''Eu tenho meus motivos pra ser exatamente do jeito que eu sou, acredite.''

sábado, 30 de janeiro de 2010

A menina que roubava livros

     Quando a morte conta uma história você deve parar para ler...




                   EIS UM PEQUENO FATO
                          Você vai morrer
                          Isso preocupa você?
                          Insisto - não tenha medo.
                          Sou tudo, menos injusta.

    Assim começa nosso livro narrado pela morte.
    É só uma pequena história, na verdade, sobre, entre outra coisas:
  • Uma menina
  • Algumas palavras
  • Um acordeonista
  • Uns alemães fanáticos
  • Um lutador judeu
  • E uma porção de roubos.
      Liesel Meminger a protagonista da história encontra com a morte três vezes, mas consegue tapeá-la nesses encontros.
    A ceifadora de almas fica impressionada pela menina e decide contar sua história.
    A história se passa na Alemanha do III Reich em plena Segunda Guerra Mundial. É interessante ver a visão dos alemães (sempre vistos como os inimigos).
    Seu primeiro encontro com a morte é quando a ceifadora leva seu irmão dentro de um trem, é também quando Liesel começa sua "carreira" como roubadora de livros.
     O primeiro é " O manual do coveiro" que o coveiro deixa cair descuidadamente.
        Liesel está a caminho da Rua Himmel onde morará com seus pais adotivos (Hans e Rosa Hubermann), sua mãe ligada ao partido comunista sabe que não ficará livre por muito tempo.
     Tenho isso em comum com Liesel (pais adotivos), no caso dela encontrou carinho e conforto com seu pai, o enrolador de cigarros, o acordeonista, seu professor.
     Liesel não sabia ler, seu pai utilizava a parede do sotão como lousa, todas as noites era repintada de branco. Sua mãe lhe parecia dura (uma mãe má), mas ela aprendeu a amar apesar de ser chamada (carinhosamente) de saumensch.
     Durante essa tragetória na rua Himmel várias pessoas se tornam importante na vida de Liesel além de seus pais, Rudy Steiner, que queria ser Jesse Owens, com cabelo cor de limões e que também queria um beijo, e Max Vanderburg, o judeu escondido em seu porão, o homem com cabelos como plumas, sua amiga e incentivadora de leitura, a mulher do prefeito Ilsa Herman.
     Foi nos livros que Liesel viu a oportunidade de fugir de sua realidade. No abrigo durante os bombardeios ela compartilhava essa fuga com os moradores da Rua Himmel lendo para eles.
     Até que um dia ela escreveu seu próprio livro.
     Até que um dia as sirenes não tocaram para avisar sobre as bombas.
     Até que um dia a Rua Himmel foi devastada.
     Até que um dia só sobrou a menina que roubava livros nos escombros de um porão raso demais para suportar.


     Uma sobrevivente.
     Um acordeão quebrado.
     Um beijo tarde demais.
     Um livro perdido e devolvido em tempo.


     Venha comigo, quero lhe contar uma história. Vou lhe mostrar uma coisa.


     A nota final de sua narradora.
     - Os seres humanos me assombram.


PS: Espero que gostem da dica realmente é uma leitura fascinante e emocionante.
A sensação que me fica na alma após a leitura é coincidentemente igual a da morte... os seres humanos me assombram...
     Beijos a todos!!! Ótimo final de semana.





    

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A coisa que engatinha pela casa

Luiz Felipe Pondé

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Cem chicotadas para quem chamar aquilo que se chamava "filha" de "minha princesa"!

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LEMBRO DE uma coluna do Nelson Rodrigues, nos anos 60, na qual ele dizia que pior do que o marxismo, que "durará 15 minutos", era saber que em países da Escandinávia discutiam-se leis a favor das pessoas fazerem sexo em público, afinal, o direito ao prazer não deveria ter limites hipócritas.

Na realidade, o marxismo está durando uns cinco minutos a mais, agora na sua versão "anões bolivarianos e suas mulheres barbadas", que tem na figura do presidente hondurenho Zelaya a última tentativa de ampliar a trupe. Vale salientar que golpe de Estado (que tirou Zelaya do poder) é coisa feia (as oligarquias latino-americanas não são fáceis de engolir mesmo), mas ficar no poder pra sempre fazendo uso da versão tirânica da democracia ("el deseo del pueblo") é tão feio quanto.

