''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Vai dar namoro?

Essa coisa de “bom dia ao demônio” pode ser convidativa… Lembrou-me de uma frase de Martha Medeiros que diz assim: “Tenho juízo, mas não faço tudo certo, todo paraíso precisa de um pouco de inferno!

Bjs a todos!!

 

Vai dar namoro?

15/02/2011
“É namoro ou amizade?”. Sílvio Santos fixou essa pergunta na TV. “Amor sem sexo é amizade”. Em uma frase Rita Lee disse tudo – ou quase tudo.  Amor e amizade se confundem quando somos jovens. Colegas de escola passam de amigos para namorados e vice-versa. Um dia, isso acaba. Ou pensamos que acaba. Com o tempo, começamos a imaginar que sabemos distinguir a amizade do amor. Mas, nisso, nem sempre acertamos quanto a nós mesmos e, para complicar mais ainda, também quanto ao outro de nossas relações. Quando menos se espera, eis que se está amando um amigo! E aí vem a frase na frente do espelho: “como que eu entrei nisso, justo eu,  que achava que essa confusão era coisa de pré-adolescente!”
Os filósofos tentam distinguir o amor da amizade não à toa. Há amor na amizade. Esse amor vai dar margem ao amor de casais? Ou seja, esse amor da amizade vai dar espaço para o amor do namoro, do envolvimento sexual, do casamento? Isso pode ocorrer. Por isso mesmo, lá no seu início, a filosofia, com Sócrates, se preocupou com isso. Sócrates gastou seu verbo tentando dizer o que é o amor da philia e o que é o amor de Eros. A partir daí, a filosofia, nos seus melhores momentos, jamais deixou de investigar e falar a respeito do amor de amizade e suas trombadas com o amor de amantes. Um ponto culminante dessa trajetória: Montaigne.
Num dos textos mais belos de toda a história da filosofia – “Sobre três relações” – Montaigne fala da amizade com homens, do convívio com “mulheres belas e honestas” e da companhia dos livros. Em um determinado momento desse texto ele aponta para o que pode estar no fio da navalha entre a amizade e a paixão. Ele diz, sobre a parte com as mulheres, que se trata “de uma relação em que devemos ficar um pouco com pé atrás”. E isso principalmente para aqueles que, como confessa, são como ele, os “em que o corpo pode muito”. Montaigne não deixa dúvidas: aqueles cujo corpo é competente poderão passar da amizade ao desejo e se enredar na paixão. Ele pede cuidado, mas, ao mesmo tempo, chama de covardes os que se acautelam demais. Fugir disso seria como que perder a honra por temer a exposição aos perigos (1).
Montaigne não fala em sedução. Não fala em artimanhas. Ele não as desconhece. Foi jovem e sabe bem das mulheres. Mas, na hora de escrever, ele chama a atenção para o corpo. Não qualquer corpo. O corpo que “pode”. Há corpos que não estão proibidos, mas não podem. Ou seja, corpos que não se impõem. O limite entre a amizade e o amor, quando se trata do convívio entre um homem e uma mulher (“bonita e honesta”) (*), é facilmente rompido por aqueles “em que o corpo pode muito” – insisto.
Quem diria diferente? Podemos ter uma dificuldade imensa entre saber o que é a amizade. Igual dificuldade em saber o que é o amor. Mas, quando transitamos de um para o outro, os indícios são fortes. Queremos nos enganar às vezes. Mas, enfim, a quem enganaríamos? É o corpo que se põe, não é? Primeiro, vem o cheiro do outro. O prazer do cheiro, quando se está presente, a saudade do cheiro, quando da ausência. Depois, a beleza dos gestos, do sorriso e do olhar. O esvoaçar dos cabelos. O timbre da voz. O modo de andar, de sentar e de se levantar. O toque. O tônus muscular e o tônus das partes que não têm músculo algum. Tudo isso invade o campo que, até pouco tempo, era o da amizade. Se isso é para os dois lados, muito que bem. Caso ocorra de um lado só, eis aí o infortúnio!
Ao ficarmos mais velhos, essa transição entre terrenos do amor e da amizade é fácil de ser mapeada. Então, acreditamos que jamais será possível não saber o que é que Montaigne disse com o seu “ficar com pé atrás”. Mas o corpo é matreiro. Ele finge não poder e, do nada, ele volta a poder. E eis que uma amizade cruza a fronteira. Por isso, a mulher casada inteligente é amiga do marido e não admite nenhuma outra amizade feminina que implique no convívio. Isso Montaigne não disse, sou eu que digo: o corpo que podia, pode voltar a poder. E confiar no corpo é como dar bom dia ao demônio. Nem por polidez se dá bom dia a demônio.
© 2011 Paulo Ghiraldelli Jr. Filósofo, escritor e professor da UFRRJ
Os Ensaios. São Paulo: Cia das Letras-Penguin, 2010, p. 373
(*) É claro que, aqui, Montaigne lida com o que ele viveu. Trata-se de fazer uma filosofia não conceitual, que não está preocupada em, por exemplo, falar de amor e amizade dentro de diferentes relações de gênero etc. (Peço desculpas ao leitor mais sofisticado por ter colocado essa nota. Mas, hoje em dia …)

Um comentário:

  1. Eu queгo agrаdeсer a vοcê
    pоr esta excеlеntе leіtura!
    Εu definitiѵamente amei саdа peԁacіnho dеla.
    Eu tеnho vοcê boοκmaгkeԁ seu ѕitе pаra verificar o
    novο material que você postar.
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