''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O erro de Foucault











A revolução do Irã e seu fascínio pelo martírio foram importantes no "último Foucault"
Você sabia que o pensador da nova esquerda Michel Foucault foi um forte simpatizante da revolução fanática iraniana de 1979? Sim, foi sim, apesar de seu séquito na academia gostar de esconder esse "erro de Foucault" a sete chaves.
Fico impressionado quando intelectuais defendem o Irã dizendo que o Estado xiita não é um horror.
O guru Foucault ainda teve a desculpa de que, quando teve seu "orgasmo xiita", após suas visitas ao Irã por duas vezes em 1978, e ao aiatolá Khomeini exilado em Paris também em 1978, ainda não dava tempo para ver no que ia dar aquilo.
Desculpa esfarrapada de qualquer jeito. Como o "gênio" contra os "aparelhos da repressão" não sentiu o cheiro de carne queimada no Irã de então? Acho que ele errou porque no fundo amava o "Eros xiita".
Mas como bem disse meu colega J. P. Coutinho em sua coluna alguns dias atrás nesta Folha, citando por sua vez um colunista de língua inglesa, às vezes é melhor dar o destino de um país na mão do primeiro nome que acharmos na lista telefônica do que nas mãos do corpo docente de algum departamento de ciências humanas. E por quê?
Porque muitos dos nossos colegas acadêmicos são uns irresponsáveis que ficam fazendo a cabeça de seus alunos no sentido de acreditarem cegamente nas bobagens que autores (como Foucault) escrevem em suas alcovas.
No recente caso da USP, como em tantos outros, o fenômeno se repete. O modo como muito desses "estudantes" (muitos deles nem são estudantes de fato, são profissionais de bagunçar o cotidiano da universidade e mais nada) agem, nos faz pensar no tipo de fé "foucaultiana" numa "espiritualidade política contra as tecnologias da repressão".
E onde Foucault encontrou sua inspiração para esse nome chique para fanatismo chamado "espiritualidade política"?
Leiam o excelente volume "Foucault e a Revolução Iraniana", de Janet Afary e Kevin B. Anderson, publicado pela É Realizações, e vocês verão como a revolução xiita do Irã e seu fascínio pelo martírio e pela irracionalidade foram importantes no "último Foucault".
As ciências humanas (das quais faço parte) se caracterizam por sua quase inutilidade prática e, portanto, quase impossibilidade de verificação de resultados.
Esse vazio de critérios de aplicação garante outro tipo de vazio: o vazio de responsabilidade pelo que é passado aos alunos.
Muitos docentes simplesmente "lavam o cérebro" dos alunos usando os "dois caras" que leram no doutorado e que assumem ter descoberto o que é o homem, o mundo, e como reformá-los. Duvide de todo professor que quer reformar o mundo a partir de seu doutorado.
Não é por acaso que alunos e docentes de ciências humanas aderem tão facilmente a manifestações vazias, como a recente da USP, ou a quaisquer outras, como a dos desocupados de Wall Street ou de São Paulo.
Essa crítica ao vazio prático das ciências humanas já foi feita mesmo por sociólogos peso pesado, em momentos distintos, como Edmund Burke, Robert Nisbet e Norbert Elias.
Essa crítica não quer dizer que devemos acabar com as ciências humanas, mas sim que devemos ficar atentos a equívocos causados por essa sua peculiar carência: sua inutilidade prática e, por isso mesmo, como decorrência dessa, um tipo específico de cegueira teórica. Nesse caso, refiro-me ao seu constante equívoco quanto à realidade.
Trocando em miúdos: as ciências humanas e seus "atores sociais" viajam na maionese em meio a seus delírios em sala de aula, tecendo julgamentos (que julgam científicos e racionais) sem nenhuma responsabilidade.
Proponho que da próxima vez que "os indignados sem causa" ocuparem a faculdade de filosofia da USP (ou "FeFeLeCHe", nome horrível!) que sejam trancados lá até que descubram que não são donos do mundo e que a USP (sou um egresso da faculdade de filosofia da USP) não é o quintal de seus delírios.
Agem com a USP não muito diferente da falsa aristocracia política de Brasília: "sequestram" o público a serviço de seus pequenos interesses.
No caso desses "xiitas das ciências humanas", seus pequenos delírios de grande "espiritualidade política".
ponde.folha@uol.com.br

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A revolução dos "bichos grilos" mimados da USP

A revolução dos “bichos grilos” mimados da USP

 José Nêumanne
 O Estado de São Paulo

É proibido fumar maconha na nave da Sé, na rua, nas boates e no câmpus da Universidade