Por falar em "circo", imagino o que os outros anões bolivarianos devem estar pensando agora, depois da vitória do Lugo (presidente do Paraguai) em cima do Brasil: "Pode ir pra cima do Brasil porque ele é um gigante frouxo".

O besteirol dos anos 60 pra cá aumentou muito, e agora muita gente acha que a verdadeira revolução está na posição sexual que você gosta na hora de transar. Claro, quase esqueci que a revolução também passa pelo tipo de animal que lhe apetece na cama. Não pensem que eu teria qualquer preconceito contra os seres humanos que "amam cães".

Ouvi dizer que, na Escandinávia (como sempre digo, desconfie de países onde a vida deu certo), um casal (ou algo parecido com o que se costumava chamar "homem e mulher") resolveu manter em segredo a identidade sexual da pequena coisa que engatinha pela casa (antes chamado de "filha ou filho") para que esta pequena coisa que engatinha pela casa possa "escolher seu gênero" quando crescer. Aliás, "gênero", na sua versão mais radical, significa que a humanidade não está divida na "díade macho-fêmea", mas sim que esta díade é construção ideológica.

Tal díade seria uma invenção, é claro, a serviço da opressão patriarcal por parte dos homens heterossexuais -acho que, nesse caso, as sacerdotisas de gênero incluem os negros e os índios heterossexuais como "bad guys". Há uma versão razoável dessa coisa de gênero que é iluminar os fatores culturais que compõem as identidades sexuais, mas estamos muito além do razoável aqui.

Imagine se o Estado desses países onde a vida deu certo resolver transformar a ideia idiota deste casal em lei e proibir aquilo que se chamava "pai e mãe" de dar carrinhos ou bonecas para aquilo que se chamava "filhos e filhas"? Já ouço os gritos das fascistas de gênero: cem chicotadas pra quem chamar aquilo que se chamava "filha" de "minha princesa"! Duzentas pra quem vibrar quando aquilo que se chamava "filho" transar pela primeira vez com aquilo que se chamava "mulher"! Já vejo a assistente social (ou seria "o assistente social"? Meu Deus, em qual letra deste texto estará escondida minha monstruosa limitação ideológica?) entrar nas casas investigando "os aspectos ideológicos" escondidos na cor da parede do quarto daquilo que se chamava de "filho ou filha" ou nos termos carinhosos utilizados por aquilo que se chamava "pai e mãe" para com sua pequena coisa que engatinha pela casa. É claro que os especialistas na "liberdade de gênero" produzirão alguma cartilha que será distribuída pelo Estado do país onde a vida deu certo.

O que viria nestas cartilhas? Sei lá, coisas brilhantes como quais brinquedos são ideologicamente seguros para serem dados para essas pequenas coisas que engatinham pela casa, quais palavras são "limpas" em termos de "liberdade de gênero" para serem usadas no café da manhã, quais historinhas seriam corretas para serem contadas na hora de dormir (neste caso específico, alguma onde aquilo que se chamava "mulher" engravida aquilo que se chamava "homem") ou quais sonhos seriam saudáveis de se ter na primeira infância.

Tudo bem, caras irmãs, alguns preconceitos são mesmo abomináveis. A teoria de gênero não é um absurdo em si, mas seu surgimento está misturado com o combate feminista, e sua militância é tão "científica" quanto a defesa de milagres pela igreja. Devemos, sim, combater a discriminação. Mas um besteirol como este de que a sexualidade seja "construída" pela ideologia, sem o aporte biológico, é tão idiota quanto achar que, se um dia um cometa bater na Terra, será por preconceito ideológico do universo contra nós.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Pó de giz

Rubem Alves

 


Meu revólver de brinquedo do tempo de menino não era a profecia de um futuro criminoso; era brincadeira



