''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

domingo, 18 de julho de 2010

Garota da Vitrine




     Claire Danes é Mirabelle, uma jovem frágil que chega Los Angeles, vinda do Estado de Vermont, na esperança de começar vida nova como artista. Por enquanto, porém, ela passa seus dias trabalhando no setor de luvas da loja Saks Fifth Avenue em Beverly Hills e suas noites sozinha em seu apartamento escuro em Silver Lake.

     Os dois homens da vida de Mirabelle não chegam a disputar o seu coração diretamente. Na verdade, talvez nem ela saiba como tratar este órgão que pulsa, mas não pensa. Ray entra em cena apenas depois que Jeremy já está descartado. Ao lado do primeiro, um cara desligado do mundo, ela se diverte, afasta temporariamente a sua solidão, mas não consegue ver um futuro muito promissor. Quando conhece o segundo, começam os sonhos de qualquer mulher: um homem rico, bonito, bem sucedido, romântico e carinhoso. Pena que tudo o que ele queira em troca é passar as noites com a menina quando estiver em Los Angeles. E lá está ela novamente, sozinha com o seu travesseiro. 

    
     A trama é focada nos romances da jovem Mirabelle. No início do filme, a vida afetiva da moça está tão parada quanto o seu próprio trabalho, onde fica longas horas em pé à espera de algum cliente interessado em comprar luvas. Mas tudo isso muda quando a moça conhece dois homens com características opostas.
     



     Primeiro, o atrapalhado e pé-rapado Jeremy (papel de Jason Schwartzman) e, depois, o rico e solteirão convicto Ray Porter (Steve Martin). Na esperança de encontrar o amor que lhe traga sentido à vida, Mirabelle envolve-se inicialmente com Jeremy, mas será mesmo o glamour do romance com o cinquentão Ray, o grande responsável por lhe tirar o equilíbrio.



     Ao aprofundar-se neste relacionamento iniciado como um conto-de-fadas, mas aos poucos temperado com amargor, a fita revela-se uma tocante crônica sobre as histórias de amor modernas, onde nem sempre o desfecho é o esperado.
Danes entrega uma Mirabelle com vulnerabilidade e dignidade nas medidas certas.
     O filme ainda reserva bons momentos cômicos, neste caso à cargo das trapalhadas do personagem Jeremy.
     A vida não é mesmo fácil. E este é o ponto interessante do filme. Ele mostra os desencontros entre os sentimentos dos três personagens, nos lembra que o amor independe apenas do querer de uma pessoa ou das condições financeiras dos envolvidos. É um filme que acusa os homens que um dia já foram canalhas e, de uma forma generalizada, se vinga deles, numa vã tentativa de pedir desculpas às mulheres que foram suas vítimas. Aponta também o quanto uma pessoa apaixonada pode mudar para conquistar seu alvo.
     Os dramas podem não se aprofundar muito nas questões sérias, arranhando temas como depressão e solidão na cidade grande, mas consegue trazer à superfície sentimentos que eventualmente surgirão nas vidas das pessoas.
     É nesta elegância no tratar do amor, na fuga da solidão, nos contrastes entre pretendentes tão díspares e igualmente cativantes que Garota da vitrine surpreende.
     Como aprendemos com Ray, seu personagem aqui, o dinheiro pode comprar muita coisa, mas não consegue preencher todos os vazios dos corações e lhe demonstra que algumas vezes o amor requer reciprocidade.


(...) Mas Mirabelle, sentindo a reciprocidade do seu amor pela primeira vez, afasta-se de Ray. E enquanto Jeremy oferece ainda mais seu coração, Mirabelle retribui na mesma medida. Assim, Jeremy supera Ray Porter como amante de Mirabelle, pois o que oferece a ela é terno e verdadeiro.(...)
(...) Ao ver Mirabelle se afastar, Ray Porter sentiu uma perda. Como é possível, pensou ele, sofrer por uma mulher que manteve à distância para não sentir falta dela quando ela fosse embora? Só então percebeu o quanto querer só uma parte dela fez os dois sofrerem. E como não podia justificar seus atos exceto por, bem... A vida é assim. (...)







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