''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

terça-feira, 14 de julho de 2009

A porca




Após 3 mortes (confirmadas) o governo ainda continua afirmando que não é necessário preocupação, mesmo sendo uma delas uma criança que estava fora dos padrões de risco que antes afirmavam (não saiu do país nem teve contato com pessoas que viajaram). Conversando algumas semanas atrás com professoras de minha unidade escolar sobre o risco dessa nova doença, umas afirmavam ser uma "doença de classe média" por isso o governo estava dividindo a reponsabilidade com os hospitais particulares (já que a maioria dos atendidos tinham convênio médico), nada mais justo. Mas e as pessoas que não são dessa classse abastada, mas que mantêm contato direto com eles, trabalham em aeroportos, são camareiras de hotéis, e uma infinidade de pessoas que prestam serviços diretos com passageiros que chegam dos "países de risco". Um sobrinho meu que é motorista de um diretor (não vem ao caso o nome da empresa) ficou com medo de servir ao patrão, pois o mesmo havia voltado da Argentina. O que fazer? Manter a saúde ou o emprego? Esperemos que nosso Ministro da Saúde (José Gomes Temporão) volte seus olhos para o interior do país e não somente manter vistoria nas fronteiras, mas principalmente no Estado de São Paulo onde o há o maior número de casos.
Tânia.
A porcaLUIZ FELIPE PONDÉ

Muitos dos que praticam a ciência gozam o poder e geram a paranoia



O CARO leitor já sabe que sou medieval. Por exemplo, gosto da medicina dos temperamentos. Isso não significa que não faça uso de antibióticos e vacinas e seja contra o lucro da indústria farmacêutica. Pelo contrário, julgo que, quando se trabalha bem, deve-se ganhar muito dinheiro, apesar de que suspeito que, quando você se humilha por dinheiro, ele te esnoba. Um certo desdém pelo dinheiro se faz tão necessário na boa educação quanto saber sentar de pernas fechadas constitui o caráter público das mulheres decentes.
Grande parte da história minúscula da humanidade se encontra entre as pernas das mulheres e o discreto desdém pelos valores do mundo. Vê, caro leitor? Tenho uma tendência incontrolável a pensar que a vida se dá, muitas vezes, entre secreções ordinárias e a impermeabilidade à banalidade do mundo.
Tenho cá minha própria leitura dos temperamentos. Como todo cidadão pós-moderno, respiro releituras de tudo, ao sabor do meu humor do dia. Serei hoje niilista ou não? Julgue o caro leitor.
Acho que o temperamento determina a aceitação e a produção das ideias (por isso, e por mais alguns outros vícios, sou acusado de irracionalista). Nesse sentido, penso que indivíduos apaixonados pela objetividade da ciência adoram o poder terrível que a objetividade tem sobre a frágil subjetividade, perdida em suas lembranças e seus desejos. Resumindo a ópera: esses indivíduos adoram exercer o poder sobre os outros, oferecendo como arma a força da estatística. Nesse caso, o medo da verdade estatística se assemelha à fobia de altura diante do peso da gravidade física.
Associa-se a este traço autoritário a natureza paranoica do conhecimento que Freud já suspeitara. As relações entre fatos, compondo uma cadeia de significado com o objetivo de prever outros fatos futuros, alimentam-se de hábitos paranoicos. A paranoia respira bem na atmosfera do poder, do medo e da ciência. Perguntará o leitor desconfiado: você é contra a ciência? Responde o colunista: claro que não. Seu método é excelente. Todavia, muitos dos que praticam a ciência o fazem gozando de poder e gerando paranoia.
E o pior é que, em muitos casos, gerar paranoia é parte necessária do objetivo. Exemplo banal desse caso é quando nos encontramos diante dos "medos epidemiológicos". Claro que o leitor, mesmo culto, não é obrigado a dominar o jargão da medicina preventiva. Gripes e pestes são objetos da epidemiologia. Eu mesmo só conheço o jargão porque passei anos nos bancos da faculdade de medicina, entre cadáveres, parasitas e tumores. Pensei em ser ginecologista, geneticista ou psiquiatra, mas, como sou preguiçoso, acabei filósofo. É bem verdade que o conhecimento médico nos faz sentir que o resto da humanidade permanece nas sombras ancestrais da ignorância. É gostoso saber que existem ignorantes que podemos assustar e ensinar.
Dito isso, o leitor já deve ter pensado na terrível gripe A (H1N1) "antigamente" chamada de "suína", mas que, em nome do direito dos porcos, teve seu "nome fantasia" substituído pela denominação científica. Evidentemente que além da dignidade ameaçada dos porcos e de seus criadores, seu "antigo" nome poderia nos levar a pensar (equivocadamente) que podemos contrair o maldito e assassino vírus (depois da possível mutação cantada em prosa e verso) apenas se comêssemos ou beijássemos os porcos. Seu nome científico declara mais universalmente que, mesmo comendo outros animais e beijando outras espécies, podemos pegar o vírus.
Assim como a "espanhola" nos matou em grande estilo em 1918, a "porca" poderá nos ceifar.
Infelizmente a relação entre consciência epidemiológica e paranoia pública é íntima, mesmo porque obsessão e higiene são, em se tratando de vírus, irmãs gêmeas. Talvez venhamos a descobrir que estatisticamente os portadores ou praticantes da neurose obsessiva ou transtorno obsessivo-compulsivo, TOC para os íntimos, sobrevivem melhor em tempos de consciência epidemiológica aguda. Queria tanto ter TOC nesta hora... (terão já inventado um nome novo para esse quadro clínico? Se sim, perdoem-me pelo anacronismo).
Contra a paranoia costuma funcionar o senso do ridículo. Assim, sejamos limpinhos e obedientes, mas não esqueçamos que o paranoico é ridículo no seu gozo em causar medo. Respiremos com moderação.