      OITO e trinta da manhã. Toca o telefone. Jornal "CBN Total". O Heródoto Barbeiro queria me entrevistar. Queria saber o que eu pensava de algo que estava ocorrendo com as crianças numa cidade do Rio Grande do Sul, cujo nome eu esqueci e que estava provocando reações espantadas, nervosas e indignadas entre educadores, pais e autoridades.
      Não havia teoria que explicasse o que as crianças estavam fazendo e, muito menos, que indicasse rumos de ação para pôr um fim naquela coisa perigosa e jamais imaginada.
      Tudo tinha a ver com uma brincadeira nova que as crianças haviam inventado: pegavam pó de giz e faziam de conta que o pó branco era cocaína. Faziam, então, pacotinhos e se punham a campo brincando, cheirando, vendendo e comprando. Brincavam de traficantes.
      Pais, professores e autoridades ficaram apavorados, certos de que essa brincadeira anunciava vocações criminosas embutidas: as crianças que brincavam com o pó branco corriam o risco de se transformarem em consumidores, traficantes e criminosos quando adultos.
      Acho que o barulho que os adultos estão fazendo é mais nocivo que o pó de giz. Digo isso a partir da minha própria experiência de menino. Naqueles tempos, a gente gostava de brincar com aqueles revólveres que imitavam os revólveres dos mocinhos e dos bandidos e que davam um estalo de espoleta quando se apertava o gatilho.
Mais sofisticadas eram as pistolas automáticas, que usavam não espoletas isoladas uma a uma, mas fitas em que as espoletas iam estourando automaticamente. Domingo de tarde, revólver na cintura, cara de valente, andando com as pernas abertas era uma felicidade.
      Mas nunca vi sombra de preocupação no rosto do meu pai e de minha mãe. O meu revólver de brinquedo não era a profecia de um futuro criminoso.
      Como nem sempre eu tinha dinheiro para comprar os meus revólveres, tratei de produzi-los artesanalmente usando bambus, elásticos de borracha, madeira e canos de guarda-chuva. Esses, sim, eram perigosos. Porque a gente enchia os canos metálicos com pólvora e era preciso calcular muito bem a quantidade de pólvora. Se a pólvora fosse demais, o cano podia explodir. Aconteceu com um amigo e, por causa disso, ele perdeu um olho.
      E o ponto alto da brincadeira era no fim da tarde, a meninada toda armada, mocinhos e bandidos. "Carmoni ai!", a gente gritava, para informar o outro que ele acabava de ser atingido por uma bala certeira. Ah! Vocês não sabem o que é "carmoni". "Carmoni" era a transformação linguística do que mocinho e bandidos falavam: "Come on...".
      Um brinquedo adulto semelhante à brincadeira com o pó de giz são os filmes de crime e violência. Ah! Como eles atiçam nossos impulsos sádicos. Vocês não podem imaginar quantas cabeças eu fiz rolar com minha afiadíssima espada de samurai depois de ver o filme "Shogun". Mas até hoje não decapitei ninguém, embora frequentemente o faça nas minhas fantasias.
      Eu gostava de caminhar por um parque pelas manhãs. Passavam por mim umas meninas com cara de devassidão para brincar de terem passado a noite em orgias sexuais e bebedeiras e com um cigarrinho pendurado nos beiços...
Isso acontecia e acontece todo dia em todos os lugares. Mas não me consta que pais, educadores e autoridades fiquem nervosos como ficaram diante da brincadeira com o pó de giz... 
     Tranquilizem-se. Elas não estão anunciando uma vocação de vida devassa. É brincadeira. Igual a das crianças que brincam com o pó de giz...