A Universidade de São Paulo (USP) é a maior instituição de ensino superior do Brasil. Com 11 câmpus e 89 mil alunos matriculados, dos quais 50 mil na Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, figura também entre os mais reconhecidos centros de excelência em pesquisa científica e produção de pensamento filosófico do subcontinente latino-americano. No entanto, nenhum de seus mais respeitáveis mestres de Matemática será capaz de explicar de que tipo de legitimidade foram ungidos os 73 vândalos que ocuparam dois prédios – um da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e outro da Reitoria – para merecerem do reitor anistia “administrativa” pelos danos cometidos contra o patrimônio, de propriedade da cidadania brasileira, que sustenta suas atividades de aprendizado. Nem sequer o grego Aristóteles, preceptor de Alexandre, o Grande, encontraria alguma lógica na concessão dada a, digamos, 600 estudantes para decidirem sobre a permanência de jovens turbulentos e estranhos ao expediente nos dois prédios, a pretexto de protestarem contra a presença da Polícia Milita (PM) no câmpus, que consideram “território sagrado” e inviolável..
Quem se depara com a informação de que os invasores dos prédios só admitiam negociar com a Reitoria se os policiais fossem afastados da Cidade Universitária pode ter a falsa ideia de que, de repente, num pesadelo inimaginável, tivéssemos voltado à ditadura, que reprimia a liberdade acadêmica. Nada disso! Entre janeiro e abril deste ano, os roubos no câmpus aumentaram 13 vezes e os atos de violência – entre os quais estupros e sequestros relâmpagos – cresceram 300%. Em maio, um estudante de Economia foi morto num assalto. O sangue dele foi a gota que fez o cálice transbordar e a direção da USP assinar um convênio com a PM para que soldados fizessem o papel que vinha sendo desempenhado por 130 agentes de segurança patrimonial, que, em dois turnos, vigiavam dezenas de prédios e vários estacionamentos e garantiam a segurança de 100 mil pessoas que circulam todo dia pelas ruas da sede da USP. Em quatro meses de policiamento, os furtos de veículos caíram 92,3%; os sequestros relâmpagos, 87,5%; os roubos, 66,7%; e os delitos de lesão corporal, 77,8%.
Tudo corria muito bem até o dia em que policiais militares que patrulhavam as ruas amplas e arborizadas do aprazível local abordaram três alunos que fumavam maconha no prédio da História e da Geografia. Quando tentaram levá-los para o 91.º Distrito Policial (DP) para registrar a ocorrência, os agentes da lei foram atacados por uma horda de cerca de 200 estudantes. Do entrevero resultaram policiais feridos e seis viaturas apedrejadas. Minorias radicais que controlam diretórios acadêmicos e sindicatos de servidores e professores  usaram o incidente como pretexto para um violento protesto contra a presença da polícia “repressora” em “seu” câmpus. Os rebeldes ocuparam um prédio da FFLCH, transformado em QG de sua guerra contra a “neorrepressão”.


A congregação da faculdade cujo prédio foi invadido apoiou a invasão e a reivindicação dos amotinados. Mas, numa demonstração de que, felizmente, é possível estudantes aprenderem certo, mesmo quando seus mestres ensinam errado, a maioria dos alunos aprovou, em duas assembleias, a imediata desocupação dos prédios e o policiamento das ruas. A decisão era de uma sensatez cristalina. Afinal, as únicas prejudicadas com a presença de policiamento no local foram as quadrilhas instaladas nas favelas que cercam a sede da universidade, os quais tiveram reduzidos seus lucros no furto de bens, na sevícia de pessoas e na venda de drogas. A serviço dessas quadrilhas – da mesma forma que as Farc, na Colômbia, se tornaram a guarda pretoriana dos traficantes de cocaína e o crime organizado no México se aliou ao terrorismo internacional patrocinado pelo Irã –, os grupelhos esquerdistas desprezaram a decisão democrática dos colegas, ocuparam a Reitoria e exigiram a retirada da polícia para negociar a retirada.
Ao invadirem os prédios, mascarados, os ativistas da revolução dos filhinhos dos papais da USP mostraram que não tinham vergonha de se comportar como os assaltantes de diligências no Velho Oeste americano. E que contavam com a possibilidade de não ser identificados na hora de terem de pagar por seus crimes. Ao aceitar sua exigência de que os anistiaria desses delitos, o reitor João Grandino Rodas agiu com a pusilanimidade com que habitualmente os administradores universitários enfrentam esses delinquentes.