2 comentários:

  1. Tânia, já temos 4 vítimas, já foi confirmada a 4a. morte em SP, tem razão em dizer que as autoridades deveriam ter um outro olhar para essa doença. Vi que já postou 2 textos desse filósofo, domingo no programa Café Filosofico ele foi o entrevistado falando sobre o medo. Foi muito interessante envio o site com a entrevista http://www.cpflcultura.com.br/post/cafe-filosofico-entrevista-com-luiz-felipe-ponde.
    Menina, muito interesssantes os assuntos de seu blog, tenho indicado a conhecidos. Aproveitei o feriado pra assistir Gran Torino, depois volto pra fazer meu comentário.

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  2. "É gostoso saber que existem ignorantes que podemos assustar e ensinar."
    Esta frase inclui o Pondé no grupo dos filósofos que não apreendeu com Sócrates que dizia: "só sei que nada sei". Ok.

    "Assim, sejamos limpinhos e obedientes, mas não esqueçamos que o paranóico é ridículo no seu gozo em causar medo. Respiremos com moderação."
    Ai sim, nesta ele se redimiu.

    17/07: a imprensa já noticia 11 mortes entre nós.... pouco comparativamente a outros países, mas é preocupante. Há lugares que não existe escolha entre "manter a saúde ou o emprego", vide as mulheres grávidas na Argentina que estão afastadas dos seus empregos... mas, por enquanto, aqui podemos ainda correr o risco e irmos trabalhar.

    O virus já ´mutou`, já temos a nossa própria versão. Talvez por orgulho de não precisar dos argentinos!! Somos auto suficientes, não carece importar nada deles!!

    No começo do século a Influenza matou aproximadamente 25% da população (foram mais de 50 milhões de pessoas).
    O crescimento da população se dá de forma geométrica e esses milhões hoje seria bilhão a mais (chute). O planeta não suportaria.

    Como pensadores que somos, há de entendermos que para a nossa geração a Influenza foi uma benção....
    Quem sabe se o vírus H1N1 não será uma benção para as gerações futuras?

    O universo de quando em quando faz umas seleções naturais.

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