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O cochicho do demônio

Luiz Felipe Pondé





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Huxley acertou em sua visão de um futuro asfixiado pela vida científica e calculada
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NÃO ACREDITO na educação. Sou professor, do tipo que gosta do "chão da sala de aula", detesta as burocracias e os projetos pedagógicos para uma educação política e científica. Meu ideal de educação? Deixemos quem gosta de dar aula tocar a escola, esqueçam os burocratas que acreditam na educação. Desconfio das teorias pedagógicas e dos pedagogos.
Quando amamos o que fazemos, fazemos porque, em nós, aquilo é como um vício. Sinto falta das inquietações e das tentativas desastradas de colar nas provas. Em meio a esse alvoroço, trocamos ideias sérias sobre o sentido da vida e da morte e sobre o que cai na prova. E sobre quem está "pegando quem". E sobre quem é a menina "fácil" e sobre quem é o cara que não "pega ninguém".
No chão da sala de aula, não há muita distância entre o sentido da vida e a alegria de quem passa e a agonia de quem "dança". Tampouco há muita distância entre a crítica nietzschiana do ressentimento e quem é amado ou desprezado pelos colegas e, por isso, nunca é convidado pra festas. Ou entre Marx e o medo que cresce à medida que a formatura se aproxima e você sabe que logo se descobrirá tão barato quanto uma pasta de dente. Ou entre Freud e o quanto seus pais são infelizes e como essa infelicidade arruinou seus próprios recursos psicológicos diante desse labirinto infernal em que se transformou a dita relação amorosa.
Acreditar na educação é crer que com ela criamos novos seres humanos. Isso não acontece porque a maioria de nós professores, como todo mundo, ganha menos do que queria, é mais infeliz do que esperava, é mais sozinho do que sonhava, é muito menos importante do que imaginava. Esse não costuma ser um perfil indicado para "criar novos seres humanos" porque nele facilmente brota o rancor, o fracasso, a inveja e, por isso mesmo, a mentira.
A maioria de nós acabou como professor por falta de opção ou ilusão juvenil ou incapacidade de enfrentar o mercado profissional ou porque sonhava em ser um novo Marx ou um novo Freud. Quem crê que a educação cria novos seres humanos o faz para disfarçar seu cotidiano ordinário, é uma mentira contada a si mesmo todo dia.
O conhecimento é um risco e não uma ferramenta de alegria. Um fardo, uma dádiva de um Deus que parece torturar os covardes ou uma sequela de uma seleção natural sonambúlica e cruel. A educação é um ofício que nos prepara para nosso destino. Uma conversa infinita entre mortos e vivos sobre o enfrentamento desse fardo, que nos une a todos no mesmo tecido cego. Aldous Huxley, em seu monumental livro "Contraponto", nos fala do "cochicho do demônio".
O escritor inglês é mais conhecido por sua obra "Admirável Mundo Novo", aquela mesma que as almas superficiais pensam ter sido uma profecia fracassada. Não! Pelo contrário, Huxley acertou em cheio em sua visão de um futuro asfixiado pela burocracia, pela alegria e pela saúde, enfim, pela vida científica e calculada. Não se deixe enganar pela estética metálica das roupas ou da arquitetura, ou pelo sistema centralizador de seu mundo admirável.
Lembre que vivemos em shoppings nos entupindo de alegria, pensando em alimento saudável e calculando o colesterol, correndo em esteiras em academias, pesquisando parceiros que possam trazer saúde para os filhos que pretendemos ter, tomando remédios que nos deixem felizes como apenas os cegos conseguem ser, temendo o tempo todo o que esse monstro, "o poder informatizado do povo", decidirá sobre nossa vida, enfim, escravos ridículos da ciência e sua mania de sucesso fisiológico e de qualidade de vida.
No indivíduo, a ética da saúde total gera maus comportamentos à mesa (viramos aquele chato que sempre pergunta sobre os nutrientes do que nos servem). No coletivo, vira fascismo mesmo.
Mas o que é "o cochicho do demônio"? Huxley diz que a alma que a ele sucumbe torna-se estéril, morre esmagada por um "coração seco como poeira". O cochicho do demônio, que resseca a alma, é o hábito exaustivo de mentir para si mesmo.

O que Huxley denuncia em sua obra é a vida científica (ou a mentira que afirma a beleza de todos os homens) como a mentira moderna por excelência. É a crença de que finalmente chegamos a um porto seguro. A alma morreria se habitasse um porto seguro. Uma educação para a utopia da vida científica desumaniza. Deixa a alma seca como poeira. Um vaso limpo, sem sujeiras ou incoerências, de onde nada brota.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Gran Torino