Desde que a escolha dos reitores passou a ser feita pelo voto de alunos, funcionários e professores, a politicagem vem sendo a moeda de troca que tem permitido esse tipo de baderna, nociva ao livre aprendizado e à pesquisa que a sociedade paga caro para manter em instituições como a USP. Felizmente, contudo, a autoridade policial não precisa dos votos dos baderneiros e fez o que devia ser feito: numa operação espetacular e exemplar, retomou os prédios dos invasores e os levou em ônibus para a delegacia, da qual cada “bicho grilo” mimado só saiu depois de pagar fiança de R$ 545, valor razoável para as famílias de privilegiados de elite que não frequentam aulas que poderiam estar sendo ministradas a filhos de pobres, que pagam as contas da USP e não têm chance de frequentar seus cursos caros e disputados.
O câmpus de qualquer instituição acadêmica é sagrado para a transmissão do saber, não para o consumo de drogas. É proibido fumar maconha na nave da Sé, na rua, em boates e na Cidade Universitária. Os “bichos grilos” mimados que se disseram “torturados” por terem sido levados de ônibus – e não nos carrões dos pais – para a delegacia devem ser fichados como bandidos comuns e expulsos da universidade para outros que querem e precisam estudar recebam a educação que eles desprezam.
Jornalista, escritor e editorialista do Jornal da Tarde
(Publicado na Pág. A02 do Estado de S. Paulo de quarta-feira 9 de novembro de 2011)

sábado, 29 de outubro de 2011

O Palhaço

     Selton Melo é um homem apaixonante, seu jeito meigo conquista à primeira vista. "O Palhaço" é um filme singelo, que mostra a realidade dos circos mambembes que existiam no interior do Brasil. Filas imensas pra ver os filmes hollyoodianos enquanto esse só haviam 5 pessoas na sala de cinema. Recomendadíssimo!!
Beijos a todos!



     "O Palhaço", segundo filme dirigido por Selton Mello, que estreia nesta sexta-feira, é uma daquelas histórias que são repletas de momentos singelos, situações bobas até, mas que transformam nossa vida em algo especial. Selton também atua no longa e interpreta Benjamin, palhaço do Circo Esperança. Ele divide o picadeiro com seu pai, Valdemar, interpretado por Paulo José. Juntos, formam a dupla Pangaré e Puro Sangue. A trupe percorre o interior de Minas Gerais numa pequena caravana, fazendo espetáculos em cidades como Passos e Montes Claros.
     Selton até disse que não se deixou influenciar pelos filmes de que gosta para criar "O Palhaço". Mas é possível ver referências a Federico Fellini e Wes Anderson, entre outros. Mas como o ator afirmou em julho, durante o Festival de Cinema de Paulínia, onde o longa foi exibido pela primeira vez, "O Palhaço" tem muito de "Os Trapalhões" e também de Charles Chaplin. "É inevitável a referência de Fellini. Ele filmou, de forma definitiva, o teatro", comentou Selton.
      Com o pai ficando cada vez mais velho, Benjamin passa a assumir diversas funções administrativas dentro do circo. A responsabilidade passa a sufocá-lo, já que ele tem que resolver muitos problemas do negócio, mas não tem tempo para resolver os dele. Como o fato de não ter, por exemplo, uma carteira de identidade. Em crise, Benjamin passa a se questionar se deve seguir com a vida nômade de palhaço, ou abandonar tudo e seguir novos rumos. Mas, até chegar a essa conclusão, ele e a trupe irão passar por engraçadíssimas situações.
     Essas passagens são interpretadas por convidados especiais, como Moacyr Franco, Jorge Loredo (o Zé Bonitinho) e Luiz Pereira Neto (o Ferrugem). A participação de Moacyr Franco no longa, de apenas três minutos, é impagável. Ele interpreta o delegado Justo, que prende o bando após se meterem numa confusão de bar. Já Jorge Loredo é o dono de uma loja de ventiladores que passa as noites contando piadas sem graça para seus funcionários. Selton destacou também que, na hora de formar o elenco, quis misturar atores experientes e iniciantes. "É assim no circo. Uma mistura de gerações". É o caso da atriz Giselle Motta, de 29 anos, que faz seu primeiro filme. Antes, ela trabalhou com circo nos Estados Unidos.
     A história é ambientada nos anos 80 - época que, segundo Selton, é a época de sua juventude e o período da vida de que mais tem saudade. O palhaço que Selton criou é também triste e depressivo. Para isso, o ator também tem resposta. "A maioria dos palhaços que conheço são tristes".
No longa, o diretor também arrumou espaço para homenagear sua cidade natal, Passos. Em uma cena, Benjamin viaja até Passos atrás de uma mulher, e lá encontra o dono de uma loja de autopeças. O rapaz é interpretado por Danton Mello, irmão de Selton. As informações são do Jornal da Tarde.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Chapeuzinho vermelho sem lobo mau

 Minha opinião talvez desagrade as "feministas de plantão", mas que inveja do tempo de nossas avós em que elas ficavam em casa tricotando e cuidando dos filhos, por causa dessas que queriam "direitos iguais" trabalhamos em 3 ou até mais turnos para sermos vistas como independentes. Tiramos dos homens a necessidade de ser o provedor, o protetor e o progenitor, visto isso eles abriram mão do cavalheirismo que antes era inato ao gênero...


