsável pelo câncer porque não fez terapia? Conheço gente que se diz ateia (e com isso se acha mais inteligente, como de costume) e acredita nessa baboseira de que o amor cura câncer.
     Mas, desculpe-me, ateísmo é coisa banal. Quando eu tinha oito anos era ateu. O ateísmo é óbvio (por isso comecei a desconfiar dele), diante do lamentável estado da vida: somos uma raça abandonada (Horkheimer). Ateísmo não choca mais ninguém (pelo menos quem já leu uns três livros sérios na vida), porque ateus já são vendidos às dúzias em liquidações. E mais: ser ou não ateu não diz nada acerca de como a pessoa se comporta com os outros (ao contrário do que muitos ateus e não ateus pensam). Existem canalhas de ambos os lados do muro.
     Deus, como se diz em filosofia, "é uma variável sem controle epistemológico", isto é, não se testa Deus em um laboratório.
     Mas, antes, uma pequena heresia.
     Mais chocante hoje é alguém confessar que não crê no aquecimento global, pelo menos na versão que aconteceu nesse espetacular concílio bizantino em Copenhague, reunindo toda a gente legal do mundo.
     Confesso minha fraqueza: sou um herege, não acredito que meu pequeno carro aqueça o planeta, mas já estou pagando mais imposto por isso e tenho certeza de que outros virão. Acho essa história uma mistura de ego inflado (disputamos com o Sol para ver quem aquece mais?) e tédio (que tal salvar o planeta? A vida está tão chata na Dinamarca!). Meu cachorro anda triste? Deve ser o aquecimento global.
     Sei que dizem que é fato científico, mas, para mim, que sou um medieval, só acredito na ciência quando vem no formato de resultados de exames do Fleury ou do Delboni, e não quando tem a ONU no meio e gente ganhando milhares de euros salvando o planeta.
     Para mim, Copenhague foi aquele tipo de concílio onde se discutia se a roupa de Jesus era dele ou não. Temperamentos autoritários gozaram de tesão em Copenhague.
     E o ateísmo? A constatação de que o mundo é péssimo e, por isso, Deus não deve existir é razoável. A primeira vez que isso me ocorreu foi quando descobri que existiam colegas mais felizes do que eu na escola, e aí eu julguei o mundo injusto. Se Deus, como todo mundo me dizia, era bom, por que eu não era o cara mais forte do mundo? Decidi que Deus não existia. Ou não era bom. O ateísmo é uma conclusão óbvia, não há nenhuma grande inteligência nisso. Qualquer golfinho consegue ser ateu.
     Anos mais tarde, fosse eu uma dessas pessoas legais que creem no marketing do bem, concluiria que o mais justo seria que todos fossem igualmente felizes, e aí Deus teria sido democrático. Graças a Deus nunca passei pelo ridículo de pensar assim. Quanto a Deus ser mau, concluí que melhor seria mesmo considerar o universo indiferente e cego e mecanicamente cruel. Naquele dia, tornei-me um trágico (antes de ler Nietzsche ou Darwin).
     Poucos ateus não são descendentes de uma criança infeliz e revoltada (e, veja, 110% das crianças, esses pequenos lindos monstros malvados, são infelizes porque sempre existem crianças mais felizes do que você). A prova disso é que ateus gostam de falar mal da igreja (nunca superaram aquela freira azeda), de Deus (esse malvado que não me fez mais forte), ou do pai judeu (que me obrigou a só namorar judias).Ou acham que, se formos todos ateus, o mundo será melhor. Se você é assim e tem orgulho de ser ateu, você é um rancoroso.
     Quando se deixa de acreditar em Deus, passa-se a acreditar em qualquer besteira (Chesterton): na Natureza, na História, na Ciência, na Dinamarca, em Si Mesmo. Essa última crença, eu acho, é a pior de todas. Coisa de gente cafona.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Quero voltar a confiar