LUIZ FELIPE PONDÉ


O diretor Clint Eastwood é um herdeiro da narrativa trágica norte-americana




CLINT EASTWOOD é o melhor cineasta dos EUA. Não vejo nenhum herdeiro de sua coragem. Quase todo mundo teme a opressiva esquerda cultural americana que faz de qualquer pessoa uma vaquinha de presépio. Eastwood é um herdeiro da narrativa trágica norte-americana: enquanto o homem enfrenta sozinho a vastidão do ódio e da indiferença, testemunha os detalhes da beleza solitária de alguns dos seus semelhantes.
A cultura contemporânea é vítima da mania de ver a si mesma como agente do "bem comum" e, neste movimento, acaba por repetir, a exaustão, a ideia de que o homem seja capaz de escapar do destino. Esta posição é presa de uma dedução falsa: (1) sou "progressista" (otimismo social), logo, (2) tenho coragem. A lengalenga politicamente correta, que só agrada aos amantes de clichês (o "outro" é bom, os gays são bons, mães solteiras são legais, a democracia é linda, o multiculturalismo é o Éden), estimula a covardia estética.
Qual destino? Nas palavras do personagem que Eastwood interpreta em "Gran Torino" (um carro modelo 1972, grande objeto de desejo no enredo do filme que carrega seu nome): "o mundo nunca foi justo". Afirmações como estas normalmente são entendidas, pelos amantes dos "clichês de presépio", como sendo contra a liberdade humana.
Nada mais ridículo, quando você está diante de um artista que rompe a ditadura da arte "progressista": Eastwood leva ao limite a consciência trágica de que o ser humano está enredado numa teia que o esmaga, mas nem por isso os valores humanos como coragem, amor, generosidade, valem menos, se você está disposto a enfrentar essa teia.
Esta é a máxima que escapa aos olhos cegos de medo de que, ao final, o homem seja uma paixão inútil. Seríamos nós uma sombra que se bate contra o vento que passa? Já nos "Os Imperdoáveis", Eastwood, relendo o faroeste (estilo estético que trata do mito americano da coragem que se bate com a fronteira do mundo), dizia que, afinal, a razão da transformação de um assassino (com um talento imbatível para matar) em um bom esposo e pai de família era a ausência do álcool.
Nada mais terrível, para uma cultura "de presépio", do que deduzir a diferença moral da presença ou não de uma mera substância química, ou seja, uma forma de materialismo miserável.
Em "Sobre Meninos e Lobos", ele marcará a diferença entre você ser ou não fraco: o personagem vivido por Tim Robbins é um fraco desde a infância, quando entra no carro dos pedófilos e permanece inseguro sempre, a ponto de escolher uma mulher que o entrega para a morte, enquanto o outro (vivido por Sean Penn), sempre acima de dramas comuns de consciência e que tem a filha assassinada, terá, ao final da trama, na sua deliciosa esposa, a reafirmação de seu valor como homem e pai de suas filhas.
Em "Menina de Ouro", Eastwood, ousadamente, descreve a "vida de uma santa" (a dedicada e generosa pugilista) destruída pela inveja e pelo azar: um golpe baixo a lança a tetraplegia e a eutanásia. Aqui ele toca o máximo da descrição de como o mundo esmaga a virtude e a beleza. Em "Gran Torino", Eastwood interpreta um velho herói da guerra da Coreia, morando entre asiáticos nos EUA. Gangues étnicas cortam o cotidiano do bairro decadente. Seus filhos são interesseiros e desinteressados pelo velho pai viúvo.
Os dois filhos da vizinha vietnamita serão seus parceiros na luta solitária contra a violência interna a comunidade asiática. Essa menina corajosa e esse menino tímido, mas resistente à violência, serão seus verdadeiros herdeiros. O velho herói percebe, sempre nos detalhes, a virtude de ambos e se põe ao lado deles. Eastwood é o velho "conservador" que se revela capaz de superar as "diferenças" em nome da resistência que esses adolescentes oferecem a violência de seus irmãos de sangue. Relendo as velhas cenas de duelos, Eastwood define a essência do heroi: quem quer verdadeiramente vencer o mal, não pode temer a morte. O filme supera o maniqueísmo bobo que a cultura barata da esquerda americana nos obriga a respirar. Para além da falsa oposição entre reacionários e progressistas, o cineasta aponta para o verdadeiro nó da condição humana, hoje e sempre: quem tem coragem de enfrentar o mundo sem ser parte do rebanho?
Ao final, o jovem vietnamita passeia com seu troféu: o Gran Torino, o símbolo da nostalgia de um tempo onde as pessoas sabiam que o destino é sempre imperdoável.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Viva o Brasil Capitalista!!

LUIZ FELIPE PONDÉ   
SERIAM OS portugueses "nossos libertadores"? Essa ideia é fruto da leitura de um ótimo livro (e fácil de ler) que chegou às minhas mãos há algumas semanas: "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil", de Leandro Narloch (Ed. Leya).