Chapeuzinho vermelho sem lobo mau

Não há nada no mundo que me dê mais sono do que uma feminista falando sobre o patriarcalismo


      Outro dia duas amigas, mulheres bonitas e jovens, emancipadas, se lamentavam porque os homens de hoje não abrem portas, não deixam as mulheres se sentarem, não pagam a conta, enfim, não são cavalheiros.
Claro, nem elas, nem eu assumimos que isso seja uma queixa nova na velha lista de queixas devido à emancipação feminina.
      Mas nem tudo são perdas na emancipação feminina, só um ignorante ou um mau-caráter diria uma coisa dessas. Para usar uma expressão do mundo dos recursos humanos em finais de semana de treinamento para motivação (nada mais brega no mundo do que workshops de motivação, não?), a emancipação feminina, como tudo mais, tem seu "lado mais" e seu "lado menos".
      Disse a elas o óbvio: "Mas, para receber esse tratamento, vocês têm de obedecer, meninas!". Rimos muito com isso.
Claro que, antes que algum inteligentinho berre dizendo que esta é uma observação machista, a expressão "obedecer" aqui nada tem a ver com "Amélia traga minha cerveja já".
A expressão "obedecer" aqui tem mais a ver com aquele gostinho gostoso do jogo homem-mulher, entre quatro paredes, no qual homens são lobos maus e mulheres chapeuzinhos vermelhos (ou meninas da capa vermelha como está mais na moda falar depois do recente filme).
Tenho de explicar tudo porque umas das coisas que a "crítica ideológica" da relação entre os sexos causa em quem acredita nela (além da chatice usual) é a perda do senso de sutileza.
      Quando os homens não podem pensar nas mulheres como objetos sexuais no seu dia a dia (o que não implica ser mal-educado, aliás, falta de educação aqui é antes de tudo falta de conhecimento do "objeto em questão", objeto este que demanda cuidados na "manipulação" porque é inclusive "explosivo") sem que alguma chata fale palavras como "machismo", "patriarcalismo", "blá-blá-blá", acaba-se perdendo a vontade de "mandar na Chapeuzinho Vermelho". O lobo mau desiste de ser mau.
      O que as mais chatinhas não entendem é que público e privado se misturam para além de suas críticas ao "poder masculino". E que, à medida que as mulheres se tornam "iguais" aos homens, muitos acham que não há porque as desejar tanto assim.
      Não há nada no mundo que me dê mais sono do que uma feminista. Principalmente quando o assunto é a tal crítica do patriarcalismo (o "poder masculino").
      Interessante como tem gente que, além de apontar os abusos reais que existem no mundo por conta de os homens serem mais fortes do que as mulheres (atenção: não esqueça, cara leitora da capa vermelha, que essa força maior do homem é parte do lobo mau que a menina da capa vermelha em você tanto gosta...), ama dizer que mesmo a poluição é fruto do patriarcalismo. Pode uma coisa dessas?
Isto é, "sociedades matriarcais" não poluiriam o mundo porque não seriam gananciosas e acumulativas.
      Alguém já olhou um armário de uma mulher e contou o número de pares de sapato e de vestidos que ela tem? Nada acumulativas. Ou o número de batons?
      Nada contra, já disse muitas vezes, a vaidade numa mulher é sua segunda pele, só mulheres mal-educadas ou muito infelizes não são vaidosas. Quanto mais cores diferentes de batom, melhor.
      Mas as "invejosas do falo" (diriam as psicanalistas mais clássicas) adoram dizer que "tudo é política", logo, "tudo é ideologia patriarcal".
Se as mulheres se sentem sozinhas, isso é uma questão política. Se alguém vomitar de medo, isso é uma questão política. Se as mulheres têm pressão arterial mais baixa do que os homens, isso é culpa do patriarcalismo (logo, é política), porque foram os homens que escreveram os tratados de fisiologia, logo...
      Enfim, nada mais machista por parte da seleção natural do que fazer com que as mulheres fiquem grávidas e não os homens, porque assim as obrigou a serem mais seletivas no sexo, porque afinal pagam caro por ele.
      Ou será que isso também é opressão patriarcal? Úteros e ovários são a prova cabal de que o universo é patriarcal? A dor do parto é parte desse plano de opressão?
      Será que, se criticarmos bem o patriarcalismo, os homens ficarão grávidos e não mais as mulheres?

ponde.folha@uol.com.br

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Protocolos do afeto



Protocolos do afeto



A prática do afeto na convivência em família pode ser apenas protocolo para despistar o desespero



