''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A cura do ciúme




Neurocientistas descobrem que o sentimento ativa os mesmos circuitos cerebrais que uma dor de dente, isso abre a possibilidade de um dia resolvermos as desilusões amorosas pingando um simples remedinho.


Revista Galileu no. 218 Setembro 2009


Ninguem sabe do que uma pessoa é capaz quando sente ciúme, mas a neurociência identificou quais circuitos cerebrais são ativados pelo "monstro de olhos verdes" (da expressão inglesa "Green-eyed monster", descrita por Shakespeare em Otelo). Como no caso das dores físicas, descobertas desse tipo inspiram a criação de vários remédios e tratamentos. Assim, quem estuda o assunto afirma que chegará o dia em que uma pílula vai poder evitar que pessoas percam noites de sono em soluçados prantos.
Uma pesquisa publicada pelo Instituto Nacional de Ciências Radiológicas do Japão na edição de fevereiro da revista Science mostrou que sentir inveja de uma pessoa - sentimento sempre associado ao ciúme - faz funcionar com mais intensidade o córtex anterior cingulado (CAC), mesma área que está mais ativa quando sentimos dores físicas. A pesquisa juntou voluntários para analisar perfis de outras pessoas. Quando um deles possuía mais posses materiais ou maior status social, eureca! O CAC dos demais começava a trabalhar a todo vapor. "Inveja e ciúme são literalmente emoções dolorosas", diz Hideko Takahashi, líder da pesquisa.

Apesar de ter objetivos diferentes, um estudo americano corrobora a tese e chega ao mesmo diagnóstico. Numa espécie de Big Brother acadêmico, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles montaram um jogo no qual os voluntários iam sendo excluídos, pouco a pouco. E, ao deixarem contrariados o ambiente do jogo, qual parte do cérebro ficava à beira de um ataque de nervos? Ele mesmo, o CAC.
Assim, os cientistas descobriram aquilo que os poetas e boêmios já sabem há séculos: amar dói. A vantagem é que agora a neurociência consegue provar que a rejeição social traz um sofrimento psicológico que se assemelha, pelo menos no cérebro, ao físico. E, já que dá para aplacar uma dor, digamos, real com medicamentos, pesquisadores apostam que será possível exterminar os efeitos de uma desilusão amorosa com remédios.
"Teoricamente, é possível criar medicamentos para tratar as dores da alma". diz Takahashi. Mas por enquanto não adianta sair por aí tomando um Dorflex. Segundo o cientista, ainda não se sabe que tipo composto poderia ser usado para fabricar uma droga desse tipo. E isso só vai acontecer quando os estudiosos derem o próximo passo em suas pesquisas: destrinchar o mecanismo neuroquímico exato por trás desses sentimentos. E isso ainda deve levar alguns anos.
Depois que esse desafio for vencido, vem um longo período de testes. Ou seja vamos ter de esperar mais de uma década pelo remédio que nos irá nos salvar da dor de amor.
Portanto, para manter o "monstro verde" enjaulado sem ter de apelar para um tratamento pesado, a receita, assim como o ciúme, é ancestral: tentar manter feliz a pessoa com quem você divide o teto. E torcer. Afinal, quando se trata de assuntos do coração, nada garante o sucesso de um amor.

Essa dor é necessária?

O ciúme é tão fundamental como um dia foi a nossa preferência por alimentos calóricos.


Apesar de toda a sua complexidade hoje, o ciúme originalmente tem funções básicas, simples e ancestrais: preservar o parceiro, afastar rivais e manter o companheiro fiel sexual, emocional e financeiramente.
Para os homens, o sentimento funciona como uma garantia de paternidade. "É por isso que ele é ativado quando são detectadas pistas de infidelidade sexual ou de outros 'machos' se aproximando da parceira", diz o professor de psicologia evolutiva David Buss, da Universidade do Texas, EUA, e autor do livro A paixão Perigosa (Editora Objetiva).
Para as mulheres o sentimento serve para manter o comprometimento e acesso aos recursos do companheiro, aumentando a chance de sobrevivência da prole. "O importante não é questionar se as mulheres precisam dos homens para se manter, mas se as que receberam recursos adicionais deles foram mais bem sucedidas", diz Buss.
E essa adaptação se manteve até os dias de hoje, independentemente de ela ser importante no contexto da vida contemporânea. É mais ou menos como nosso gosto por alimentos açucarados e gordurosos: o que em outros tempos foi uma vantagem adaptativa para armazenar energia, transformou-se em odiados pneuzinhos no nosso mundo sedentário.





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