Apesar de não ser um livro acadêmico (e nem pretender sê-lo), mas jornalístico, o "Guia" é bem documentado com notas bibliográficas fartas. Já o li há algumas semanas, mas esperei para ver sua repercussão. Quase nula. Claro, tratando-se de uma singular heresia perdida em meio ao mar de unanimidades, só podia sofrer com o silêncio. Ao contrário do que gosta de dizer de si mesmo, o mundo da cultura é preconceituoso, preguiçoso na pesquisa, repetitivo nas ideias, dado a clichês, adora modas, detesta diferenças que fazem diferença, enfim, é quase sempre sectário.

Abaixo, algumas pérolas para sua reflexão. Claro que você pode jogar tudo fora em nome da sacralidade de sua visão da história do Brasil. Uma ideia central do "Guia" é que professores de história costumam pregar suas crenças abertamente em sala de aula em detrimento de opiniões contrárias as suas, mas amplamente documentadas, porque vêm a si mesmos como combatentes da redenção da (sua versão de) humanidade. Quer fazer um teste? Experimente propor algumas das questões apontadas abaixo em um dos seus jantares inteligentes.

A melhor coisa que aconteceu com os índios brasileiros foi encontrar com os portugueses. A população que cá estava vivia num isolamento monstruoso do resto da humanidade e por isso estava quase na idade da pedra. Além de não conhecer a roda, sua agricultura não ia além de mandioca e similares. Matavam-se entre si, como, aliás, de costume entre nós seres humanos, e tinham um "sistema" de caça que implicava queimar continuamente a floresta. A fim de obrigar suas vitimas seguirem para o local onde as matariam, nossos ancestrais nativos tocavam fogo na floresta de modo impiedoso, sem nenhuma sensibilidade para com o ambiente.

Muitos deles aderiam à vida "portuguesa" abertamente, assumindo seus nomes e hábitos. E por quê? Porque, sendo humanos como nós, fugiam da dor e buscavam uma vida melhor, simples assim. No fundo, nossa relação "de culpa" com essas culturas se dá apenas como infeliz má consciência de nossa parte, e, por isso, queremos que elas continuem a existir como num parque temático que demonstraria nossa redenção, ao mesmo tempo em que as protegeria de nossa evidente violência cultural.

Não há do que se redimir: quando culturas diferentes se encontram, vence a mais forte, isto é, com maior técnica, maior mobilidade para seus membros, enfim, com maior oferta de escolhas e esperanças.

E os escravos? Além de que provavelmente Zumbi repetia os hábitos ancestrais africanos (violência, hierarquia cruel, estupros, roubos), sabe-se que a escravidão tinha a concordância de muitos povos na África. E por quê? Porque era um hábito comum, muito antes dos malvados "brancos" lá chegarem. Muitos escravos libertos aqui, além de comprar escravos quando livres, iam trabalhar no comércio de escravos a fim de ficarem ricos. Muitos negros na África lutaram contra o fim do comércio de escravos proposto pela Inglaterra.

O cruel golpe de 64 salvou o Brasil das mãos da esquerda que não era na sua maioria uma amante da liberdade. Se a esquerda tivesse vencido a batalha, nos teria mergulhado em regimes semelhantes ao chinês, ao soviético e ao de Pol Pot (Camboja).

Por isso mesmo, ela teria caçado de modo brutal a tal liberdade que dizia defender. Esse fato é tão óbvio que devia nos levar às gargalhadas. De Prestes (o "Guia" documenta de modo pontual o caso da menina Elsa, morta brutalmente por Prestes e seus asseclas) aos seus descendentes dos anos 60 e 70, roubos e assassinatos foram cometidos em nome desta farsa. Mesmo a famosa "coluna Prestes", por onde passava, matava, estuprava e roubava, como qualquer bandido. Nada disso é racista, ou nega o sofrimento das vítimas, ou a violência ocorrida, apenas amplia a reflexão histórica.