      Famílias podem ser máquinas de moer gente. Uma das marcas de nossa fragilidade é depender monstruosamente de laços tão determinantes e ao mesmo tempo tão acidentais. O acaso de um orgasmo nos une.
      Em meio a jantares e almoços intermináveis, o horror escorre invisível por entre os corpos à mesa.
      Talvez muitos pais não amem seus filhos e vice-versa. Quem sabe, parte do trabalho da civilização seja esconder esses demônios da dúvida sob o manto de protocolos cotidianos de afeto.
      Até o darwinismo, uma teoria ácida para muitos, estaria disposta a abençoar esses protocolos com a sacralidade da necessidade da seleção natural. Mesmo ateus, que costumeiramente se acham mais inteligentes e corajosos, tombam diante de tamanho gosto de enxofre.
      Pergunto-me se grande parte do sofrimento psíquico e moral de muita gente não advém justamente da demanda desses protocolos de afeto. Da obrigação de amar aqueles que vivem com você quando a experiência desse mesmo convívio nos remete a desconfiança, indiferença, abusos, mentiras e mesmo ódio.
      A horrorosa verdade seria que existem pessoas que não merecem amor? Pelo menos não de você. Mas você é obrigado a amar irmãos, filhos, pais, avós, e similares. E, se não os amar, você adoece.
      Um sentimento vago de desencontro consigo pode ocorrer se um dia você se perguntar, afinal, por que deve amar alguém que por acaso calhou de ter o mesmo sangue que você? Alguém que é fruto de um ato sexual entre o mesmo homem e a mesma mulher que o geraram em outro ato sexual.
      Quem sabe a força do "mesmo sangue" seja uma dessas coisas que a experiência moderna esmagou, assim como a crença, para muita gente já vazia, no sobrenatural, na providência divina ou no amor romântico. Sim, o niilismo teria aí uma de suas últimas fronteiras?
      É comum remeter esse vazio da perda dos vínculos de afeto ao mundo contemporâneo da mercadoria. Apesar de ser verdade que os laços humanos se desfazem sob o peso do mundo do capital, parece-me uma ingenuidade supor que o mal da irrealidade dos afetos seja "culpa" do capital.
      É fato que a modernidade destrói tudo em nome da liberdade do dinheiro, mas é fato também que não criou a espécie em sua miséria essencial. A melancolia tem sido a verdade do mundo muito antes da invenção do dólar.
      Por que devo amar alguém apenas porque essa pessoa me carregou em sua barriga por nove meses? Ou porque penetrou, num momento de prazer sexual, a mulher que iria me carregar em sua barriga por nove meses?
      Por alguma razão, questões como essas parecem mais sagradas do que Deus, o bem e o mal, ou a vida após a morte. Como se elas devessem ser objetos de maior fé do que as religiosas. Ou porque elas garantem a convivência miúda e tão necessária para a estabilização da sociedade. Só monstros colocariam em dúvida tal sacralidade.
      Mas quantas horas nós passamos vasculhando nossas almas em busca de afetos que, muitas vezes, podem ser o contrário do que deveríamos sentir? Ou não achamos nada além da indiferença?
      Às vezes, a pergunta pelo amor pode ser apenas um protocolo contra o desespero.
      Estamos preparados para pôr em dúvida a normalidade sexual no caso de mulheres que gostam de fazer sexo com cachorros, mas não estamos preparados para suspeitar que grande parte de nosso amor familiar não passe de protocolo social.
      Rapidamente, suspeitaríamos que estamos diante de pessoas doentes e sem vínculos afetivos.
      Por que, afinal, mulheres homossexuais correm em busca de "misturar" óvulos de uma com a barriga da outra, como se, assim, mimetizassem o coito reprodutivo heterossexual? Será que é amor por uma criança que ainda nem existe ou apenas um desejo secreto de ser "normal"?
Ter filhos é prova desse amor ou apenas um impulso cego que se despedaça a medida que os anos passam?
      Um dos nossos maiores inimigos somos nós mesmos, mais jovens, quando tomamos decisões que somos obrigados a manter no futuro. Com o tempo, algo que nos parecia óbvio se dissolve na violência banal de um dia após o outro. Como que diante de um espelho de bruxa.

domingo, 18 de setembro de 2011

Os infortúnios da "melancolia"


Os infortúnios da melancolia

No filme de Lars von Trier, melancolia não é só o nome de uma doença, mas o nome de um planeta