Recebi esse texto a algum tempo de uma amiga, (consta como sendo do Jabor mas já li uma entrevista em que ele diz que nem tudo o que se lê na internet e é atribuído a ele não é de sua autoria),  somente hoje com tempo abri o email, adorei o texto, diz exatamente não somente o que  penso, mas a maioria das pessoas sentem nostalgia de tempos vividos com respeito, paz, tranquilidade... É claro que muitas coisas melhoraram, evoluiram, mas, e a essência do ser? do viver?...
Claro que ainda tenho esperança de que a vida seja diferente, não utópica; mas, ao menos, mais humana.
Espero que gostem do texto... postei uma música do  grupo Creedence que me remete a tempos felizes de minha infância... decerto a de vocês também... Beijos!! Tânia



Quero voltar a Confiar(Arnaldo Jabor)

Fui criado com princípios morais comuns: quando eu era pequeno, mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos ou mais velhos, mais afeto. Inimaginável responder de forma mal educada aos mais velhos, professores ou autoridades… Confiávamos nos adultos porque todos eram pais, mães ou familiares das crianças da nossa rua, do bairro, ou da cidade…

Tínhamos medo apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de terror… Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo que perdemos. Por tudo o que Meus netos um dia enfrentarão. Pelo medo no olhar das crianças, dos jovens, dos velhos e dos adultos.

Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos. Não levar vantagem em tudo significa ser idiota. Pagar dívidas em dia é ser tonto… Anistia para corruptos e sonegadores… O que aconteceu conosco? Professores maltratados nas salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas janelas e portas. Que valores são esses? Automóveis que valem mais que abraços, Filhas querendo uma cirurgia como presente por passar de ano. Celulares nas mochilas de crianças.

O que vais querer em troca de um abraço? A diversão vale mais que um diploma. Uma tela gigante vale mais que uma boa conversa. Mais vale uma maquiagem que um sorvete. Mais vale parecer do que ser… Quando foi que tudo desapareceu ou se tornou ridículo? Quero arrancar as grades da minha janela para poder tocar as flores! Quero me sentar na varanda e dormir com a porta aberta nas noites de verão! Quero a honestidade como motivo de orgulho. Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olhar olho-no-olho.

Quero a vergonha na cara e a solidariedade. Quero a esperança, a alegria, a confiança!Abaixo o “TER”, viva o “SER” E definitivamente bela, como cada amanhecer. E viva o retorno da verdadeira vida, simples como a chuva, limpa como o céu de primavera, leve como a brisa da manhã! Quero ter de volta o meu mundo simples e comum.

Vamos voltar a ser “gente” Onde existam amor, solidariedade e fraternidade como bases. A indignação diante da falta de ética, de moral, de respeito... Construir um mundo melhor, mais justo, mais humano, onde as pessoas respeitem as pessoas. Utopia? Quem sabe?... Precisamos tentar… Quem sabe começando a encaminhar ou transmitindo essa mensagem… Nossos filhos merecem e nossos netos certamente nos agradecerão! 


PS: Como comentei no inicio do texto desconhecia a autoria e constava como sendo do Jabor, segundo comentário que recebi (consta abaixo) o texto chama-se Reflexões de autoria de Sara Maria Binatti dos Anjos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Não foi por querer