Enfim, a verdade é quase sempre banal: a vida é imperfeita e o ser humano muitas vezes risível. Sim, isso muitas vezes, me tira a esperança. Mas não sou um niilista. E por quê? Porque não sou preguiçoso. Muitas vezes, gostar de trabalhar é a última fronteira contra o desespero. Um otimista preguiçoso não vale nada.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Elvis Presley

Hoje 8 de janeiro seria comemorado 75 anos de Elvis Presley. Tenho poucos ídolos... e ele é um deles. Lutou, conseguiu sucesso, talvez não felicidade. (Exemplo de que somente o dinheiro não faz a pessoa feliz).

Deixo aqui minha homenagem ao grande Rei do Rock!! Posto que ninguem conseguiu substituir.... Elvis não morreu!! Ao menos para mim....

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Anticristo - Lars Von Trier


LUIZ FELIPE PONDÉ

O terror no Éden


"Anticristo", de Lars Von Trier, é um filme sobre o mal. Com o mal não se brinca, respeita-se




 


"ANTICRISTO", DE Lars Von Trier, é um grande filme. A acusação de sexista é típica da superficialidade que assola a atual crítica, antes de tudo por falta de repertório, no caso específico, repertório teológico. Von Trier não teme a patrulha ideológica. É preciso coragem para enfrentar o aniquilamento da inteligência levado a cabo por esses gestores da "mediocridade correta". A ridícula irritação por parte de setores da mídia, cobrando do diretor uma justificativa, é um sintoma. Parte da teologia contemporânea é responsável por essa falta de repertório, na medida em que passou a ensinar uma salada de profetismo iluminista e marxismo espiritual, em detrimento da riqueza teológica de autores como Agostinho ou Lutero.
Além dos elementos que marcam o ambiente do mito da queda, a dedicatória feita ao cineasta-teólogo russo Tarkovski já é uma forte indicação da motivação teológica. Já em filmes como "Dogville" essa temática aparecia centrada na personagem principal, Grace, uma referência ao conceito cristão de "graça divina". O "filósofo" Thomas Edison Jr. (ele mesmo um canalha) pergunta aos seus concidadãos: "Por que somos tão ingratos?". Todo o comportamento dos habitantes da vila remeterá a essa ingratidão para com a boa Grace, ingratidão esta materializada nas torturas a que ela será submetida ao longo de sua via dolorosa.
O "Anticristo" é um filme sobre o mal. Com o mal não se brinca, respeita-se. Não se faz terapia com o mal, esse alerta aparece inúmeras vezes na boca da personagem feminina, que pressente sua tragédia. É ridícula a arrogância do marido diante do processo que está em curso na alma de sua mulher. O filme se abre com a queda do filho para a morte enquanto o casal goza deliciosamente. Ao final, saberemos que ela, de olhos abertos em meio ao orgasmo, vê o filho saltar para a morte, mas opta pelo orgasmo. Mas o que está de fato acontecendo com ela? Seria um "luto normal", como seu marido terapeuta supõe? Não, a morte do filho é a consequência e não causa de sua agonia.
Seu orgulho "científico" o impede, até a sequência final do filme, de perceber que ela não sofre "simplesmente" devido à morte do filho, mas sim pela descoberta do mal que a acometeu desde sua passagem no último verão, sozinha com seu filho, pela casa deles no bosque do Éden, e que sua "escolha pelo sexo" em detrimento do filho a despertou para o pesadelo. Foi esse mal que a levou deixar seu filho morrer. O desejo, habitado pelo mal, se torna uma máquina de tortura contínua, levando o mundo à "descriação" e à desordem.
Não é por acaso que um dos "capítulos" do filme se chama (fato descrito por um dos animais deformados no Jardim do Éden de Von Trier): "Aqui reina o caos". Como aparece no roteiro sua transformação numa personalidade habitada pelo mal? Além da opção pelo orgasmo em detrimento do filho e as terríveis torturas que ela causa no corpo do seu marido e no seu próprio, a descoberta que ele faz ao ler a carta do instituto médico legal após a autópsia do filho é a gota d'água. Os médicos identificam uma deformação nos pés da criança. E por quê?
Durante o último verão, ela deveria escrever sua tese, cujo tema era criticar a suposição medieval de que a maldade seria intrínseca à natureza feminina. Em vez disso, ela descobre que sua natureza era intrinsecamente má: "A natureza é o templo de Satanás", ela diz. Ela descobre o "prazer" de calçar os sapatos no filho invertendo os pés, e assim causar um enorme sofrimento à criança. Só diante das torturas a que é submetido por ela e dessa descoberta o marido muda de posição e percebe que deve levar a sério a fala de sua mulher: "Sou má". Não vou contar o final do filme.
Mas é importante saber que estamos diante de alguém que conhece a antropologia cristã, fruto de muita reflexão e não de mero blablablá ideológico. Pensamos que apenas o darwinismo descreve um cosmo feito de horror. Mas isso não é verdade. Há muito tempo que se sabe que o mundo pode ser um roteiro de horror. O que Von Trier capta é a atmosfera que nosso casal mítico Adão e Eva experimentou após a queda. Não um jardim do Éden onde a natureza é essa criação romântica sem dor, mas uma escura câmara de terror, cheia de gemidos e solidão. A personagem feminina carrega em si toda a tragédia que é ter sido aquela que pressentiu o hálito do mal no mundo e em si mesma. Façamos silêncio em respeito a ela. 