      Marquês de Sade (século 18) escreveu, entre outras obras, "Justine ou os Infortúnios da Virtude", sempre vista como uma obra erótica ou de crítica política. Mas ela é mais do que isso.
      Se Sade fosse apenas um escritor "jacobino" (como fazem dele os maníacos por crítica política) ou um escritor que só fala de sexo (como fazem dele os risíveis defensores da redenção humana através de uma gozada na boca de uma assustada menina de 13 anos que engole o esperma em prantos), ele seria um escritor menor.
      Não, Sade era um filósofo que achava que a natureza é má, incluindo a natureza humana e sua história. O "divino" marquês se inscreve numa tradição (dos trágicos, gnósticos, maniqueus, cátaros) que se pergunta se a natureza (ou Deus) não seria em si má, cruel e perversa. Não seria o cosmo uma câmara de torturas?
      Eu, nos meus piores dias, me pergunto se essa tradição não teria razão. Guardo-a em minha alma como um veneno íntimo, uma irmã gêmea, sempre em vigília, pronto a me asfixiar de lucidez.
      A marca mais "física" dessa dúvida (quanto à validade da vida e de seus infinitos rituais inúteis) é quando o corpo fica muito pesado e o próprio caminhar se torna uma tarefa impossível -como no caso da personagem melancólica Justine do novo filme de Lars von Trier, "Melancolia".
      Muitos dos grandes filósofos, como Descartes, Pascal, Leibniz e Kant (entre outros) temiam que esses pessimistas tivessem razão e que o único afeto inteligente diante da vida fosse a tristeza, ou, melhor dizendo, num vocabulário filosófico elegante, a melancolia. Se os melancólicos tiverem razão, "não há esperanças para nós", como vaticina a profetisa melancólica Justine de Von Trier.
      O cineasta dinamarquês vem dialogando com essa tradição há algum tempo. Sua briga não é com a sociedade apenas contemporânea (ou do "capital", como creem os ingênuos ou mal informados), sua discussão é bem mais profunda do que pensa nossa vã filosofia.
      Em "Dogville", Grace (graça!), mulher linda, trabalhadora e generosa, ao final, se torna, com razão, vingativa e assassina porque os habitantes de Dogville eram como cães miseráveis. Em "Anticristo", a mãe prefere gozar a impedir que o filho pule pela janela (além de torturá-lo com pequenas coisas ao longo de sua curta vida). Ela é a testemunha encarnada de que "aqui reina o caos" e de que a "natureza é o templo de Satã".
      A razão, em "Dogville", e a psicologia "científica", em "Anticristo", são objetos de ironia cruel. Em "Melancolia", o cunhado milionário da melancólica é o risível (e covarde) crente nos cálculos da ciência oficial que nega a rota de colisão entre a Terra e o gigantesco planeta chamado Melancolia.
      Lars von Trier nos dá sua versão dos infortúnios de Justine. Se em Sade ela é a vítima indefesa da crueldade de uma natureza que ama torturar suas criaturas, revelando a inutilidade da virtude no mundo (lembremos que Sade usa o nome Justine como alternativa para "infortúnio"), em Von Trier ela é a vítima indefesa da melancolia porque (sempre) percebeu que "a vida na Terra é má" e condenada. Um acaso isolado e único no universo: "Estamos sós", diz a profetisa Justine.
      Mesmo a comida mais gostosa revelará seu sabor verdadeiro: a substância última das coisas são as cinzas. Ao tocar o mundo com a boca, a profetisa Justine sente o "gosto" da verdade infeliz das coisas.
      No filme, melancolia não é apenas o nome de uma doença, mas o nome do planeta que prova que os melancólicos são profetas.
      Quando finalmente se comprova a inevitabilidade da "dança da morte" (nome dado no filme para a rota de colisão), Justine aparentemente sai da tristeza e se revela a mais corajosa das duas irmãs. Ela não se cura, o universo é que deixa de "mentir" sobre si mesmo.
      Numa noite clara, ela oferece seu corpo nu ao planeta Melancolia, como uma mulher apaixonada faz para seu amante, buscando seu beijo. Uma declaração de amor à morte.
      Imagine, nesta segunda-feira, por um instante, se Justine tiver razão e estivermos mesmo sós num universo feito de cinzas.

ponde.folha@uol.com.br

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Marketing francês


Marketing francês

Nada há na Revolução Francesa que remotamente tenha a ver com liberdade, igualdade e fraternidade