     Levados às últimas consequências, quase todos os eventos desagradáveis ou mesmo trágicos podem ser atrubuídos a erro humano, o famoso "errar é humano". Se assim fosse, teríamos que perdoar muitas quedas de avião, engavetamentos fatais e, por que não?, também a morte de criancinhas esquecidas em carros... Tudo ocorre sem querer. Mas as consequências não deixam de existir.
     Por que se erra tanto? Qual é a origem de tantos eros gravos e por que esses comportamentos vão ficando cada vez mais frequentes? Quase sempre não é de propósito mesmo, pois tantas vezes o próprio autor se aleija ou morre em circunstâncias que não me parecem obrigatoriamente comportamentos autodestrutivos ou suicidas.
     Atribui-se a estresse, quebra de rotina, excesso de informações - tudo isso atabalhoando nossa mente e atenção. Isso tudo é verdade. O fato é que o número de erros nesse mundo moderno vem se avolumando e o rol das explicações explica pouco. A tragédia do Rodoanel, os desconfortos trazidos pelo apagão não são provavelmente consequência de uma única desatenção. Com certeza, resultam da somatória de um sem número de pequenas quebras de rotina na vida de cada envolvido. Mas como viver sem rotina? Cotidiano sem rotina é impossível. Cuidar do organismo, por exemplo, é feito de uma série de ações. cuja ordem de entrada em cena depende de cada um. Mas não somos máquina.
     Por que uma mãe amantíssima esquece seu bebê no carro só porque a ordem de suas tarefas diárias foi alterada? Porque estava no automático, e não no alerta. O mesmo vale para o motorista em velocidade na estrada. Cada vez mais distantes de nós mesmos, podemos não perceber às 8h10 da manhã que esquecemos de deixar o bebê às 7h10 na creche. É a distância entre a mente e as sensações que vai ficando cada vez maior e que nos afasta de nós mesmos, tornando-nos meros respondentes apenas aos estímulos presentes na hora da ação. Uma criança que não chora não chama a nossa atenção. E a mãe que estava no trabalho, quão presente está, se ele for monótono?
     Os educadores, pedagogos e psicólogos educacionais precisam cada vez mais focar esse ser só, isolado, sua rotina e a presença disso tudo no fluxo de vida. É precisdo desenvolver exercícios para evitar esses desligamentos, tantas vezes fatais. Se fomos capazes de criar condições e comportamentos próprios à devoção, ao contato com o nirvana, à observação das estrelas, por que não criá-los para adaptar o homem que somos todos nós para viver nesse novo mundo - em que a quantidade de informações, estresse, velocidade, ausências de poder criam tanta tragêdia?
     Por que nós não desenvolvemos recursos educacionais para evitar distrações fatais? Quando o mundo muda, temos que achar outros jeitos. Parar o mundo não dá.
     É preciso educar um homem capaz de eficiência neste mundo, nosso mundo, sem que nos transformemos em máquinas automáticas.
Anna Veronica Mautner.

Para voltar a crer

     Luiz Fernando Veríssimo

Não faltam motivos para descrer da Humanidade. Vamos combinar que fizemos coisas extraordinárias, mas nossa passagem pela Terra não está sendo, exatamente, um sucesso. Para cada catedral erguida bomboardeamos três, para cada civilização vicejante liquidamos quatro, a cada gesto de grandeza correspondem cinco ou seis de baixeja, para cada Gandhi produzimos sete tiranos, Para cada Patrícia Pilar dezessete energúmenos. Inventamos vacinas para salvar a vida de milhões ao mesmo tempo que matamos outros milhões pelo contágio e a fome. Criamos telefones portáteis que funcionam como gravadores, computadores - e às vezes até telefones-, mas ainda temos problema com a coriza nasal. Nosso dia a dia é cheio de pequenas calhordices, dos outros e nossas. Rareiam as razões para confiar no vizinho ao nosso lado, o que dirá do político lá longe, cuja verdadeira natureza muitas vezes só vamos conhecer pela câmera escondida. Somos decididamente uma espécie inconfiável, traiçoeira e mesquinha. E estamos envenenando o planeta, num suicídio lento do qual ninguém escapará. E tudo isso sem falar no racismo, no terrorismo e no Big Brother Brasil.
     Eu tinha desistido de esperar pela nossa regeneração. Ela não viria pela religião, que se transformou em apenas outro ramo de negócios. Nem viria pela revolução, mesmo que se pagasse para o povo ocupar as barricadas. Eu achava que a espécie não tinha jeito, não tinha volta, não tinha salvação. Meu desencanto era total. Só o abandonaria diante de uma prova irregutável de altruísmo e caráter que redimisse a Humanidade. Uma prova de tal tamnho e tal significado que anularia meu ceticismo terminal e restauraria minha esperança no futuro. E esta prova virá neste domingo, se o Grêmio derrotar o Flamengo no Maracanã.

(Aqui peço licença a Verissímo em não terminar seu texto que só irá claro glofiricar o Grêmio, irei é claro "puxar a sardinha" para o meu lado do fogo....
Se o Palmeiras (leia-se Marcos) derrotar o Botafogo, terá somente que torcer contra o Flamengo, Internacional e  para o São Paulo não golear. (coisa fácil nesse na altura do campeonato para conquistar o título...). Tânia.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Arsênico

Luiz Felipe Pondé.

