''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Air Doll



     Uma boneca inflável é a estrela de 'Air doll', filme do diretor japonês Kore-eda Hirokazu. Pelo menos nos primeiros minutos, até que a personagem encontra um coração e vai gradualmente se transformando na atriz Bae Doona.
Aqui, Doona é o brinquedo sexual e "companheira" de um garçom de lanchonete solitário, que conversa e cuida da boneca como se fosse uma namorada, com direito a banho de xampú de luxo e passeios noturnos no parque. Em troca, a boneca cumpre a função para a qual foi fabricada: servir como substituta para suprir os desejos sexuais de seu dono.

      À medida que vai tomando consciência de que está viva e aproveitando a ausência do patrão até a noite, a bela de plástico lança-se em caminhadas exploratórias pelo bairro, descobrindo pessoas e uma existência que jamais imaginou.
     Em uma dessas aventuras, a personagem entra pela primeira vez em uma locadora de filmes em DVD e, simpática ao balconista, acaba conseguindo um emprego de assistente no lugar. Mais do que o interesse pelo cinema, a boneca inflável se apaixona pelo colega e quase põe tudo a perder quando, certo dia, sofre um acidente na escada, rasga e começa a desinflar sob os olhos do pretendente.

      Apesar do lado cômico, inevitável, "Air doll" ("Kuki ningyo", no original) é um drama que se propõe a discutir questões como a solidão urbana e a necessidade que os humanos têm de encontrar um parceiro - ou qualquer outro elemento - para se completarem. No caso da boneca, ela logo percebe que, sem ar, em especial o ar soprado do pulmão de quem ama, sua vida não se sustenta. (Ainda no limite entre o cômico e o bizarro, está a cena de amor entre a boneca e o amigo, que sente prazer ao murchá-la e enchê-la novamente, assoprando em um bico no umbigo da parceira).


      Com cerca de duas horas de duração, o filme tem um ritmo lento e, por pertinentes que sejam as reflexões, a forma como são expressas soa simplista demais - "Ganhei um coração só para poder parti-lo", ou ainda, "Os humanos também estão cada vez mais vazios por dentro" etc. É verdade que não dá para querer muito mais que isso de uma boneca que acabou de ganhar consciência, já do diretor do surpreendente "Ninguém pode saber", vencedor do Leão de Ouro de Veneza e duas vezes indicado à Palma em Cannes, esperava-se um pouquinho mais de fôlego. 

G1 Cinema

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