PS: Um amigo meu desisitiu de assisti-lo logo nas primeiras cenas, o filme é forte impactante, psicológico, mas vale a pena assisti-lo e análisa-lo. Poderão ler mais sobre no blog de um amigo que também postou sua visão sobre o mesmo.
http://edsonmoreira6.blogspot.com/2009/11/lars-von-trier-e-o-seu-anticristo.html

Um grande beijo a todos, espero que gostem da indicação.
Tânia

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Dia da saudade....

Hoje é um dia que meu coração se entristece... de saudade...
Hoje... seria o aniversário de minha mãe... como já citei em textos anteriores a pessoa que mais me faz falta nessa existência... 
Mulher forte, de fibra e que era meu "chão", meu "alicerce", sigo a vida agora como se enfiasse os pés na areia fofa, sem sustentação alguma.
Um beijo cheio de amor e saudade dessa sua filha "verdadeira" que lhe ama muito. 
Tânia...

domingo, 3 de janeiro de 2010

Ótimo texto para iniciar 2010!!  Como já citei em textos anteriores não sei se a autoria deste é mesmo de Arnaldo Jabor, se não for... que o autor se pronuncie que lhe dou os créditos....
Um maravilhoso 2010 a todos!!!
Uma frase de um filme que adorei para iniciarmos o ano...


"DAQUI A VINTE ANOS VOCÊ VAI SE SENTIR MAIS DECEPCIONADO PELAS COISAS QUE NÃO FEZ DO QUE PELAS COM QUE EFETIVAMENTE FEZ. POR ISSO SOLTE AS CORDAS. DEIXE QUE OS VENTOS ALÍSIOS ENCHAM SUAS VELAS. EXPLORE. SONHE. DESCUBRA."
Do filme.. P.S. EU TE AMO.

PS:...rs Essa é minha mais nova tatoo (henna claro), as iniciais dos seres que amo...




     Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:

     - 'Ah, terminei o namoro... '
     - 'Nossa, quanto tempo?'
     - 'Cinco anos... Mas não deu certo... Acabou'
     - É não deu...?
     Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
     E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.
     Não acredito em pessoas que se complementam.           
Acredito em pessoas que se somam.
     Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
     E não temos esta coisa completa.
     Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.
     Às vezes ele é bom de cama e carinhoso, mas não é fiel.
     Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
     Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.
     “Tudo”, nós não temos.
     Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.
     Pele é um bicho traiçoeiro.
     Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.
     E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
     Acho que o beijo é importante... E se o beijo bate... Se joga... Se não bate... Mais um Martini, por favor... E vá dar uma volta.
     Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.
     O outro tem o direito de não te querer.
     Não lute, não ligue, não dê pití.
     Se a pessoa está com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.
     Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
     O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.
Nada de drama.
     Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, recessão de família?
     O legal é alguém que está com você por você.
E vice versa.
     Não fique com alguém por dó também.
     Ou por medo da solidão.
     Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.
     E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.
     Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?
     Gostar dói.
     Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração.
Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo.
     E nem sempre as coisas saem como você quer...
     A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
     Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta.
     Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.
     Na vida e no amor, não temos garantias.
     E nem todo sexo bom é para namorar.
     Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.
     Nem todo beijo é para romancear.
     Nem todo sexo bom é para descartar. Ou se apaixonar. Ou se culpar.
     Enfim... Quem disse que ser adulto é fácil?


Arnaldo Jabor