Muitos escravos livres e com dinheiro se apressavam em comprar seus escravos



DEVO ESTAR atravessando um período masoquista. Depois da experiência "2012 retardados", que partilhei com você, caro leitor, na semana passada, no final do feriadão da Consciência Negra assisti na TV a cabo a outro lixo, "O Dia em que a Terra Parou", com Keanu Reeves no papel de um ET. Ele é, claro, melhor do que nós, humanos bárbaros.
Para salvar a Terra, ele deve matar 6 bilhões de pessoas. Mas por quê? Porque nós estamos destruindo o planeta, por isso, devemos morrer para salvar as baleias, as baratas e os sacis. O Keanu-ET é uma espécie de "fundamentalista verde intergaláctico" que, por "ser bonzinho", prefere os percevejos aos humanos.
O ET verde só desiste de nos matar "em nome do bem dos siris" quando provamos pra ele que "yes, we can change" (sim, nós podemos mudar) -mantra obamista. O incrível é que tem gente que acha isso legal: nós somos maus, mas os insetos são dignos de redenção cósmica. Está vendo, caro leitor? A cada minuto nasce um retardado entre nós.
Falando em Consciência Negra, sempre achei essa história do "santo Zumbi" mal contada. O fato é que as mesmas pessoas que criticam as vidas de santos católicos em nome da "verdade histórica" caem na mesma armadilha, produzindo hagiografias (vida de santos) ao sabor de suas próprias manias políticas, como no caso de Zumbi, Lamarca, Che Guevara. Quer saber? Prefiro os santos católicos.
Ouvi dizer que Zumbi tinha seus escravos em meio a sua "Nova Atlântida". Incrível! Já sabia, por fonte segura, que muitos escravos, quando ficavam livres e tinham dinheiro, apressavam-se em comprar também seus escravos. Danadinhos...
Não que eu seja contra o feriado da Consciência Negra, muito pelo contrário, "minha religião" é a favor do maior número possível de feriados, pouco importa em nome da consciência de quem for. Não sou esse tipo de pessoa que discursa contra feriados para fingir que é produtiva. Pelo contrário, quanto mais dias nacionais da preguiça, melhor.
Mas eu dizia que o feriadão não foi de todo perdido para minha pobre alma filosófica. Entre outras coisas boas, li o "LTI - A Linguagem do Terceiro Reich", de Victor Klemperer, (Contraponto). Magnífico, deveria ser lido por toda essa gente com pendores fascistas que anda à solta por aí. Termos como "construção de um novo homem", "nova consciência", "autoestima nacional", "nova cultura", "a força jovem" e "novo futuro" são de raiz fascista. Ouvi e li muitos deles por ocasião da Consciência Negra.
Entre tantas coisas importantes, uma que me chamou atenção foi o fato de que, segundo Klemperer, a linguagem do Terceiro Reich era pobre no que se refere a descrições da natureza humana.
Sei que tem gente que tem alergia a essa expressão, "natureza humana", mas tomem alguma medicação quando ouvi-la, como eu faço quando ouço coisas que me aborrecem por aí, como "construção social de novas subjetividades".
Dentro de sua mania de "redefinir" os significados das palavras, os nazistas descreviam a natureza humana apenas dentro do modelo que lhes era interessante: força, solidariedade coletiva, pureza, saúde, eficácia, fidelidade ao grupo. O efeito desse processo (comparado a doses homeopáticas de arsênico para o espírito do povo alemão da época) era o estreitamento da visão da natureza humana, visando a exclusão das contradições que nos caracterizam. São essas contradições que os retardados não suportam.
Incrivelmente, diz Klemperer, a Alemanha não parecia ter muitos recursos mentais para resistir à concordância em massa com esse empobrecimento da linguagem.
A pergunta é: teríamos nós hoje? A tendência da linguagem a se tornar pobre é sempre presente quando nos lançamos em campanhas que visam a construção social de comportamentos, pouco importa o sistema de governo, porque uma língua empobrecida é uma língua envenenada. O que nos enriquece são nossas contradições, nossos erros. Por isso, sempre serei contra qualquer tentativa de construir um "novo homem"; prefiro o "velho homem" e suas misérias.
Quer um exemplo de contradição? Se Zumbi, depois de sofrer o horror da escravidão e de ter conseguido fugir desse horror, tiver comprado escravos para seu uso, aí sim, ele é um nosso igual, com o mesmo rosto. O nosso rosto. Sombrio, às vezes corajoso, às vezes cruel, sempre imperfeito.