A Revolução Francesa (1789-1799) é um fenômeno de marketing. Foi importante para medirmos a febre de um país sob um rei incompetente e não para nos ensinar a vida cotidiana em democracia.
Nada há na Revolução Francesa que tenha a ver com liberdade, igualdade e fraternidade. Essas palavras são apenas um slogan que faz inveja a qualquer redator publicitário.
Esse slogan, aliado ao que os revolucionários fizeram (mataram, roubaram, violentaram, enfim, ideologizaram a violência em grande escala), é uma piada.
É uma aula de marketing político: todo mundo cita a Revolução Francesa como ícone da liberdade.
O marketing da revolução ficou a cargo da filosofia. Primeiro caso na história de um fato claramente ideologizado para vermos nele outra coisa. Os "philosophes" do Iluminismo contribuíram muito para essa matriz do marketing político de todos os tempos, a Revolução Francesa.
Começa com a criação da ideia de que existe uma coisa chamada "povo que ama a liberdade" para além da violência que ele representa quando desagradado.
"Povo" é uma das palavras mais usadas na retórica democrática e mais sem sentido preciso.
A única precisão é quando há violência popular ou quando muitos morrem de fome por conta da velha miséria moral humana.
As "cheerleaders" da primavera árabe têm orgasmos nas ruas de Damasco, Trípoli, Cairo e Tunis. Já imaginam os árabes lendo Rousseau, Marx e Foucault (que, de início, "adotou" a revolução iraniana).
Dançam para esses movimentos como se ali não estivessem em jogo divisões religiosas atávicas do próprio islamismo, quase total ausência de instituições políticas, tribalismo atroz, grupos religiosos fanáticos muito próximos do crime organizado, para não falar do óbvio terrorismo.
De vez em quando, o "povo" mata, lincha, violenta e destrói cidades, a casa dos outros e o diabo a quatro.
Mas como (e isso é um dado essencial do efeito do marketing da Revolução Francesa) pensamos que o mundo começou em 1789, achamos que o "povo" nunca destruiu tudo o que viu pela frente antes da queda da Bastilha.
A historiadora americana Gertrude Himmelfarb, em seu livro essencial "Caminhos para a Modernidade", publicado no Brasil pela É Realizações, chama o iluminismo francês de "ideologia da razão", com toda razão.
Os "philosophes" criaram um fantasma chamado "la raison", que seria a deusa dos revolucionários.
Se no plano bruto "la raison" justificaria assassinatos nos tribunais populares (que deixam as "cheerleaders" dos movimentos populares até hoje em orgasmo), no plano sofisticado do pensamento, seria a única capaz de entender e organizar o mundo desde então.
Esse fantasma da "la raison" nada tem a ver com a necessária faculdade humana de pensar para além dos desejos e medos humanos, que é muito dolorosa e rara.
Ela é uma deusa mítica que ficaria no lugar do Deus morto, dando a última palavra para tudo.
Foram muito mais os britânicos e americanos que nos ensinaram a vida cotidiana em democracia. Mas o iluminismo anglo-saxão não foi marqueteiro.
Nas palavras de Himmelfarb, os britânicos, com sua "sociologia das virtudes", buscavam compreender como as pessoas e as sociedades geram virtudes e vícios. Entre elas, a benevolência e o hábito de respeito à lei comum.
Os filósofos americanos criaram uma "política da liberdade", nas palavras de Himmelfarb.
Eles associavam a qualidade de pensadores a de homens políticos práticos que investigavam a liberdade, não como uma ideia abstrata, mas como algo a ser preservado pela lei da tentativa contínua do homem em destruí-la em nome de qualquer delírio.
Daí as instituições americanas serem as mais sólidas, até hoje, em termos de defesa dos indivíduos contra os delírios do governo e do Estado.
Os britânicos e os americanos nos ensinaram a liberdade que conhecemos e que dá a você o direito de dizer e pensar o que quiser nos limites da lei.
É hora de deixar nossos alunos lerem mais Locke, Hume, Burke, Tocqueville, Stuart Mill, Oakeshott, Berlin, os federalistas e antifederalistas, Rawls, Strauss e não apenas Rousseau, Marx e suas crias.
ponde.folha@uol.com.br

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Cadastro Thanatos

Cadastro Thanatos








Você é do tipo que pensa no que come todos os dias? Parabéns, porque ganhará desconto no seguro saúde


     Certa vez, como nos conta Gustav Janouch, em seu livro "Conversações com Kafka", ele reclamou que não estava entendendo nada que Kafka falava (os dois tinham o hábito de conversar caminhando por Praga).
     Kafka teria respondido algo assim: "Hoje estou tão pessimista que deve ser a misericórdia de Deus que está protegendo você. Pois, se me entendesse, sendo você ainda muito jovem, o que estou dizendo lhe destruiria".
     Será que Deus vai protegê-lo hoje, caro leitor?
     Você é daquele tipo de pessoa que pensa no que come todos os dias? Conta calorias? Parabéns se você for, porque ganhará desconto no seguro saúde.


