''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O amor sem erotismo não é amor

O amor sem erotismo não é amor

10/01/2011
“Eu amo você, mas eu não te desejo”. Essa é a regra do amor que é pregada hoje em dia. Ou seja: o amor é uma força de união, literalmente falando, mas ao mesmo tempo, deve ser uma força de repulsão, pois dele deve ser tirado o desejo. O amor sem desejo, nós sabemos bem, não existe, não é amor. Mas, diante da força dessa propaganda demoníaca, que destruiu o amor, ficamos com medo de voltar a reconstruí-lo e, então, cedemos à mentira.
Essa mentira permite que possamos pregar o amor sem amar. Não desejamos ninguém e, como o amor não é mais desejo, podemos dizer que amamos. Eis aí o ridículo paradoxo em que nos enfiamos. E foi assim que esvaziamos de conteúdo o amor.
Inventamos o amor fraterno, o amor-amizade, o amor pela humanidade, o amor pelos filhos, o amor desinteressado. Ou seja, inventamos um monte de coisas que nada tem a ver com o amor. Pois o amor ou vem com o forte componente do desejo, da união, ou não é amor.
O amor pela mãe. Há amor de filho pela mãe se não há o desejo de tocar a mãe? Há amor de mãe pelo filho se esta não quer tocar o filho? A idéia de que podemos amar sem o nosso corpo, sem o contato, sem o desejo que se direciona para o contato corporal, o prazer do toque, é uma mentira enorme. Um truque do Diabo. Tanto é do Diabo que vem com o nome de que é de Deus. Ora, se fosse de Deus, não viria com nome nenhum. O que é de Deus, por definição, para nós Ocidentais cristãos, é universal.
Quando Freud anunciou que o amor nada é senão uma transformação de prazeres do início do ciclo vital e que, portanto, amor e sexo não tinham a separação que a sociedade moderna havia lhe imputado, é claro que houve revoltados aqui e ali. Quem se revoltou? Todas as forças do Diabo! Sim, pois Freud estava simplesmente dizendo aquilo que iria destronar o Diabo: o prazer é algo natural. Nós o regramos, é claro, temos nosso ethos e nosso mores, pois se assim não fazemos, não trabalharíamos, ficaríamos o tempo todo só em função do prazer e, então, pereceríamos. Mas o fato de o regrarmos não significa que ele tenha de ser extirpado. Ao contrário, nós o regramos para aproveitá-lo ao máximo. Revelar isso fez o Diabo pegar sua trouxinha e desaparecer. Justamente Freud, que era completamente ateu, devolveu a Deus o que era Dele, dando um tombo no Diabo. Este, por sua vez, teve de ficar circunscrito ao convívio com os setores menos cultos da sociedade.
Não podemos amar sem desejo e o desejo não existe sem que esteja, antes de tudo e afinal de tudo, envolvido no corpo-a-corpo. Não amamos uma tarântula. Mas amamos nosso gato. Não amamos uma mulher cheirando alho. Por isso, se condenamos uma mulher à cozinha, temos de ter uma amante que fique cheirosa. Quando alguém passa a mão na ferida do leproso, não o faz “por amor”, no sentido próprio do amor. Mas o faz a partir de uma profunda negação do amor, cedendo tudo ao dever. Ora, se cumprir o dever dá alguma satisfação, isso já é outra coisa.
A deserotização do amor que, enfim, promoveu ao estrelato os termos paralelos a eros, as palavras ágape e philia, foi um grande engodo. É necessário sempre lembrar, para desfazer esse nó, que ágape e philia nunca foram outra coisa senão palavras, somente eros era palavra e, ao mesmo tempo, um demiurgo. Como dar prestígio ao amor desterrando uma entidade divina para substituí-la por palavras, meras palavras? Essa operação se fez, sabemos, mas disso não resultou nenhum ganho para vivermos e entendermos o amor, resultou no falseamento do amor.
É claro que vários entre nós somos suficientemente toscos para achar que não desejamos a mãe ou o pai ou os filhos etc. Pois, se os desejássemos – assim pensam os toscos –, então, teríamos de fazer sexo com eles, ou seja, ter com eles algum tipo de penetração sexual. Pessoas que pensam assim são as mesmas que acham que todo homossexual tem prazer se for penetrado. Essas pessoas são as que perderam, elas próprias, o sentido do erotismo. Elas foram endurecidas pelas palavras mentirosas.
A idéia de tornar o amor seccionado, de modo a dizer que há tipos de amor, jogando para fora do campo erótico o amor que seria o mais valorizado, e que então seria denominado verdadeiro, foi um erro. Por ser um erro, preferi dizer que foi coisa do Demônio.
Sei que alguns vão ler esse artigo e vão reclamar. Vão voltar à tecla da divisão dos amores. Mas os que reclamarem e, no entanto, ainda tiverem um pouco de inteligência para se auto-analisarem com cuidado, saberão do que estou falando. Em relação aos que não conseguirem isso e, então, espumarem de raiva, não haverá o que fazer por eles a não ser ter pena. São aquelas pessoas que restaram ao Diabo.
© 2011 Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ.

PS: Texto retirado do blog do Prof. Paulo Ghiraldelli.
http://ghiraldelli.pro.br/2011/01/10/o-amor-sem-erotismo-nao-e-amor/

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