     Muita gente acha que Aldous Huxley, em seu livro "Admirável Mundo Novo", se enganou, porque o mundo não marchou em direção a regimes totalitários.
     Eu acho que ele acertou em tudo, inclusive na possibilidade de governos totalitários. Veja o caso da China. Se as pessoas tiverem comida e iPads elas estarão dispostas a abrir mão de tudo, mesmo dessa bobagem chamada democracia. Pisarão em qualquer cabeça por um iPad, como antes pisavam por qualquer outra bobagem.
     É isso que as "cheerleaders" dos saques em Londres (essa farra das redes sociais) não entendem. Além do problema do governo centralizador, o equívoco em achar que Huxley errou está em não perceber que a chave do controle das vidas não está em formas centralizadoras de governo, mas em não percebermos que somos nós mesmos que pedimos controle sobre nossas vidas em troca de formas variadas de felicidade e segurança.
     O que Huxley entendeu, e nós, não, é que a ganância pela felicidade (a saúde total é apenas uma de suas formas mais bregas) nos levaria ao admirável mundo novo.
     Meu Deus, por que temos de ser uma espécie assim tão infeliz? Por um lado, a vida é dura o bastante para querermos (com razão) ser felizes, mas, por outro lado, a busca pela felicidade nos faz de gado alegre. Escolha maldita: ser infeliz, morrer jovem ou virar gado e ter uma dieta balanceada. E para tal, estaremos dispostos a ter fiscais de nossos hábitos cotidianos de saúde em nossas cozinhas.
     Nessas horas, sinto o pessimismo tomar conta de mim como um líquido negro e viscoso a entrar pela minha boca e pelo meu nariz, fazendo-me engasgar. Vejo o mundo como um parque zoológico de pessoas sorridentes e saudáveis, todas felizes em ter um "retorno" financeiro em troca de abrir suas casas e suas vidas para profissionais de "qualidade de vida" avaliarem suas refeições diárias.
     Você ouve o interfone tocar? É ela, a avaliadora de sua qualidade de vida. Sorria e acima de tudo tenha em mãos as provas de que colabora com a sua própria saúde. Não seja um inimigo de sua própria felicidade fisiológica. Seja pró-ativo.
     Imagino alguém bonito, simpático, espiritualizado, provavelmente um budista light, checando os nutrientes na alimentação da sua família. Talvez você possa agendar a visita via internet -afinal hoje em dia ninguém tem tempo pra nada, não é?
     Imagine o número de empregos para as novas xamãs do mundo, as nutricionistas...
     Se, desde cedo, você tomar as decisões alimentícias corretas para seus filhos, provavelmente a apólice de seguro saúde deles sairá bem mais em conta. Meus olhos se enchem de lágrimas ao perceber como o mundo melhora a cada passo.
     A lógica de fundo é que ninguém racional quer morrer cedo, logo, só uma pessoa irracional, contraproducente, antissocial e, por fim, passível de alguma forma de punição, seria capaz de não ver isso tudo como um passo justo para "agregar valor" a nossa vida.
     Aliás, uma pessoa assim, intratável, talvez, devesse num futuro próximo ser multada, porque ela não só onera os custos de seguro saúde da família como os da empresa de seguro saúde e, por fim, os do próprio Estado. Quem sabe devêssemos "evoluir" para a proibição de contas bancárias, crédito ao consumidor ou mesmo passaporte?
     Quem sabe o Ministério da Saúde poderia criar um cadastro de pessoas inadimplentes em cuidados com a própria qualidade de vida. O nome poderia ser CTH (Cadastro Thanatos).
                                  

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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Air Doll



     Uma boneca inflável é a estrela de 'Air doll', filme do diretor japonês Kore-eda Hirokazu. Pelo menos nos primeiros minutos, até que a personagem encontra um coração e vai gradualmente se transformando na atriz Bae Doona.
Aqui, Doona é o brinquedo sexual e "companheira" de um garçom de lanchonete solitário, que conversa e cuida da boneca como se fosse uma namorada, com direito a banho de xampú de luxo e passeios noturnos no parque. Em troca, a boneca cumpre a função para a qual foi fabricada: servir como substituta para suprir os desejos sexuais de seu dono.

      À medida que vai tomando consciência de que está viva e aproveitando a ausência do patrão até a noite, a bela de plástico lança-se em caminhadas exploratórias pelo bairro, descobrindo pessoas e uma existência que jamais imaginou.
     Em uma dessas aventuras, a personagem entra pela primeira vez em uma locadora de filmes em DVD e, simpática ao balconista, acaba conseguindo um emprego de assistente no lugar. Mais do que o interesse pelo cinema, a boneca inflável se apaixona pelo colega e quase põe tudo a perder quando, certo dia, sofre um acidente na escada, rasga e começa a desinflar sob os olhos do pretendente.

      Apesar do lado cômico, inevitável, "Air doll" ("Kuki ningyo", no original) é um drama que se propõe a discutir questões como a solidão urbana e a necessidade que os humanos têm de encontrar um parceiro - ou qualquer outro elemento - para se completarem. No caso da boneca, ela logo percebe que, sem ar, em especial o ar soprado do pulmão de quem ama, sua vida não se sustenta. (Ainda no limite entre o cômico e o bizarro, está a cena de amor entre a boneca e o amigo, que sente prazer ao murchá-la e enchê-la novamente, assoprando em um bico no umbigo da parceira).


      Com cerca de duas horas de duração, o filme tem um ritmo lento e, por pertinentes que sejam as reflexões, a forma como são expressas soa simplista demais - "Ganhei um coração só para poder parti-lo", ou ainda, "Os humanos também estão cada vez mais vazios por dentro" etc. É verdade que não dá para querer muito mais que isso de uma boneca que acabou de ganhar consciência, já do diretor do surpreendente "Ninguém pode saber", vencedor do Leão de Ouro de Veneza e duas vezes indicado à Palma em Cannes, esperava-se um pouquinho mais de fôlego. 

G1 Cinema